sábado, 2 de julho de 2011

Hugo Chávez prepara golpe em favor do irmão.

Em Cuba há mais de 20 dias, o venezuelano Hugo Chávez pode estar aproveitando a estadia não só para tratar o câncer, mas também para aprender algumas lições de ditadura com Fidel Castro. Desde o início dos rumores sobre a saúde do caudilho, especialistas ficaram intrigados com um fenômeno curioso: o aparecimento do irmão mais velho do tiranete, Adán Chávez, na vida pública. “Na ausência de Chávez, chama a atenção a disputa existente entre o setor civil radical e o setor militar do governo. Porém, o fenômeno mais curioso a que temos assistido recentemente é o aparecimento de Adán Chávez no cenário político”, diz Sadio Garavini, doutor em ciências políticas e ex-embaixador venezuelano em diversos países. “Adán começou a dar declarações à imprensa, a expor-se muito mais. Parece que há um esforço para criar-se um sucessor, seguindo o modelo dos Castro, (no qual Raúl sucedeu a Fidel após o anúncio de que este estava doente)”.
A esperança de que um possível afastamento de Chávez devolvesse à Venezuela a chance de viver uma democracia se esvai após uma observação mais cuidadosa. Sem sucessores óbvios ou opositores fortes para Chávez, um agravamento da doença ou uma eventual morte do ditador mergulhariam a Venezuela em um profundo vácuo de poder. Considerando esse cenário, só o que resta à poderosa - e corrupta - família Chávez é a possibilidade de esculpir um sucessor que lhes permita manter seus privilégio, no caso, Adán.
Sucessão - "Os principais conflitos acontecem dentro das forças do governo, entre diferentes facções que disputam para ver quem será o sucessor", avaliou Moisés Naím, ex-ministro venezuelano, economista do Carnegie Endowment, em entrevista à rede CNN nesta sexta. A avaliação faz bastante sentido, já que a oposição, como uma força única, oferece pouco “risco”, apesar de ter ganhado significativo espaço no cenário político desde as últimas eleições legislativas.
A maior força que mantém unidos partidos e movimentos oposicionistas no bloco Mesa da Unidade Democrática é justamente a rejeição a Chávez. “A oposição na Venezuela é extremamente heterogênea. Se tirarmos esse inimigo comum, que é Chávez, ela irá se fragmentar ainda mais”, avalia Ricardo Gualda, especialista em estratégia da comunicação chavista e professor da Universidade de Columbia. E com opositores e governistas se digladiando para decidir quem despontará como candidato forte, Adán teria mais tempo e espaço para fortalecer a própria imagem e se aproveitar do nome que carrega.
Adán - Se a Venezuela anda mal nas rédeas de Hugo Chávez, a situação poderia ser ainda pior com seu irmão - um cenário bastante difícil de imaginar, mas não impossível. “O irmão mais velho é ainda mais radical que Chávez”, diz Garavini. E, recentemente, Adán comprovou que a opinião do cientista político é acertada. No dia 26 de junho, quando os boatos sobre a saúde de Chávez já estavam em ebulição no mundo todo, Adán veio a público e fez a seguinte declaração, citando o guerrilheiro Che Guevara: “O processo bolivariano começou pela via eleitoral. Mas seria imperdoável que a gente se limitasse às vias eleitorais e nós não víssemos outras maneiras de luta, inclusive, a luta armada”.
Físico de formação e político de carreira, Adán já ocupou o cargo de ministro da Educação no governo do irmão, de 2007 a 2008. Atualmente, é governador do estado de Barinas. Felizmente, o irmão de Hugo Chávez não demonstrou ter sua perigosa habilidade de manipular as massas com um discurso populista. Mas há o risco de que ele se aproveite do legado de Chávez, especialmente se o ditador morrer em breve.
“O melhor cenário para a Venezuela é aquele em que Chávez é derrotado nas urnas, devido a seu governo ineficiente e corrupto. É do interesse do país que o caudilho não morra enquanto sua popularidade for alta entre as classes baixas e ele puder ser transformado em um mártir populista, como Juan Domingo Perón, na Argentina. Pois quem se beneficiaria da lenda criada em torno do seu nome seria Adán. Um cenário desastroso”, argumenta Garavini. “Por pior que seja Chávez, há algumas razões, além das humanitárias, para não torcermos por sua morte.”

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