Por ora, Christopher Garman, da Eurasia Group, não
enxerga chances efetivas de Temer sair antes de 2018.
Uma hecatombe parece próxima de Brasília, após a prisão de Eduardo Cunha e da
Operação Métis, lançada na sexta pela Polícia Federal e que atinge diretamente
Renan Calheiros. Há quem veja, nessa conjunção corrosiva de fatos, o começo da
derrocada de Michel Temer.
Quem pensa assim está muito enganado. Esta é a avaliação do cientista político
Christopher Garman, chefe da área de pesquisas da Eurasia Group, uma das mais
respeitadas consultorias de risco político do mundo. Tanto que, durante a
semana, a Eurasia cortou de 20% para 10% as chances de Temer não concluir seu
mandato.
Nesta conversa com O Financista, Garman explica por quê:
Financista: Há quem diga que a prisão de Cunha representa o início do fim do
governo Temer. A Eurásia, contudo, vê apenas 10% de chances de Temer não
terminar o mandato. Por quê?
Christopher Garman: Discordamos da avaliação de que a prisão de Cunha, de
fato, possa ser o início do fim do governo Temer. A derrubada de um presidente
depende de vários fatores. Não provém só de uma acusação. O impeachment de
Dilma, por exemplo, ocorreu não só por causa de acusações que vieram da Lava
Jato e de burlar a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas por causa de uma
tremenda crise econômica e social, e uma crise de confiança na sua liderança, tanto
no setor privado, quanto na classe política. E a provável delação de Cunha
acontece em um momento totalmente distinto. Temer conta com o apoio maciço do
Congresso, que enxerga nele a única maneira de construir uma ponte até 2018.
Quanto mais o tempo passar, sem que Temer sofra uma denúncia grave de
corrupção, e quanto mais apoio que ele angariar, menores serão as chances de
ele não terminar o mandato.
Financista: Mesmo se isso se somar à Operação Métis, que atinge diretamente
Renan Calheiros?
Garman: Não, não abala. O fato é que teremos muitas denúncias pela frente.
Mas, para derrubar esse governo, serão necessárias evidências muito fortes
contra Temer, a ponto de ele perder as condições de governar.
Financista: A Eurásia afirma que o Congresso é o que corre mais riscos com a
prisão de Cunha. Isso vai atrapalhar a tramitação das reformas?
Garman: A Lava Jato não vai impactar as reformas no curto prazo. Vemos
isso como um risco mais para 2017. Primeiro, porque a investigação sobre
políticos demora um pouco. Não só no julgamento no Supremo que está andando,
mas também pelo tempo necessário de Cunha negociar uma delação premiada com os
procuradores. Segundo, o próprio êxito de Temer nas reformas, que levaria a
economia a voltar a crescer no ano que vem, deve diminuir o senso de urgência
no Congresso. Logo, votar contra o governo em um ambiente de crescimento
econômico carrega um peso menor.
Financista: Temer será capaz de aprovar a reforma da Previdência, uma pauta
impopular, em um momento em que o Congresso teme a delação de Cunha?
Garman: Achamos que alguma versão da reforma da previdência deve ser
aprovada, mas nossa convicção sobre esse resultado não é alta, e o governo terá
que diluir boa parte de sua proposta. Existe um certo consenso no Congresso
para estabelecer uma idade mínima, mas os congressistas terão receio de aprovar
medidas com um impacto mais expressivo no curto prazo, quando deputados e
senadores estarão mais de olho nas eleições de 2018. Significa que aprovar a
desvinculação do mínimo será bem difícil. Negociar tudo isso em um contexto de
lideranças sob investigação é ainda mais difícil.
Financista: Neste cenário, o que os brasileiros podem esperar, de fato, do
governo Temer até 2018?
Garman: No fundo, o governo Temer vai representar uma agenda reformista
bem importante, mas que será incompleta. Logo, quem for eleito em 2018, muito
provavelmente, terá de continuar uma agenda de reformas nada fácil.
* Por Márcio Juliboni