O corpo de mais uma jovem é encontrado, desta vez em SP, com sinais de violência sexual. Tais crimes em que a vítima, além de humilhada no mais alto grau, vê a sua morte de frente, me afetam enormemente, pois sei bem o que elas viveram. Quando preso, em 68, por circunstâncias próprias do momento, imaginei e vivenciei o meu fim. É o pavor dos pavores, algo absoluto, inesquecível. Dói-me saber que tantas pessoas vítimas de vários tipos de crimes passam por isso e... têm sua vida interrompida, deixando uma herança eterna de lamento e dor entre os seus entes queridos. Além da falta, imagino que o que mais faz sofrer é pensar a dor, a impotência, o desespero do ente querido. É um momento em que o mal reina absoluto.
E a Psicologia nos diz, leitor, que os autores de tais crimes os praticam, justamente para ver o desespero e a dor nos olhos de suas vítimas, sobretudo quando ela pressente o seu fim. Aí está o seu gozo perverso, que pede, sempre, repetição. E, daí, sua denominação como “serial killer”. Triste é ainda saber que a perversão, em seus diversos graus, não se inventa, tal como na pedofilia. Tudo tem sua história, sua herança familiar e, quem sabe, genética. Mas a reflexão que desejo compartilhar com o leitor não seria investigativa sobre a gênese da maldade instalada em algumas almas, tendo ainda como sua marca, o “dom da militância”, da reprodução. Geralmente o perverso de hoje foi uma vítima no passado, como se fora ele um “zumbi”.
O que desejo é, sabendo-se que as piores, mais nefastas e mortíferas perversões são irreversíveis, lamentar que nossas leis não consigam manter tais elementos afastados da sociedade. Ou seja, de mim, de Você, leitor, de nossos filhos, de nosso vizinho. Presos, no máximo em 7 anos estarão na rua. Conforme a perversão, são lideres, narco-traficantes que, nos presídios, têm encontrado condições ótimas de “trabalho”. Tais fenômenos, seja o retorno de “príncipes da maldade” ao convívio social ou participação no tráfico de drogas e todos os crimes a ele associados, sabida e escandalosamente são facilitados por lei, mais exatamente pela Lei das Execuções Criminais. Estas foram estabelecidas, construídas como se fora para proteger presos políticos em um estado ditatorial. Portanto, seriam uma herança maldita da ditadura? Mas por quanto tempo ainda teremos que sofrer as conseqüências dessa aberração, dessa perversão legal? Quando nossos legisladores, nossa prestigiosa OAB descobrirão essa maldade que a tantos faz sofrer? O que terá que acontecer, em termos de desgraça coletiva, para a situação ser encarada por quem pode modificá-la? Ou seríamos nós um povo perverso, masoquista, que goza na posição de vítima e, portanto, sem recuperação?
* Texto do psicanalista Valfrido M. Chaves, por e-mail, via resistência democrática
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