Foto: Washington Alves-AE
Por Hugo Marques, na IstoÉ:
Nos próximos dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) começará a analisar denúncias recebidas do Ministério Público de Minas Gerais, da Procuradoria da República e da Polícia Federal que envolvem o senador Clésio de Andrade (PR-MG) no desvio de aproximadamente R$ 50 milhões do Sistema Nacional de Transporte (SNT). O Sistema é comandado pelo senador há mais de dez anos e engloba a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o Serviço Social do Transporte (Sest), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) e o Instituto de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Qualidade em Transportes (Idaq), que recebem contribuições sindicais de todo o País para a realização de cursos e outras ações em benefício dos trabalhadores do setor.
Os promotores e procuradores que apuram o caso afirmam que o rastreamento do dinheiro do Sistema Nacional de Transporte indica que o senador cometeu os crimes de improbidade administrativa, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. Na última semana, ISTOÉ teve acesso a mais de 800 páginas dos processos que correm em segredo de Justiça.
Os documentos revelam, de acordo com os promotores, uma intrincada engenharia contábil que teria sido montada pelo senador. A maior parte do dinheiro desviado, segundo parecer do Ministério Público de Minas, foi enviada do Idaq, do Sest e do Senat para o Instituto João Alfredo Andrade (Ijaa), uma entidade privada que tem entre seus sócios, o próprio Clésio de Andrade, seu pai e a irmã, Cléia.
Uma das ações avaliadas pelo STF tem origem na 33a Vara Cível de Belo Horizonte. Seu relatório final tem 18 páginas e é assinado por sete promotores do núcleo de Defesa do Patrimônio Público. Depois de fazer um rastreamento bancário envolvendo uma dezena de pessoas físicas e jurídicas, os promotores constataram que entre janeiro de 2003 e agosto de 2004, o Idaq recebeu R$ 46 milhões provenientes de arrecadação feita junto aos sindicatos do setor. “Desse dinheiro, R$ 31 milhões foram sacados na boca do caixa, sem que houvesse descrição da destinação dada ao dinheiro”, diz o promotor Eduardo Nepomuceno de Souza. “Não se tem notícia de cursos, campanhas ou outras ações promovidas pelo Idaq naquele período”, completa Souza. Um relatório sigiloso do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, datado de 3 de junho de 2004, ao qual ISTOÉ teve acesso, registra que uma empresa chamada Veículos Industriais do Brasil S.A., recebeu R$ 3,7 milhões do Idaq em uma conta do Unibanco em São Paulo. A investigação feita sobre essa empresa revela como o senador usa pessoas físicas e jurídicas para que o dinheiro do Sistema Nacional de Transporte acabe em suas mãos.
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