Em mais uma demonstração de divergência, o comando do PSDB se recusou a referendar uma carta divulgada ontem pelo presidente do conselho político do partido, José Serra, com duras críticas ao governo Dilma Rousseff. A ideia era que o documento fosse o primeiro fruto do colegiado criado pelos tucanos para acomodá-lo no comando partidário. Serra tentou viabilizar a divulgação pela sigla. Sem resposta, publicou -atribuindo-o ao conselho político em seu site.
"Tentei construir um consenso sobre a matéria, mas não tive tempo hábil ", argumentou o presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE). Guerra afirmou ainda que o PSDB não pode assumir a autoria da carta sem aprovação da Executiva Nacional. "O partido não tem uma manifestação sobre isso", disse.
Em tom acima do adotado por grão-tucanos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o documento diz que o governo Dilma é marcado por "incompetência e autoritarismo". "E o PSDB não renunciará à denúncia desses atos", diz a carta, que foi intitulada "A nossa missão".
Serra apresentou o texto aos integrantes do conselho na última quarta-feira, às vésperas da primeira reunião com FHC, o governador Geraldo Alckmin e Guerra. Aécio Neves, que integra o colegiado, mas está de repouso por ter caído de um cavalo, recebeu uma cópia do documento já pronto. Procurado pela reportagem, o ex-governador disse, via assessoria, que o texto "não foi objeto de votação porque foi apresentado no mesmo dia [do encontro]. Mas os quatro que estavam na reunião gostaram muito".Serra acrescentou ainda que não fez o texto para que fosse votado, mas para servir de "base para discussão".
Para tucanos, o teor da carta contraria a estratégia de restaurar a imagem de FHC e reduzir o índice de rejeição à sigla, especialmente pela divulgação ocorrer depois de a presidente Dilma reconhecer a contribuição do ex-presidente para o país, em felicitação pelos 80 anos. No último parágrafo, há uma autocrítica à sigla. Ele diz que o PSDB tem "um só possível inimigo: a desunião interna". A Folha apurou que o trecho foi amenizado. Na versão original, a expressão "possível" não existia.Logo após, o texto aponta um dos motivos da desunião, em referência ao principal ponto de tensão entre Serra e Aécio Neves: a "antecipação das decisões sobre alianças e candidaturas em 2014".
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