Lula e Dirceu se pintam para a guerra e resolvem ressuscitar um “grande inimigo”: a imprensa!
Luiz Inácio Lula da Silva e José Dirceu resolveram pintar todas as suas caras para a guerra. Já estamos em ano pré-eleitoral, o PT bate cabeça, e companheiros são vítimas de fogo amigo. A oposição é pequena demais para criar constrangimentos ao governo, como se nota. As dificuldades todas do Planalto estão na própria base aliada, em especial no próprio PT, mas a Soberana não tem jogo de cintura para fazer política. Lula e Dirceu reuniram a petistada com três propósitos:
a) apelar à unidade do partido contra os terríveis inimigos;
b) satanizar a oposição, que esataria, mais uma vez conspirando;
c) ressuscitar a guerra contra “a mídia”, tão bem-sucedida no passado.Vivemos uma era em que a militância de alguns estimula a covardia de outros.
a) apelar à unidade do partido contra os terríveis inimigos;
b) satanizar a oposição, que esataria, mais uma vez conspirando;
c) ressuscitar a guerra contra “a mídia”, tão bem-sucedida no passado.Vivemos uma era em que a militância de alguns estimula a covardia de outros.
Eu sei o quanto apanhei nos últimos anos por ter reafirmado aqui, a cada dia, a herança bendita do ex-presidente. Defender FHC está longe de ser a coisa mais difícil que faço. Muito mais trabalhoso tem sido, por exemplo, ter de lembrar ao Supremo que existe uma Constituição no país e que cabe, sim, a um tribunal constitucional tomar decisões que interpretem o espírito das leis, mas não lhe cabe, de modo nenhum, decidir contra a letra explícita da própria Carta ou dos códigos legais cuja caducidade ainda não foi declarada. Isso, sim, tem sido difícil. Apontar as óbvias conquistas de FHC é bico, ainda que, ao longo dos anos, tenha sido uma atividade quase solitária — não nestes últimos dias, depois que a mensagem de Dilma foi tornada pública.
A farsa petista só se constituiu porque se permitiu que o partido e o governo Lula mentissem muito sobre si mesmos e, acima de tudo, sobre seus adversários. Há casos, em que setores da imprensa foram mais do que meros veiculadores da farsa; atuaram como partícipes.
Há, sim, os que se ocupam de fazer jornalismo e de lembrar os princípios de independência que devem orientar a imprensa. E, por isso mesmo, casos como a verdade sobre os aloprados ou o espantoso talento de Antonio Palocci para ficar rico vêm a público, para irritação dos companheiros.
Luiz Inácio Apedeuta da Silva esteve ontem no Encontro das Macro Regiões Estaduais do PT, na cidade de Sumaré, em São Paulo. Estava acompanhado de José Dirceu, aquele que a Procuradoria Geral da República diz ser chefe de quadrilha, o subcomandante do mensalão. Ambos fizeram, vocês viram num post abaixo, a defesa da administração de Campinas, depois de cobrados em cena aberta por Dr. Hélio, o prefeito. Só lhe faltou dizer: “Eu me lembro de vocês; vocês se lembram de mim?” Sim, eles se lembravam. E usaram o exemplo pessoal para provar como o mundo pode ser injusto, e os adversários, perversos.
Seguindo a linha de defesa do prefeito, atacaram o PSDB e politizaram a questão. Lula se disse de “saco cheio” de ver “companheiros acusados” sem provas etc e tal. Digamos que fosse verdade. A boca torta pelo uso do cachimbo desmoralizaria a sua crítica. De toda sorte, a verdade sobre o caso dos aloprados, por exemplo, revelada ontem por VEJA, demonstra que o PT é realmente singular: se não existem “provas” contra seus adversários, eles se encarregam fabricá-las. O método é tão disseminado que pode até vitimar um companheiro de partido, como aconteceu no Mato Grosso contra Serys Slhessarenko.
A unidade contra o inimigo é o trivial ligeiro de qualquer batalha. É pouco. Então foi preciso investir numa velha fantasia, que andava ausente dos discursos nesses quase seis meses de governo Dilma: o ataque à imprensa. A qual imprensa? Àquela que é subordinada do petismo e que decidiu ressuscitar o clima Don & Ravel e fazer a versão “jornalística”, e infinitamente mais pobre, de “Porque me ufano do meu país”, levando Afonso Celso a se remexer na tumba? Não! Lula e Dirceu atacam a imprensa que cumpre o seu papel.
A unidade contra o inimigo é o trivial ligeiro de qualquer batalha. É pouco. Então foi preciso investir numa velha fantasia, que andava ausente dos discursos nesses quase seis meses de governo Dilma: o ataque à imprensa. A qual imprensa? Àquela que é subordinada do petismo e que decidiu ressuscitar o clima Don & Ravel e fazer a versão “jornalística”, e infinitamente mais pobre, de “Porque me ufano do meu país”, levando Afonso Celso a se remexer na tumba? Não! Lula e Dirceu atacam a imprensa que cumpre o seu papel.
O Babalorixá voltou à ladainha de seus oito anos de mandato. Fosse pela imprensa, disse aos petistas em delírio, não teria deixado o governo com 87% de aprovação popular. Só se esqueceu de dizer que essas medições de popularidade e sua própria divulgação foram feitas pela… imprensa. O Apedeuta deu a receita, segundo relato de O Globo:
“O ex-presidente falou da estratégia de seu governo de privilegiar os pequenos veículos de comunicação do interior do país, as chamadas mídias regionais, para se comunicar com o eleitorado. ‘Consegui criar outra forma de conversar com as pessoas que não fosse através dos grandes meios de comunicação, passando a falar nas rádios e jornaizinhos locais. Essa gente (do interior) não lê os grandes jornais, o que vale é a imprensa local, a rádio local”, ensinou.
O petista lembrou que essa bem sucedida mudança na comunicação oficial envolveu também a redistribuição das verbas publicitárias do governo. Segundo Lula, essas verbas eram destinadas a cerca de 378 veículos no início de sua gestão. E, no ano passado, eram oito mil veículos (entre rádios, jornais, revistas e TVs) que repartiam essa verba.”
O petista lembrou que essa bem sucedida mudança na comunicação oficial envolveu também a redistribuição das verbas publicitárias do governo. Segundo Lula, essas verbas eram destinadas a cerca de 378 veículos no início de sua gestão. E, no ano passado, eram oito mil veículos (entre rádios, jornais, revistas e TVs) que repartiam essa verba.”
Em suma, ele deixou claro que usou dinheiro público para comprar apoio da “boa imprensa”.
Se isso lhe parece pouco, é porque José Dirceu ainda não havia se pronunciado. Ainda segundo o relato de O Globo:
“Falando aos militantes logo depois de Lula, que deixou o evento após discursar, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu disse que hoje a mídia ‘faz o papel da oposição’ no país, organizando a agenda e pautando as ações da oposição. ‘O partido precisa responder aos ataques que já está sofrendo e vai sofrer. Se tem problema de corrupção, que se investigue’, disse. Segundo Dirceu, o partido não deve permitir o ‘uso político’ dessas denúncias: ‘Se hoje temos o Ministério Público e a Polícia Federal investigando, isso foi por conta do nosso governo. Por isso, não vamos permitir que se faça uso político desse tipo de denúncia’.”
“Falando aos militantes logo depois de Lula, que deixou o evento após discursar, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu disse que hoje a mídia ‘faz o papel da oposição’ no país, organizando a agenda e pautando as ações da oposição. ‘O partido precisa responder aos ataques que já está sofrendo e vai sofrer. Se tem problema de corrupção, que se investigue’, disse. Segundo Dirceu, o partido não deve permitir o ‘uso político’ dessas denúncias: ‘Se hoje temos o Ministério Público e a Polícia Federal investigando, isso foi por conta do nosso governo. Por isso, não vamos permitir que se faça uso político desse tipo de denúncia’.”
Santo Deus!
Zé Dirceu não resiste nem à lógica pedestre. Se fosse verdade que a imprensa faz o papel da oposição, então haveria de se admitir que a oposição não desempenha o seu papel, certo? Se ele está descontente com isso, estamos diante da prova de que ele não suporta… oposição! Bem, isso é verdade mesmo sendo falsa a premissa. Vejam que adorável: “Se tem problema de corrupção, que se investigue”, mas não, entenda-se, os petistas! Porque aí passa a ser “ataque”. Ele também não quer “uso político da denúncia”. Surgindo uma falcatrua no governo, as oposições devem ficar em silêncio… Quanto ao Ministério Público… Bem, Palocci caiu sem que a PF e a Procuradoria-Geral tivessem movido uma palha. Não foi a oposição que o derrubou, mas a sua dinheirama. E Dirceu não precisa enganar ninguém: ele não está infeliz com isso. Qualquer oposicionista, escolhido aleatoriamente, tinha com o ex-ministro uma relação mais harmoniosa do que seu rival de consultoria.
Lula está onde sempre esteve — inclusive nos oito anos de mandato: em cima do palanque. Dirceu é figura ativa no petismo, mas, com Palocci na articulação política, ele se resguardava mais, ficava na sombra, roendo um tanto os cotovelos. O outro tolhia muito dos seus movimentos. Não é mera coincidência que tenha voltado a atuar com tanta saliência — está sendo saudado até como amigo das artes!!! Vai acabar virando o Edemar Cid Ferreira da ideologia!!!
Vai dar resultado?Consta que Dilma pediu que o PT, que vem lhe criando alguns problemas, tomasse um pito. Isso pode passar a impressão, errada, de que ela está no controle e de que ambos cumprem uma tarefa encomendada. Besteira! Os pronunciamentos de Lula e Dirceu correspondem a um esforço para encabrestar a mandatária e para lhe impor uma agenda, a que ela tem resistido: hostilizar a imprensa e anatematizá-la como “partido de oposição”.
Sabem o que é trágico? Isso já funcionou no passado — sim, sim, com exceção daqueles que não se deixam domesticar. Quando Lula começa com essa ladainha, tem início o esforço desesperado de muitos diretores de redação: “Precisamos de denúncias contra a oposição também”. A rede a soldo de blogueiros e chicaneiros começa a patrulhar os veículos — tentam fazer isso no meu blog; eu os chuto — e acabam emplacando as suas pautas; até porque a patrulha está presente de modo acachapante nas redações. Sim, pouco importa a camisa do malfeitor, notícia é notícia. Mas o PT não pode ser o tribunal a julgar a isenção do noticiário.
Eles estão de volta à sua natureza! Vem aí outra guerra contra a imprensa. Podem apostar.
* Extraído do texto de Reinaldo Azevedo
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