Partidos aliados do Planalto querem tirar proveito dos planos de negócios da estatal, que planeja investir pelo menos US$ 224 bilhões.
Por Denise Rothenburg, no Correio braziliense:
As dificuldades da Petrobras em aprovar os planos de negócios para 2011-2015 não se resumem à queda de braço entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. No Palácio do Planalto já se admite que parte do atraso na definição dos investimentos de pelo menos US$ 224 bilhões programados pela companhia decorre de problemas políticos. Os partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff querem abocanhar cargos nas quase cem empresas controladas pela petrolífera e, se possível, interferir nos projetos a serem tocados, dos quais podem tirar dividendos eleitorais no ano que vem e em 2014.
A pressão dos políticos está tão grande que Graça Foster, diretora de Gás e Energia da Petrobras e uma das pessoas mais próximas de Dilma, dispôs-se a vir a Brasília na próxima semana conversar com deputados e senadores interessados no que a estatal tem a lhes oferecer. O PMDB, por exemplo, já comanda a área internacional da empresa, por meio de Jorge Zelada, e a diretoria de Abastecimento, com Paulo Roberto Costa, mas não tem conseguido fazer valer vários de seus projetos, como o de acelerar a construção de refinarias.
Os políticos têm dito, em conversas reservadas no governo, que precisam das obras antes de fecharem seus mandatos. Isso vale, especialmente, para os governadores amigos do Palácio do Planalto. No Ceará de Cid Gomes (PSB), há uma refinaria em construção. Em Pernambuco, outro governador socialista, Eduardo Campos, está sendo levantada a refinaria Abreu e Lima. No Rio de Sérgio Cabral (PMDB), estão em curso as obras de um complexo petroquímico, o Comperj. No Maranhão, da governadora Roseana Sarney (PMDB), há a refinaria Premium I, também em fase de construção.
Os assessores de Dilma reconhecem que os projetos da Petrobras realmente dão visibilidade política, devido ao porte gigantesco. Mas ressaltam que não há recursos suficientes nem cargos para atender a todos os pedidos. Pelo contrário. Com o intuito de conter a inflação e evitar que a estatal seja obrigada a aumentar em 10% os preços da gasolina para fazer caixa, o ministro da Fazenda está impondo que a empresa mantenha o mesmo volume de investimentos de 2010-2014 no período 2011-2015. "Não há recursos suficientes para finalizar todas as obras antes de 2014, quando todos esses governadores deixarão os mandatos em busca de outros cargos", disse um técnico do Planalto. Até o momento, apenas Cid Gomes declarou que não deseja se candidatar a outra função eletiva.
Refinarias
O plano dos políticos de inaugurarem obras nos próximos anos não casa com as necessidades de capitalização da Petrobras. Na visão de especialistas em petróleo, a estatal precisa investir mais em exploração e produção, áreas que sempre ajudam a turbinar o se caixa. As refinarias são projetos com retorno em longo prazo. Os mesmos profissionais ressaltam que a companhia precisa de aproximadamente US$ 90 bilhões por ano para bancar todos os seus empreendimentos — isso, sem falar do dinheiro necessário à exploração do pré-sal.
Para o mercado, é melhor que os políticos contenham o apetite. A Petrobras já está pagando um preço alto demais por causa da ingerência de Guido Mantega nos seus negócios. Como presidente do Conselho de Administração da empresa, foi dele os dois vetos ao plano de negócios apresentados nos últimos meses. Ontem, mesmo com a Bolsa Valores de São Paulo (Bovespa) cravando alta de 0,18%, os papéis ordinários (ON, com direito a voto) da estatal caíram 0,66% e as preferenciais ( PN), 0,60%.
Nada de exageros
O último adiamento do novo plano de negócios da Petrobras ocorreu na sexta-feira passada. A empresa propôs ampliar os desembolsos de US$ 224 bilhões para US$ 250 bilhões no próximo quinquênio. Mas o presidente do Conselho de Administração da companhia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, alegou que, neste momento, os gastos são excessivos e podem pressionar a inflação, que vem sendo combatida pelo Banco Central por meio de constantes altas na taxa básica de juros (Selic).
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