''Uma das crenças mais
resistentes do pensamento que imagina a si próprio como o mais moderno,
democrático e popular do Brasil é a lenda da inocência dos criminosos pobres.
Por essa maneira de ver as coisas, um crime não é um crime se o autor nasceu no
lado errado da vida, cresceu dentro da miséria e não conheceu os suportes
básicos de uma família regular, de uma escola capaz de tirá-lo da ignorância e
do convívio com gente de bem. De acordo com as
fábulas sociais atualmente em vigência, pessoas assim não tiveram a
oportunidade de ser cidadãos decentes - e por isso ficam dispensadas de ser
cidadãos decentes. Ninguém as ajudou; ninguém lhes deu o que faltou em sua
vida. Como compensação por esse azar, devem ser autorizadas a cometer delitos -
ou, no mínimo, considera-se que não é justo responsabilizá-las pelos atos que
praticaram, por piores que sejam. Na verdade, segundo a teoria socialmente
virtuosa, não existem criminosos neste país quando se trata de roubo,
latrocínio, sequestro e outras ações de violência extrema - a menos que tenham
sido cometidos por cidadãos com patrimônio e renda superiores a determinado
nível. E de quem seria, nos demais casos, a responsabilidade? Essa é fácil:
"a culpa é da sociedade".
Maria do Rosário leve pra sua casa e dê
todo tipo de 'assistência'!
*Por J. R. Guzzo, em Veja.
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