quarta-feira, 9 de abril de 2014

Se lhe sobrou algum juízo, Vargas deve aproveitar a licença para cuidar de álibis e roteiros que o livrem de atuar na cadeia.


“Tô no limite. Preciso captar”, aflige-se o doleiro Alberto Youssef na mensagem ao deputado federal André Vargas.

“Vou atuar”, informa o vice-presidente da Câmara, com a segurança de um colecionador de estatuetas do Oscar, ao amigo e parceiro de negócios escusos. 

Entre tantas frases extraídas de diálogos entre a dupla de vigaristas, divulgadas por VEJA neste fim de semana, nenhuma instiga tão irresistivelmente a imaginação de quem conhece André Vargas quanto essa resposta: “Vou atuar”. Com apenas duas palavras, o canastrão do PT paranaense declara-se pronto para entrar em cena encarnando o protagonista fora-da-lei prestes a virar multimilionário na vida real. 
Bastaria não tropeçar no script, bastaria caprichar na performance para que fosse materializado o sonho resumido por Youssef em outra troca de recados capturada pela Polícia Federal: “Você vai ver o quanto isso vai valer… Tua independência financeira e nossa também, é claro…” Uma causa de tamanho calibre justifica qualquer esforço. Por um jatinho para chamar de seu, o suarento pai da pátria toparia molhar não só a camisa, mas também os sapatos, as meias, a calça, as peças íntimas, a cinta, a gravata e o paletó cujo corte sufocante denuncia alguém que se acha muitos centímetros mais alto e algumas arrobas menos gordo. 
A alforria econômica foi adiada por VEJA, com uma reportagem que fez mais do que transformar o sócio de Youssef em outra evidência ambulante de que sábado é o mais cruel dos dias para gente com culpa no cartório. Ao pulverizar o desfile de mentiras que promoveu na tribuna da Câmara, a reportagem também tornou inviável a permanência no cargo de um vice-presidente que tenta tapear o plenário para escapar da degola e do xilindró. E apressou o pedido de licença que Vargas apresentou nesta segunda-feira. Oficialmente, ficará distante do Congresso por 60 dias. Se o Poder Legislativo ainda não revogou o que resta de vergonha, o sumiço será perpetuado pela cassação do mandato. 
Pressionado por líderes do PT e de partidos aliados, todos convencidos de que o colega louco por um jatinho não escaparia da cassação caso permanecesse exposto aos holofotes, Vargas deixou o palco alegaldo a necessidade de “cuidar de interesses particulares” e ”preparar sua defesa diante do massacre midiático que está sofrendo, fruto de vazamento ilegal de informações”. Se o despachante de doleiro especializado em cofres do Ministério da Saúde e da Petrobras não perdeu o juízo de vez, passará os próximos meses ensaiando o que dizer no tribunal sob a direção de um advogado capaz de forjar álibis, falas e roteiros menos bisonhos. 
Ou Vargas melhora o desempenho ou logo estará atuando na cadeia. 
*Augusto Nunes

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