sexta-feira, 4 de março de 2011

Reforma política e picaretagem

O debate sobre a reforma política mal começou e já virou uma pantomima! Que ninguém mais fale sobre a presença do palhaço Tiririca (PR-SP) na Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Os deputados Paulo Maluf (PP), Valdemar Costa Neto (PR) e José Guimarães (PT) — aquele cujo assessor usava a cueca como casa de câmbio — estão na comissão da reforma política da Câmara! O mensaleiro João Paulo Cunha (PT), fazendo um ar muito contrito, o que parece ter comovido alguns jornalistas, agora preside a Comissão de Constituição e Justiça. Parece piada, provocação, acinte, mas é isto: um sujeito processado pelo STF responde pela constitucionalidade das proposições da Casa. Como é mesmo? Se cercar vira hospício, se cobrir vira circo — mas o único profissional do ramo ali é mesmo Tiririca. Não dá!
No Senado, as coisas não vão por um caminho muito melhor. Vocês sabem o que penso sobre o chamado voto em lista: PI-CA-RE-TA-GEM! É uma forma de alijar o eleitor do processo.
O único propósito decente de uma reforma política é aproximar o representante do representado. Se não for assim, é truque.
Defendo, por isso, o voto distrital. Eu sei que é difícil formar os distritos etc. Se é para ser fácil, deixem tudo como está, ora essa! Porque Tiririca chegou à Câmara com uma montanha de votos e levou alguns sem-voto com ele, querem fazer da Casa, na prática, ou um picadeiro de Tiriricas ou um valhacouto de sem-voto. E com a ajuda do senador Aécio Neves (PSDB-MG)!
Aos fatos. Michel Temer, vice-presidente da República, propôs o chamado “distritão”: seriam eleitos os deputados mais votados de cada estado e ponto final. Huuummm… Mal intrínseco da proposta: ela enfraquece o partido; as legendas buscariam “nomes fortes”: quanto mais Tiriricas, melhor! O PT, por sua vez, quer o voto em lista: a campanha seria feita para a legenda, com nomes fortes para seduzir o eleitor, mas os eleitos seriam aqueles definidos por uma lista do partido. Mal intrínseco da proposta: o eleitor ignora quem está mandando para a Câmara.
Aí, então, aparece Aécio com a sua proverbial obsessão: ser uma terceira via! Na Líbia, ele não estaria nem com Kadafi nem com os rebeldes. O senador teve uma idéia genial, salomônica mesmo: por que não fazer a coisa meio a meio? Uma parte se elege pelo distritão, e a outra, pela lista! Grande!!! Ainda bem que, com efeito, o senador não estava no lugar de Salomão. Teria proposto a divisão da criancinha na tentativa de ser justo, não de ser sagaz. Ele até deu o exemplo da bancada de São Paulo: 40 deputados seriam eleitos na forma do distritão — os mais votados — e 30 sairiam da lista dos partidos!
O que a proposta de Aécio tem de fabuloso é que ela junta o pior dos dois modelos! Os partidos correriam em busca de nomes populares, políticos ou não, para que arrebanhassem votos. Legendas ridículas, sem qualquer expressão, seriam meras plataformas para celebridades e subcelebridades: do Big Brother para a Câmara! Se, hoje , há um Tiririca, teríamos dezenas deles. Já a outra parcela, os da lista, seria definida por alguma forma de quociente eleitoral. O que definiria o número de parlamentares de cada partido? Suponho que terá de ser a votação obtida pelas legendas. E quem teria determinado tal votação? As celebridades! São Paulo elegeu um Tiririca, e Tiririca levou com ele uns três quase-sem-votos. Aécio quer mudar: 40 Tiriricas levariam 30 sem-votos! Ainda que essa parcela da lista fosse definida por voto em legenda, o problema essencial continua: estarão sendo eleitos ilustres “ninguéns”, meros estafetas das burocracias partidárias.
Trata-se de uma proposta ridícula! É um caso clássico de cruzamento malsucedido da vaca com o jumento: o híbrido nem dá leite nem puxa carroça!
Os políticos parecem determinados a se fechar numa casta, promovendo uma reforma política contra os eleitores. Tiririca ainda vai virar Schopenhauer no Parlamento em que Aécio decidiu ser Salomão!
*Texto por Reinaldo Azevedo

Um comentário:

Castelo disse...

Essa legislatura não tem a menor condição moral para fazer uma reforma política decente, por pura falta de pessoal com idoneidade mínima para tal,....