Sempre há a hora de contestar o mendigo de rua, o Vaticano, o deputadozinho-celebridade e, por que não?, a presidente da República.
Um dia, talvez, o país se torne, de fato, uma República.
Enquanto isso não acontece, para não imitar Chico Jabuti, “a gente não vai levando”…
Vai contestando, vai reivindicando, vai enchendo o saco dos poderosos — que o jornalismo existe é para isso mesmo.
Na terça-feira, quase na surdina, apenas com notinhas não mais do que regulamentares aqui e ali, Dilma Rousseff nomeou a advogada Luciana Lóssio para ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral.
A vaga estava aberta desde abril, quando venceu o mandato de Joelson Dias, nomeado em 2009. Ele teria direito a uma recondução por mais dois anos - a praxe tem sido a recondução. Não aconteceu desta vez.
A vaga estava aberta desde abril, quando venceu o mandato de Joelson Dias, nomeado em 2009. Ele teria direito a uma recondução por mais dois anos - a praxe tem sido a recondução. Não aconteceu desta vez.
Muito bem, até aqui, indagará o leitor, o que quer este Reinaldo Azevedo?
O nome de Luciana foi incluído numa lista tríplice, de livre escolha da presidente da República, por Ricardo Lewandowski, presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal.
Aos 36 anos, parece que a advogada reúne todos os predicados, sim, para ocupar o cargo, e não serei eu a dizer que não — até porque, confesso, não acompanho em detalhe o cargo da agora ministra, oficializada ontem, com despacho no Diário Oficial.
Mas cadê a notícia?
Luciana foi nada menos do que a advogada da candidata Dilma Rousseff na eleição de 2010! Não, senhores! Aí não dá!
O país não pode continuar a ser governado contra não só a essência do que é a impessoalidade, mas também contra a sua aparência.
Por que Joelson não foi reconduzido?
O que terá ele feito de errado?
Pois é…
Eu não conheço o ex-ministro.
Na verdade, já critiquei aqui decisões suas.
Vocês sabem como sou: discordo de muita gente; quando gosto digo “sim”; se não gosto, digo “não”.
Estou entre aqueles que acham que obedecer a Justiça é um dever, mas discutir suas decisões é um dever e também um direito garantido pelas sociedades livres.
Assim, não tenho motivo especial para defender Joelson — como fica claro, ele já decidiu contra aquilo que eu achava o certo.
Assim, não tenho motivo especial para defender Joelson — como fica claro, ele já decidiu contra aquilo que eu achava o certo.
Acontece, E AQUI ESTÁ O BUSÍLIS, que ele tomou também um monte de decisões na eleição passada CONTRA AQUILO QUE O PT, LULA E A ENTÃO CANDIDA, DILMA ROUSSEFF, ACHAVAM O CERTO.
Em suma, Joelson decidiu ora a favor de pleitos da oposição, ora de pleitos do petismo.
Conversei ontem à noite com pessoas que transitam nessa área, nos corredores dos tribunais propriamente.
O homem entrou na lista negra do PT.
Passou a ser considerado um inimigo.
Sendo o partido o que é, e sendo os petistas quem são, essas nobres almas consideraram que Joelson fez Justiça todas as vezes em que atendeu aos petistas e praticou tucanismo todas as vezes em que não atendeu. Eles são assim.
Mas poderiam, em nome do bom senso, do bom gosto e de uma afetação da virtude — já que lhes parece impossível o decoro sincero —, escolher, então, para o seu lugar, para remeter a um poema de Drummond, o J. Pinto Fernandes, aquele “que não havia entrado na história”, um nome neutro, que não estivesse envolvido com a narrativa eleitoral passada.
Mas quê…
Se assim procedessem, não seriam petistas.
Decidiram fazer o contrário: decidiram deixar clara a censura a Joelson, escolhendo para o seu lugar nada menos do que aquela que atuou na banca de Dilma.
Fosse ela advogada pessoal da cidadã Dilma Rousseff, já seria um tanto escandaloso.
Não! Luciana Lóssio foi sua ADVOGADA na eleição; advogou para a candidata.
É claro que as coisas não devem ser assim numa República. Noto, por apreço à história, que os petistas são useiros e vezeiros nesse expediente.
É claro que as coisas não devem ser assim numa República. Noto, por apreço à história, que os petistas são useiros e vezeiros nesse expediente.
Dias Toffoli, ministro do Supremo, também foi advogado do candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Sou preciso e justo.
Até agora, considero que ele tem tido, nas votações do tribunal, uma atuação impecável.
Precisa, de todo modo, escolher melhor as festas de casamento a que vai, como deixou claro reportagem da VEJA da semana retrasada.
Afirmei então e afirmo agora: a prática de premiar com cargos de estado quem serve ao mandatário remete ao que há de pior no mandonismo brasileiro.
Vivemos dias um tanto estupidificados pelo politicamente correto. Aqui e ali se noticiou a nomeação de Luciana Lóssio destacando-se que ela é “a primeira mulher indicada para esse cargo…”
Ora, tenham paciência!!!
E daí?
Nomear o amigo do rei para um cargo é coisa tão velha quanto a história do poder!
Luciana Lossio pode ser competentíssima e digna de todos os louros. Mas a sua nomeação para o TSE é uma vergonha que depõe contra a República.
Ainda que venha a ter uma atuação impecável — e espero que sim, para o bem do Brasil —, a mácula a forma como se seu a escolha permanece nas instituições.
Dilma Rousseff está perdendo a mão.
Anotem aí.
*Texto por Reinaldo Azevedo
Anotem aí.
*Texto por Reinaldo Azevedo
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