Todo esse berreiro que o PT faz contra a imprensa não é inútil, não, para eles. A turma já sabe que isso costuma funcionar em parte. Os veículos tendem a redobrar os “cuidados” para “provar” que os petistas estão errados e que é mentira que exista uma “conspiração midiática”.
E como é que fazem para “provar” isso? Dão amplo espaço para as alucinações dos companheiros e iniciam uma verdadeira corrida para publicar matérias negativas contra os adversários do PT. Atenção! É claro que os não-petistas também cometem falcatruas. A questão não é essa. Estou me referindo àqueles que se mobilizam com o propósito de provar para o tribunal petista que são isentos. Aí, como se diz em Dois Córregos, “um mosquito vira um boi”; uma suspeita, ainda que inconsistente, contra um oposicionista ganha alto de página, destaque, suíte.
Ou seja: para provar que petistas mentem, faz-se justamente o que os petistas querem, e eles agradecem. É mais ou menos como o refém que quer sinceramente demonstrar para seu seqüestrador que é uma pessoa bem comportada.
Quem procede assim reconhece o tribunal petista como um foro legítimo para debater a isenção da imprensa. Isso é comum. Até esses vagabundos do nariz marrom que andam por aí, que escrevem páginas financiadas por estatais, conseguem ter alguma eficácia patrulhando gente séria. Há alguns que, abraçados a seu equívoco, tentam provar que a canalha não tem razão, como se esses meliantes tivessem algum compromisso com a verdade factual. Eles estão trabalhando. E seu trabalho consiste em tisnar a reputação de gente séria. Não tenho como fazer uma aposta, mas que seja simbólica ao menos: daqui a alguns dias, vem uma enxurrada de matérias para demonstrar aos petistas que também a oposição apanha da mídia, ainda que, para tanto, seja preciso superestimar o mosquito para que ele vire um boi.
Ontem foi o dia pajelança “contra a mídia” no Congresso do PT. Todos os capas-pretas do partido deitaram falação contra a imprensa. Resolveram encontrar um inimigo comum para tentar dirimir as suas próprias diferenças. Dilma saiu de lá mais encabrestada do que entrou, mas essa será matéria para outro artigo. Retomo o fio.
À diferença do que disseram ontem aqueles pistoleiros da democracia, a tal “mídia”, a imprensa, sempre foi é generosa com o PT — na oposição ou na situação. Quando estava no combate a sucessivos governos (em alguns casos, esse combate poderia ter sido chamado de “sabotagem”) era visto como o “partido da ética na política”. Só um trouxa que nunca viu um petista operando de perto para acreditar nisso. Tão logo chegou ao governo e jogou seu programa no lixo — um lugar bastante adequado, diga-se —, seu estelionato eleitoral foi aplaudido por boa parte da imprensa como prova de maturidade, como conversão à racionalidade. E pouco importava que tivesse sido eleito com um discurso e governasse com outro.
O apoio a Antonio Palocci nos primeiros tempos do governo Lula foi unânime. Quem tentava derrubá-lo eram petistas como José Dirceu e… Dilma Rousseff. As oposições eram fascinadas por ele, e a “mídia” se dava por satisfeita que ele não fosse da tropa que queria botar fogo no circo. Mais do que isso: ele, de fato, aderiu aos princípios da governança que havia herdado do governo FHC. Quem falava em “Plano B” para a economia naqueles tempos era… Aloizio Mercadante! Quem chamava ajuste fiscal de “rudimentar” era a agora presidente. Não faltou suporte “midiático” ao estelionato petista. Afinal, Palocci era tão racional que nem parecia um deles… Se o sucesso do governo Lula se deve, em boa parte, ao apoio dado a Palocci, as oposições e a “mídia conservadora” fizeram mais pelo Apedeuta do que sua própria militância.
A tal mídia, na média, segue generosíssima com Dilma Rousseff. Os lulistas têm uma certa razão: de fato, há uma tendência a superestimar a “faxina” da companheira — que ela mesma renegou ontem, é bom deixar claro. Não que o faça, como supõem Lula e seus asseclas, para satanizar o governo passado. De boa-fé, a maior parte da imprensa faz o que fazem as pessoas decentes: dá seu apoio quandos envolvidas em falcatruas são demitidas. Ocorre que Lula toma a queda de um corrupto como ofensa pessoal e agressão a seu partido, o que expõe a sua moral e a da legenda.
Estamos em setembro. Restam menos de quatro meses para a presidente encerrar o primeiro ano de governo. Cotejar suas promessas para este 2011 com suas realizações beira a desmoralização. Generosa, a “mídia”, com as exceções de sempre, tem preferido ignorar suas promessas. Ontem, no congresso do PT, ela admitiu o que vivo escrevendo aqui: fez parte do governo Lula e, portanto, a herança que carrega também é obra sua. Esse primeiro ano de Dilma é o nono do governo petista, como sabem os aeroportos, os portos, as estradas — áreas que estavam sob o seu guarda-chuva e que se encontram em petição de miséria. Severidade com a soberana? Quase nada! Ela tem sido poupada de sua própria obra — ou não-obra…
Os petistas sabem que a acusação do complô é ridícula; vai contra os fatos; vai contra as evidências. O que eles esperam é mobilizar alguns covardes e dissimulados da imprensa para que cumpram a sua pauta e sejam instrumentos de sua agenda.
*Por Reinaldo Azevedo
*Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário