Luiz Inácio Lula da Silva está de volta à política doméstica. As eleições de 2012 são um excelente pretexto para o seu retorno. De agora em diante, ficará um tantinho mais difícil aquela operação discreta, mas muito visível, do círculo mais próximo a Dilma, que consistia em atribuir dificuldades ao “governo passado”, como se esse não fosse, de fato, o nono ano da gestão petista. Ao voltar, ele se coloca como uma espécie de guardião e gerente da própria herança e também demonstra quem, de fato, tem voz no partido. Aparentemente, o recado vai apenas para fora, para os adversários; de fato, ele vale também para dentro. O petismo — e isso inclui o governo — tem um chefe. E o nome dele é Lula. Muito bem!
Notem que o processo de 2012 já foi deflagrado — e isso significa que 2014 também já está em pauta, ao menos para as eleições estaduais, e é como se Dilma não fosse um ser político, ou da política ao menos. A imagem da Soberana Muda e Pudorosa, da gerente exigente, é uma construção esperta, mas tem seus limites, como escrevi aqui certa feita. Pode até ser útil a seu esforço de reeleição — vai depender muito dos resultados —, mas colabora pouco com o petismo nos demais confrontos. Logo, Lula, do ponto de vista petista, é também uma necessidade.
O que quer o Apedeuta? Depende! Há uma luta em três tempos. De imediato, procura desestimular certas ousadias que asseguram que a presidente está tendo de lidar com um descontrole que veio da gestão passada. Há até quem diga que Dilma já comentou com os mais próximos que herança maldita mesmo é a que ela recebeu. No prazo mais longo, para lembrar Gilberto Carvalho, o ex-presidente está dizendo à nação petista que “Pelé está no banco”. No médio, o objetivo é fazer a Prefeitura de São Paulo para dar largada à marcha que pretende tirar dos tucanos o Palácio dos Bandeirantes. É a conquista que falta ao PT. Aí, então, estará tudo dominado!
No que diz respeito a São Paulo, os petistas precisaram fazer muito pouco. Os próprios tucanos se encarregaram de protagonizar uma grande besteira na cidade. Lula dá início à sua articulação no momento em que o PSDB perdeu nada menos de 6 dos seus 13 vereadores. Há quem veja nisso um esforço deliberado de depuração, como se uma doutrina estivesse expulsando os seus hereges em nome da conservação dos fundamentos. Ocorre que partido não é um grupo religioso. Seu horizonte é de mais curto prazo. A metáfora da guerra é mais pertinente do que a da religião: com menos força, aumentam as chances de perder.
Sei lá que espírito de Savonarola baixou na turma, e a nova direção do PSDB na cidade de São Paulo houve por bem promover a guerra interna, em vez de buscar a pacificação. Reitero: quando se trata de preservar uma doutrina, os inimigos de dentro, que distorcem a essência de uma crença, são sempre mais perigosos do que os de fora. Na política, o jogo é outro: as concessões fazem parte do esforço para preservar o poder. A nova direção municipal do PSDB demonstrou que sabe ser inflexível. Só que a batalha principal não é essa. Muito bem: ficaram com as batatas dessa vitória, mas qual é a guerra?
Lula deve estar rindo de orelha a orelha. O PT ainda não sabe qual será seu candidato, mas o Apedeuta, ele sim, conforme apontei ontem, já deixou claro: o alvo é a classe média, não o povão. Em São Paulo, é ela que tem dito sucessivos “nãos” ao PT. Assim, na cidade e no Estado, Lula quer um inflexão à direita. Foi o recado que deu aos petistas.
Ele voltou. Seus olhos estão onde sempre estiveram: no Planalto Central do Brasil. A sua batalha da hora é o Planalto Paulista. No momento, ele conta com muitos aliados, inclusive, e muito especialmente, os adversários…
*Texto por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário