Situação delicada: Dilma enfrenta momento mais difícil de seus cinco anos
de governo (Foto Valter Campanato/Agência Brasil)
SÃO PAULO – Há 62,5% de chances de a presidente Dilma Rousseff não
terminar seu mandato, seja por renúncia, impeachment ou
cassação de sua chapa pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A
avaliação é dos cientistas políticos consultados por O Financista para
a 5ª edição do Barômetro de Brasília.
O indicador foi criado para avaliar o cenário no centro do poder federal. A
probabilidade de interrupção do governo Dilma é a maior, desde que o Barômetro
foi lançado, em julho do ano passado.
Participaram, desta edição, seis dos mais renomados cientistas políticos
do país: Antônio Lavareda; Carlos Melo (professor do Insper); David Fleischer
(professor da UnB); Murillo de Aragão (fundador da consultoria de análise
política Arko Advice); Paulo Kramer (consultor político); e Roberto Romano
(professor de Ética da Unicamp).
O Barômetro não tem pretensões de ser cientificamente preciso. Seu
objetivo é apenas fornecer, aos leitores, a avaliação geral dos especialistas
em política em dado instante. Os participantes foram convidados a responder a
três questões.
Prego no pudim
A primeira abordou a probabilidade de Dilma não concluir seu mandato,
considerando notas de zero (nenhuma chance de a presidente sair antes de 2018)
a dez (praticamente 100% de certeza de que Dilma não chegará a 2018). A nota
média ficou em 6,25 pontos. Isso significa que, se fosse uma escala de 0% a
100%, a presidente enfrentaria, hoje, 62,5% de chances de sair do Palácio do
Planalto mais cedo do que imagina.
Para se ter uma ideia, o resultado
é 4,5 pontos percentuais maior que a última edição do
Barômetro, publicada em dezembro. Nela, a probabilidade de Dilma cair era de
58% - praticamente em linha com os 57,1% de chances apurados na primeira edição do indicador, em
julho do ano passado. Em seu melhor momento, em agosto, a chance de abreviação de seu mandato
era de 47,5%.
Como toda enquete, é preciso observar suas nuances. Os seis
participantes desta 5ª edição distribuíram suas notas de modo amplo: a faixa de
respostas foi de zero a dez. A moda (nota mais citada), contudo, foi 7,5, com
três menções. Só um participante atribuiu nota zero à questão, e outro, dez.
Traduzindo: a maior parte dos especialistas consultados acredita que, por ora,
as chances de interrupção do mandato de Dilma são muito elevadas – cerca de
75%.
A deterioração das perspectivas da presidente deve-se a uma conjunção
infernal. A economia despencou 3,80% no ano
passado. Foi o pior resultado desde 1990, quando o então presidente
Fernando Collor de Mello confiscou a poupança dos brasileiros e acarretou uma
queda de 4,35% no PIB. Além disso, há um consenso de que 2016 será outro ano de
recessão, e o governo mostra cada vez menos condições de adotar medidas que
resgatem o país da crise.
No campo político, a vida de Dilma também não está nada fácil. Sua base
aliada se esfacelou, diante de sua baixíssima popularidade e de sua notória
falta de habilidade para negociar. A Lava Jato se
aproxima como nunca de seu gabinete, com a prisão de João Santana,
marqueteiro que a elegeu em 2010 e a reelegeu em 2014; e com a suposta delação premiada do
senador Delcídio do Amaral (PT-MS) que, até ser preso pela
Polícia Federal, era o líder do governo na Casa. Para coroar os problemas, seu
antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, está cada vez mais
enrolado com as investigações, a ponto de ser levado à força para
depor na Polícia Federal – algo que enfureceu os militantes mais
aguerridos, que a acusaram de não controlar sua força policial, nem as
investigações.
Longe da paz
Por isso, mesmo que Dilma sobreviva ao impeachment, à cassação pelo TSE
e à renúncia, dificilmente terá sossego nos três anos que lhe restam no
Planalto. Politicamente fraca, com um orçamento estourado e sem apoio popular,
sua vitória não significará o fim da crise política. Pelo menos, é o que a
maioria dos consultados por O Financista afirma.
A segunda questão do Barômetro de Brasília aborda as probabilidades de a
crise política terminar, se Dilma enterrar as tentativas de tirarem-na do
poder. A resposta é desanimadora: na média, os participantes da enquete
enxergam apenas 25% de chance de paz na política, se Dilma continuar. Para se
ter uma ideia de como o ambiente azedou, na edição anterior do Barômetro, o
número era de 44%.
Também aqui, a faixa de respostas foi ampla: de zero (nenhuma chance de
a crise política acabar) a 7,5 (probabilidade muito alta de término da crise).
A nota mais citada, porém, foi 2,5 (baixa probabilidade de fim da crise), com
três indicações, seguida por zero, mencionado duas vezes. “O problema não é
Dilma terminar formalmente o mandato, mas sim ter condições de permanecer lá”,
explica Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp. “Mesmo no Planalto, ela
ficaria totalmente fora da cena política”, resume.
E depois?
Isso não quer dizer, porém, que sua mera saída significaria uma solução
mágica para os problemas do Brasil. Na média, há 58,3% de probabilidade de a
crise política terminar, com a abreviação do mandato de Dilma. Parece alto – e
é -, mas há duas observações aqui. A primeira é que, com o andar da carruagem,
está cada vez mais nebuloso quem pode lucrar com a saída da presidente. Por
isso, a certeza de que essa solução apaziguará os ânimos no Planalto Central
está menor. Na edição de dezembro do Barômetro, por exemplo, os participantes
atribuíram 61% de probabilidade de que a crise passaria neste cenário.
A segunda observação é que a nota mais citada pelos participantes, com
três ocorrências, nesta questão, foi 5. Ou, em bom português: pode acontecer
qualquer coisa, se Dilma sair. “Neste caso, a questão é o que seria o
pós-Dilma”, lembra Romano, da Unicamp. Um eventual novo governo teria força e
coragem para adotar as medidas necessárias para reverter a crise? Até onde
enxerga a maioria dos especialistas deste Barômetro, o 5 indica que “pode ser
que sim, pode ser que não”.
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