TEATRO: Parecia uma
encenação — e era mesmo. As perguntas que seriam feitas pelos parlamentares ao
ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli foram enviadas a ele antes do
depoimento por José Eduardo Barrocas, chefe do escritório da estatal em
Brasília, que aparece no detalhe da foto(Geraldo Magela/Ag.
Senado)
O procurador da República Ivan Cláudio Marx, do Distrito
Federal, determinou nesta quarta-feira a abertura de inquérito civil para
apurar o envio prévio de um gabarito com as perguntas que seriam feitas por
senadores a depoentes na CPI da Petrobras, no ano passado. Reportagem de
VEJA revelou que governistas engendraram um esquema para
treinar os principais depoentes à comissão de inquérito, repassando a eles
previamente as perguntas e indicando as respostas que deveriam ser dadas. Para
o PSDB, que recorreu ao Ministério Público com pedido de investigação, há
indícios de que foram praticados os crimes de advocacia administrativa, falso
testemunho e violação de sigilo funcional.
O ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli, por exemplo,
recebeu antes do depoimento as perguntas que lhe seriam feitas por meio de José
Eduardo Barrocas, então chefe do escritório da estatal em Brasília.
Obtida por VEJA, a gravação mostra uma reunião entre
Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e Calderaro Filho para tramar a
fraude no Congresso. Barrocas revela no vídeo que
um gabarito foi distribuído aos depoentes mais importantes para que não
entrassem em contradição. Paulo Argenta, assessor especial da Secretaria de
Relações Institucionais, Marcos Rogério de Souza, assessor da liderança do
governo no Senado, e Carlos Hetzel, secretário parlamentar do PT na Casa, são
citados como autores das perguntas que acabariam sendo apresentadas ao
ex-diretor Nestor Cerveró, apontado como o autor do "parecer falho"
que levou a estatal do petróleo a aprovar a compra da refinaria de Pasadena, no
Texas, um negócio que impôs prejuízo de pelo menos 792 milhões de dólares à
empresa. Segundo conta Barrocas, Delcídio Amaral (PT-MS), ex-presidente da CPI
dos Correios, encarregou-se da aproximação com Cerveró. Relator da comissão,
José Pimentel (PT-CE), a quem respondem Marcos Rogério e Carlos Hetzel,
formulou 138 das 157 perguntas feitas a Cerveró na CPI e cuidou para que o
gabarito chegasse ao ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli.
De acordo com portaria assinada pelo procurador Ivan Cláudio
Marx, "em tese, o vídeo e a reportagem divulgados demonstravam a
ocorrência de um esquema de fraude na CPI da Petrobras, em que as perguntas
realizadas a três dos principais dirigentes da Petrobrás haviam sido elaboradas
por servidores do Governo Federal, os quais haviam preparado também as
respostas que deveriam ser dadas as referidas perguntas, tendo em sequência as
testemunhas sido instruídas sobre as perguntas que seriam feitas e as respostas
que deveriam ser dadas no âmbito da CPI".
*http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/mp-ira-apurar-farsa-para-blindar-governo-em-cpi
Nenhum comentário:
Postar um comentário