domingo, 19 de outubro de 2014

Dilma e sua hipocrisia.


A oposição entendeu que as declarações da presidente Dilma Rousseff sobre a crise na Petrobras é um reconhecimento tardio da presidente sobre o escândalo que atinge a estatal. O coordenador da campanha do senador Aécio Neves (PSDB), o também senador Agripino Maia (DEM-RN), classificou a afirmação de Dilma como uma confissão de culpa. Para ele, a presidente reconheceu a corrupção somente agora por uma questão eleitoral. 

— É uma confissão de culpa do petismo em relação à Petrobras. Todos os posicionamentos do governo e da presidente em relação a esse tema são sempre tardios, como foi a demissão de Paulo Roberto Costa. Demissão que se deu nos termos que o Brasil inteiro sabe, com o reconhecimento dos grandes serviços prestados por ele — disse Agripino Maia. — Até hoje, os fatos relatados não foram objeto de providências enérgicas do governo. Somente agora, às vésperas das eleições é que a presidente está reconhecendo o dolo praticado pelo petismo. Tudo isso tem um sentido eleitoral, é claro — completou. 


O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) criticou Dilma, dizendo que as declarações dela vieram após anos e anos de desvios bilionários na Petrobras. Ele cobrou que a presidente seja responsabilizada, lembrando que, ao longo dos últimas 12 anos, ela teve alguma ligação com a estatal, seja como ministra de Minas e Energia, ministra da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobras, ou presidente da República. 

— Nesses 12 anos, só agora admite desvios na Petrobras? Por que não tomou providências na época? Todos queremos que ela seja responsabilizada por isso. Foi responsável como ministra, como presidente do Conselho, e como presidente da República, que ficou ao longo do tempo blindando de toda a forma as investigações — disse Bueno. 


O coordenador da campanha de Marina Silva, Walter Feldman, afirmou que o fato de Dilma Rousseff ter admitido que houve desvio de dinheiro em esquema de corrupção na Petrobras seria devido à impossibilidade de negar fatos “evidentes”. Feldman disse ainda que a petista vive um momento de “confusão”, por defender o combate à corrupção como candidata, mas não tê-la combatido como presidente. 

— O primeiro ponto é que é impossível negar um fato tão evidente. A Petrobras se transformou no segundo sistema de mensalão da história brasileira. Seria muito estranho um dirigente negar fatos tão evidentes. Agora, há uma tentativa de mostrar que ela tem algum envolvimento com o combate à corrupção, que ela diz fazer como candidata, mas que não fez como presidente. A presidente Dilma vive um momento confuso existencial: ela não sabe se age como candidata ou como presidente — afirmou Feldman. 


A coordenação jurídica da coligação de Aécio Neves apresentou neste sábado na Procuradoria Geral Eleitoral uma representação pedindo abertura de processo contra a Dilma pela veiculação de um filmete acusando Aécio de desrespeitar mulheres. Em entrevista coletiva, a presidente disse que Aécio a teria desrespeitado por tê-la chamado de “leviana” em um debate televisivo, assim como à candidata do PSOL Luciana Genro, derrotada no primeiro turno. Dilma afirmou tratar-se de uma fala que não seria “correta para mulheres". 

Essa tentativa de Dilma de criar um embate de gênero com o candidato Aécio Neves (PSDB) provocou indignação em pessoas próximas a Marina, candidata derrotada no primeiro turno e que agora apoia o tucano. Auxiliares de Marina afirmam que a campanha petista está mirando os votos femininos que foram para a ex-senadora no primeiro turno e, para isso, tentam construir uma imagem de Aécio como antagonista dos direitos das mulheres. 


— Vir agora com uma posição de vítima por ter ouvido o que todos os brasileiros pensam dela é mais uma vez tentar mudar a realidade. Se tem algo que ela não pode chamar para si é o fato de ser mulher, até porque ela nunca aplicou. Isso é queixa dos próprios auxiliares dela, que dizem que ela é grossa, deselegante e insensível no trato — afirma Walter Feldman. 


— Esse embate de gênero só faz sentido na cabeça dela. Como eles não têm limites, tentam explorar isso. Quem é vítima de Dilma são todos os brasileiros, homens e mulheres, que acreditaram que ela, por ser mulher, teria uma gestão mais sensível aos problemas e diferenças do país. Ela tem se mostrado a figura mais autoritária à frente de um governo, superando qualquer homem — completou Feldman. — Se for homem, pode ser leviano; se for mulher, não pode? É estranho tentar polarizar o debate dessa forma.
                    *Texto de O Globo, publicado em O EDITOR 

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