O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse que é “osso duro de roer”. Falou como um legítimo representante do trabalhismo.
O trabalhismo, como se sabe, é a arte de se pendurar no cabide estatal e não largar o osso.
De osso, portanto, eles entendem.
E esse deve ser mesmo duro de roer. Foram mais de 500 relatórios de prestação de contas engavetados na gestão Lupi, segundo o Tribunal de Contas da União.
Pode-se imaginar o trabalho que isso deu aos trabalhistas. Haja gaveta.
Nesse festival de convênios a fundo perdido, onde o dinheiro público passeia entre ONGs e entidades companheiras, constroem-se amizades sólidas.
Lupi pode não ter um milhão de amigos, mas tem R$ 1,5 bilhão em convênios, o que dá praticamente no mesmo.
Tudo depende do ponto de vista. O Palácio do Planalto, por exemplo, achou que tinha convênio demais na história. “A gente fez um alerta”, contou o secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
O tal alerta do Palácio aconteceu há três meses. Que providência Carlos Lupi tomou?
“Ele assegurou que o que precisava ter sido feito foi feito”, explicou o próprio Carvalho.
Pronto. É por isso que Dilma Rousseff é considerada uma grande gestora. Esse tipo de controle administrativo não falha. O ministro faz um ok com o polegar, e fica tudo bem.
É de fato uma monumental economia de papel, memória digital, tempo e paciência para ficar lendo relatórios. Basta um polegar para cima, e o resto do dia fica livre para o trabalhismo, o empreguismo e demais doutrinas que enchem barriga.
Dizem que os trabalhistas de Lupi andaram cobrando propina das ONGs. Não ficou claro se era para o engavetamento ou para o desengavetamento, mas isso é detalhe.
O caixa dois é deles, ninguém tem nada com isso.
O que o Brasil não aguenta mais é ver ministro inocente demitido.
O pessoal das vassouras cenográficas deveria lançar a campanha “Fica, Lupi”.
Quem sabe assim as investigações vão até o fim, uma vez na vida.
O osso é duro, a cara também. Então vamos com calma.
O ministro disse que quer ver “até onde vai esse denuncismo”.
O país precisa saber até onde vai esse trabalhismo.
*Por Guilherme Fiuza, na Época
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