Obama, seja um dublê de Reagan. Democrata conseguirá a reeleição se seguir os passos do republicano, que recuperou o ânimo do eleitorado nos anos 80.
Antigamente Barack Obama entendia o poder de um boa narrativa. Seus slogans de campanha, “Sim, nós podemos” e “Podemos acreditar na mudança”, inspiraram os eleitores, especialmente os jovens, negros e latinos, e o levaram à Casa Branca. Uma vez na presidência, Obama perdeu o fio da meada. Abandonou sua mensagem original e se conformou com o bipartidarismo em vez de promover grandes mudanças. O que não funcionou com um Congresso recalcitrante, especialmente os republicanos, que têm seu próprio lema para promover: simplesmente dizer não para Obama.
Na campanha para a eleição presidencial de 2012, Obama sem dúvida vai se voltar para a esquerda de Hollywood em busca de dinheiro e endossos, mas também estaria bem servido se olhasse para a direita de Hollywood – especialmente o legado de Ronald Reagan, para aprender algumas lições sobre como contar a sua história, a importância de se ater a ela e revigorá-la quando governar se tornar algo problemático.
De Louis B. Mayer a Arnold Schwarzenegger, a direita de Hollywood criou uma trama simples, mas convincente: os EUA são a maior nação do mundo. Os filmes da família Hardy, de Louis B. Mayer, a série mais bem sucedida na história da MGM, prometiam às plateias da era da Depressão que qualquer coisa era possível desde que acatassem o que era considerada a santa trindade da vida americana: família, Deus e o país.
Algumas décadas mais tarde, jornalistas atribuíram a surpreendente eleição do ator George Murphy para o Senado, em 1964, ao seu bom uso do enredo otimista de Mayer. Murphy, democrata que se tornou republicano, “faz as pessoas se sentirem bem”, explicou um jornalista. “Ele não tem nenhuma dúvida e as suas próprias dúvidas podem ser solucionadas”.
Schwarzenegger usou sua própria narrativa heroica na campanha para o governo: tornou-se um populista generoso e compassivo que prometeu dizer aos políticos republicanos e democratas: “Façam o seu trabalho para as pessoas e o façam bem, do contrário, hasta la vista, baby”.
A história nos mostra que poucos cidadãos desejavam ouvir Jane Fonda, Warren Beatty ou Sean Penn apontando para o que estava errado nos EUA. Eles queriam ter a segurança de que, em tempos aterradores, seus líderes conseguiriam derrotar todos os inimigos e propiciar um fim basicamente feliz.
Ronald Reagan, em particular, compreendeu essa necessidade e criou um enredo que foi eficaz para sua campanha e seu governo. Quando disputou o governo, em 1966, e a presidência, em 1980, ele utilizou um roteiro simples constantemente repetido – cujo objetivo era não só obter a confiança dos republicanos, mas também dos eleitores independentes que conseguiram mudar o rumo das eleições e garantir o mandato necessário para uma revolução conservadora no governo.
Ronald Reagan fundiu o triunfalismo americano com mensagens de medo e tranquilidade: o medo do comunismo e do furtivo socialismo federal e garantias de que ele e conservadores resolutos conseguiriam salvar a nação derrotando a União Soviética e derrubando as conquistas sociais do New Deal.
Ele fez sua campanha para a presidência apresentando propostas simples, mas poderosas: reduzir os impostos, retornar o poder para o Estado e governos locais e lutar contra todos os inimigos dos EUA, externos ou internos.
Ao assumir o cargo, Reagan teve problemas quando abandonou aquelas promessas, elevando os impostos e autorizando aumentos no orçamento federal. Ao deparar com uma campanha difícil para a reeleição, ele revitalizou sua base, acrescentando um novo lema que brilhantemente restaurou o roteiro original: “It´s morning in America” (É manhã na America). Reagan venceu a eleição em 1984 em parte porque conseguiu desviar a atenção das suas promessas não cumpridas para a visão de um “final feliz” para os EUA, a volta a um passado imaginado de dias mais simples e melhores.
Para ter sucesso, vencer e conquistar um segundo mandato, Barack Obama precisa reconfigurar o seu exitoso enredo de 2008, que foi, afinal, uma versão democrática do “It´s morning in America”. Como Reagan, ele convenceu os cidadãos a acreditarem na possibilidade de um futuro melhor. Mas ao contrário do ex-presidente, ele insistiu que a mudança viria somente com um governo federal ativista que trabalharia para melhorar a vida de todos os americanos.
Em 2012, Obama pode aprender com Reagan, olhando resolutamente para um futuro promissor e não para os últimos quatro anos desapontadores. Ele precisa retomar sua promessa original de ação. Recentemente ele prometeu ser “um guerreiro da classe média” – o que tem o tom heroico exato, se conseguir demonstrar que é um líder determinado e não um fraco conciliador.
Obama precisa apelar à imaginação, e até às fantasias, do maior público possível; necessita lembrar seu eleitorado fiel e os independentes do que lhes disse em fevereiro de 2008: “A mudança não ocorrerá se esperarmos por alguma outra pessoa ou por muito tempo”. Somos aqueles que estamos esperando. Somos a mudança que buscamos”.
Uma reafirmação dos seus argumentos de 2008 poderá lhe propiciar novamente milhões de votos? Sim, ele pode. Todas as pesquisas indicam que os americanos querem uma mudança em possam acreditar agora mais do que nunca. Um enredo eficaz muda eleitores e eleitores mobilizados mudam o Congresso – como mostraram os partidários do Tea Party e os ativistas do movimento Ocupe Wall Street esperam mostrar.
Os cidadãos fizeram isso com e para Reagan, e podem fazer com Obama – se novamente os seus argumentos inspirá-los mais uma vez a acreditar, agir e votar.
*TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É PROFESSOR DE HISTÓRIA NA UNIVERSIDADE DO SUL DA CALIFÓRNIA E AUTOR DE ‘HOLLYWOOD LEFT AND RIGHT: HOW MOVIE STARS SHAPED AMERICAN POLITICS’
*STEVEN J. ROSS, Los Angeles Times - (Estadão)
://blogs.estadao.com.br/radar-global/obama-seja-um-duble-de-reagan/
*STEVEN J. ROSS, Los Angeles Times - (Estadão)
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