Eu não vou igualar o governo FHC ao camelódromo petista só para que me julguem isento.
Até porque deixo a “isenção” para os que não têm independência para se dizer comprometidos com certas idéias e teses.
Eu, felizmente, tenho.
O tucano também governou segundo esse sistema chamado “presidencialismo de coalizão”, sim; denúncias e casos de corrupção também apareceram em seu governo, mas o fato é que a sua gestão tinha um propósito que, a juízo deste escriba, tirou o Brasil do fim do mundo e o fez um ator importante na ordem global: a modernização da economia, que se expressou por intermédio das privatizações, da abertura ao capital estrangeiro, da reorganização do sistema bancário, da disciplina nas contas públicas, da estruturação da assistência social.
E tudo debaixo do porrete petista, é bom lembrar.
FHC governou essencialmente com o PSDB e com o PFL, os dois partidos que venceram a eleição.
Os leitores mais jovens não têm como saber, mas eu lembro: quando FHC, então pré-candidato do PSDB à Presidência, anunciou a disposição de fazer uma composição com o PFL, a imprensa “progressista” ficou arrepiada.
“Como? O intelectual que veio da esquerda se junta aos conservadores? Que horror!”
Seu governo, depois, e isso todos sabem, foi chamado de “neoliberal” pelos intelectuais e jornalistas pilantras do PT.
Adiante.
O PT entrou na disputa de 2002 prometendo duas coisas antitéticas — o que gloriosamente apontei na revista Primeira Leitura, que fechou as portas em 2006: “mudar tudo o que está aí” (era o discurso de sempre do petismo) e “preservar tudo o que está aí” — essência da tal “Carta ao Povo Brasileiro”, que Antonio Palocci e outros petistas redigiram na sede de um banco de investimentos.
A síntese que fiz à época foi esta, e eu a considero, modéstia à parte, muito esperta até hoje: “O PT é a continuidade sem continuísmo, e Serra (então candidato tucano) é o continuísmo sem continuidade”.
Minha síntese é boa, mas algo fica faltando.
Minha síntese é boa, mas algo fica faltando.
*Por Reinaldo Azevedo
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