quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fazer oposição é uma missão constitucional

...existe oposição para valer nos EUA. Obama estava no poder havia 15 dias, e o odiado Dick Cheney, a besta-fera inventada pelos “progressistas”, deu o grito de guerra e convocou as tropas: “Não, ele não pode!” E convocou a tropa. A emergência do “Tea Party”, um movimento ultraconservador dentro do Partido Republicano, trouxe para o primeiro plano os ditos “valores americanos”.
Fantasia? Pura construção ideológica? Pode ser. Mas Obama era e é o quê? A encarnação da própria verdade?
À diferença do “Cara” no Brasil, Obama é hoje aprovado por apenas 45% dos americanos. Uma coisa é fato: os sinais são péssimos para ele. Ainda que os republicanos não venham a fazer hoje a maioria na Câmara, terão uma avalanche de votos. A situação é tão difícil que, nas entrevistas de rádio, ele abre o jogo, mais ou menos como Lula nos palanques pedindo maioria no Senado: precisa vencer os republicanos nas eleições legislativas para continuar a implementar o seu programa. A retórica é temerária: e se não conseguir? Então admite que seu governo foi para o brejo?
No que concerne ao jogo político propriamente, onde foi que Obama errou? Em quase nada. Os republicanos é que acertaram. Oposição se faz desde o primeiro dia, todos as horas do dia, todos os dias do mês, todos os meses do ano.
Os oposicionistas botaram a boca no trombone, obrigando o governo a se explicar, justificando cada um dos eventuais insucessos. Obama certamente não esperava uma oposição tão aguerrida e confiou demais no seu charme pessoal— talvez tenha sido seu único erro.
...saudei a eleição de Obama como evidência das virtudes do sistema democrático. E saúdo a reação do “meu” partido como prova dessa mesma saúde. Desde que se jogue segundo as regras, a democracia não pode satanizar ninguém. Golpistas, pois, são aqueles que pretendem tirar das forças políticas legítimas as suas prerrogativas — e fazer oposição é uma delas.
Falemos um pouco sobre o Brasil já que é disso que trato aqui desde sempre. O PSDB, o DEM e o PPS têm dois caminhos: podem agir como o PSDB nos últimos oito anos, buscando sempre o, como é mesmo?, “espaço da convergência com o lulo-petismo” em nome daquele sagrado “bem do Brasil”; podem seguir o caminho do Partido Republicano nos EUA e exercer a função para a qual os eleitores os designaram: opor-se. Sim, sim, as diferenças são grandes. Naquele país, existe um quadro de bipartidarismo; por aqui, temos essa massa gelatinosa chamada PMDB. Não ignoro as particularidades. Uma coisa, no entanto, é certa lá e aqui: a ambigüidade da oposição só interessa a quem está no comando.
*Extraído do texto de Reinaldo Azevedo - http://migre.me/1WSHU

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