sábado, 2 de janeiro de 2010

Serra, o desafio

Em comemoração aos 40 anos do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), Flávio Moura e Paula Monteiro organizaram o livro RETRATO DE GRUPO - 40 ANOS DO CEBRAP. O livro traz, entre outras, uma entrevista do governador de São Paulo e virtual candidato do PSDB à presidência da República, José Serra (foto acima). Seguem trechos da entrevista:
-O senhor foi identificado com o polo desenvolvimentista durante todo o governo Fernando Henrique. E hoje, o que significa e quem são os desenvolvimentistas?
-Essa análise não tem muito sentido, é até cretina. O que há de errado em se desejar o desenvolvimento e batalhar por ele? Nada. O problema é outro. O termo tem sido espertamente utilizado para insinuar que os que se preocupam com o desenvolvimento o querem a qualquer preço, mesmo à custa de mais inflação. Não há necessariamente esse dilema, estabilidade x desenvolvimento. Na verdade, a diferença existe em relação a políticas macroeconômicas, e não à estabilidade. Eu só posso dizer o seguinte: em nenhum dos preceitos do consenso de Washington figura a ideia de que para desenvolver o país você precisa megavalorizar a moeda. Isso é simplesmente um erro, não é ortodoxo nem heterodoxo. (...)
-Por que o Plano Real deu certo?
-Porque concentrou-se, inicialmente, na questão essencial: a quebra dos mecanismos de indexação da economia, e não descuidou de três complementos essenciais: a austeridade fiscal e monetária e o financiamento externo. Eu não acreditava que ele ia dar certo, não porque tivesse alguma coisa errada nele do ponto de vista teórico. Eu achava que o governo não ia dar sustentação a ele, sobretudo porque estávamos num período pré-eleitoral. A eleição para presidente da República era em outubro, e o plano ali, no meio desse processo! Não sentia que o governo daria toda a cobertura necessária. Mas deu certo. Refletiu de maneira enfática o cansaço da sociedade com a inflação, Agora, não acho que para o Plano Real dar certo fosse necessário sobrevalorizar a moeda na escala que aconteceu. Mas aí é outra discussão que fica para outro momento. (...)
-Qual é a agenda de futuro para o Brasil, ou qual é a utopia, digamos assim, para um país como o nosso?
-Temos um problema macroeconômico de curto prazo muito sério, antes de falar em longo prazo. O Brasil está de alguma maneira numa armadilha, que tem três lados: os maiores juros do mundo, já há muitos anos; a taxa de câmbio talvez hoje mais valorizada do planeta; e uma explosão de gastos correntes como nunca houve cm valores reais. Na época do Sarney houve uma explosão, mas a inflação era de dois dígitos ao mês. Esse tripé perverso tem um peso determinante, é a tal da travessia. Agora, a longo prazo, temos de pensar o seguinte: o Brasil deve ter hoje 190 milhões de habitantes, perto disso; daqui a dez anos, teremos dezenas de milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho. O modelo primário exportador, para onde o país está caminhando, não é capaz de gerar empregos com o dinamismo que a oferta de trabalho exige. Ele não vai gerar desenvolvimento sustentado (e sustentável) e o país está caminhando para isso. Então é um grande desafio reinventar o desenvolvimento, como se dizia na linguagem da Cepal, "hacia dentro" [para dentro], junto com "hacia fuera" [para fora], porque voltar o desenvolvimento só "hacia fuera", que é o que está acontecendo, não vai dar conta dos problemas principais do país. Esse é o desafio maior: uma economia que simultaneamente se expanda no mercado interno e no mercado externo, até porque se não for assim o desenvolvimento será medíocre.
-E, para finalizar esta entrevista, como, na sua opinião, pode-se encontrar uma nova trajetória que nos permita vislumbrar melhor o futuro?
-Através de um bom debate, algo interditado no Brasil de hoje. Infelizmente esse debate não existe, está obscurecido e até reprimido, não pela força, mas reprimido ideologicamente. E, em segundo lugar, que as forças com maior lucidez política vençam as eleições. (Texto distribuído pela Arko Advice, empresa de consultoria política)

2 comentários:

Partido Alfa disse...

A verdade, Mario, é que se nos quisermos, algum dia, que esse país seja um lugar saudável para se viver, teremos que fazer uma escolha: socialismo ou capitalismo? Para nos, do Alfa, essa escolha está feita. Não conhecemos nenhum exemplo de país socialista com bons niveis de vida, IDH. Mas essa escolha não será como num plebiscito. Será diferente, pois um lado tem que vencer o outro. Os militares chegaram perto, mas não souberam finalizar o serviço. O resultado está ai, nas ruas. Vamos começar de novo. Esperemos que seja pela última vez. Parabens pela escolha, Leticia é linda mesmo.

wilson disse...

No Brasil nem os militares são competentes , como disse o partido Alfa . No Chile eles finalizaram corretamente e já se tornou um grande País , se aquí tivessem feito o serviço correto , uma limpesa bem feita , o Brasil já seria a 3º economia mundial!!!!