terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Pesquisa denota a imprensa e suas "vicissitudes"

Há dias, foi divulgada uma pesquisa CNT-Sensus que apontava uma queda de intenções de voto para a Presidência no tucano José Serra. O jornalismo online fez um escarcéu. Até Clésio Andrade, misto de moralista contumaz e presidente da Confederação Nacional de Transportes, deu entrevista como analista político. Pois é… Falou-se em mudança de patamar de intenções de voto. Ciro Gomes saiu prevendo a desistência de Serra — e lhe deram um amplo espaço para falar o que lhe viesse à veneta, como de hábito. Como sabemos, este rapaz adora falar antes e, se houver tempo, pensar depois. Quase nunca há.
Foi divulgada hoje uma nova pesquisa CNI/Ibope. No cenário mais provável, os números são estes:
Serra - 38%Dilma - 17%Ciro Gomes - 13%Marina Silva - 6%
O que aconteceu em relação ao cenário de 22 de setembro, data da pesquisa anterior do CNI-Ibope? Serra foi o único que, tecnicamente, ganhou voto: a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, e ele acresceu três pontos. Ciro caiu. Dilma cresceu a margem de erro, e Marina caiu na margem. Na pesquisa anterior, neste mesmo cenário, os números eram estes:
Serra - 35%Dilma - 15%Ciro - 17%Marina - 8%
AGORA PRESTEM ATENÇÃOSabem qual é a manchete da Folha Online?
Esta: “Dilma abre vantagem sobre Ciro; Serra lidera corrida”. E se lê na reportagem: “Apesar da vantagem do tucano, que recebeu 38% das intenções de voto em novembro, a pesquisa mostra o crescimento da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto, se consolidando em segundo lugar na disputa.”
Sabem qual é a manchete do Estadão Online?
“Ministério divulga novo gabarito oficial do Enem”.
Na seção de política, há ao menos um título, embora não manchete: “CNI/Ibope: intenção de voto em Serra sobe para 38%”.
Voltem aos números.
Em setembro, a diferença entre Serra e Dilma era de 20 pontos percentuais. Em dezembro, ela é de 21 pontos. Por que o texto da Folha Online, por exemplo, afirma: “Apesar da vantagem do tucano (…), a pesquisa mostra o crescimento de Dilma…”?
A rigor, não mostra: ela variou dentro da margem de erro. E se pode dizer não mais do que “PROVAVELMENTE está à frente de Ciro, o que não é certo: com margem de erro de dois pontos para mais ou mais menos, ambos podem estar com 15%… É o menos provável, mas podem.
Ademais, convenha-se: dado o massacre noticioso, às vezes “noticioso” e publicitário do lulo-petismo, tal resultado não deixa de ser surpreendente.
Esta pesquisa resolveu não dar truque no eleitor e não trouxe indagações especiosas sobre como ele veria, por exemplo, a união entre Aécio Neves e Ciro…
O Ibope também testou o comportamento do eleitor caso Aécio estivesse no lugar de Serra. Eis o resultado: Ciro Gomes - 26% (28% em setembro)Dilma Rousseff - 20% (18% em setembro)Aécio Neves - 14% (13% em setembro)Marina Silva - 9% (11% em setembro)
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Pesquisa indelicada:
Na simulação em que Serra aparece como candidato, ele poderia vencer a disputa no primeiro turno: tem 38% dos votos contra 36% dos adversários. Como a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, seria apenas uma possibilidade. Mas é remota: afinal, 12% dos entrevistados não disseram a sua preferência, e 13% afirmaram que anulariam o voto ou votariam em branco. Somados os dois índices, há um mar de eleitores aí.
O mais provável é que a disputa presidencial do ano que vem se decida no segundo turno, e eu não vejo uma boa razão — ou vejo um só — para a Confederação Nacional da Indústria, ou qualquer outro cliente que encomende uma pesquisa, não perguntar ao eleitor o que ele faria nesse caso. Ninguém quer saber para quem migrariam os votos de Ciro caso Serra dispute com Dilma? A razão possível é a probabilidade de Serra estar muito à frente, e o governo pode achar isso uma indelicadeza…
*Li no blog do Reinaldo Azevedo

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