terça-feira, 28 de julho de 2009

Pai patrão


Comentário de Ricardo Noblat:

Diga se o PT pode achar graça nisto: Lula pôs na cabeça que uma mulher, executiva, de temperamento forte, estreitamente ligada a ele, seria a melhor aposta para sucedê-lo.
Relevou o fato de ela nunca ter disputado uma eleição, não ter feito carreira dentro do PT, não ter carisma, nem trânsito fácil entre os partidos que apóiam o governo.
Para elegê-la, caberia ao PT curvar-se obsequioso às decisões de Lula.
Por exemplo: assistir sem chiar a ocupação pelo PMDB de cargos chaves na administração pública. Ceder ao PMDB a vaga de vice na chapa à presidência da República. Ceder também a candidatura ao governo nos Estados onde o PMDB for mais forte. E, por fim, socorrer o PMDB em suas atribulações. Afinal, pelo poder supremo tudo vale.
Em 2002, para ganhar o apoio à sua candidatura do PL de José de Alencar, Lula avalizou o pagamento ao partido de R$ 6 milhões.
O negócio foi conduzido por Delúbio Soares, tesoureiro do PT, e José Dirceu, na época coordenador da campanha de Lula.
Enquanto eles conversavam em um quarto de apartamento de Brasília com o deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Lula e Alencar esperavam no terraço o desfecho da negociação.
O PT aborreceu-se, mas engoliu a seco a indicação de Dilma Rousseff para presidente da República. Fazer o quê? Não tinha um candidato natural. Nem coragem para desafiar Lula.
Engoliu também a idéia de que o lugar de vice na chapa de Dilma é do PMDB. Antes havia engolido a entrega ao PMDB de seis ministérios e de algumas centenas de cargos que, juntos, movimentam algo como R$ 240 bilhões por ano.
Agora empanturrado, diante do risco de sofrer uma indigestão, o PT ameaça regurgitar o socorro a José Sarney (PMDB-AP) e a montagem de palanques estaduais na condição de coadjuvante do PMDB.
O chamego do PT com o PMDB é novidade. Há 20 anos, candidato a presidente pela primeira vez, Lula desprezou o apoio do PMDB. Em 2002, foi o PMDB que desprezou o apoio a Lula preferindo a companhia do PSDB de José Serra.
O exercício do poder tem lá muitas vantagens, mas desgasta.
O PT coleciona cicatrizes dolorosas desde que subiu a rampa do Palácio do Planalto. A pior delas tem a ver com seu papel de protagonista em alguns dos mais rumorosos escândalos políticos recentes.
Foi pelo ralo a imagem construída pelo PT de partido campeão da ética, aferrado a sólidos valores compartilhados pela maioria dos seus militantes.
Se amanhã o PT quiser retomar o discurso contra a corrupção ouvirá uma gargalhada nacional.
Se disser que está disposto a se livrar das más companhias simplesmente não será ouvido.
A situação do PT não faz diferença para Lula que se descolou dele. Em 2014, se ceder à tentação de concorrer à presidência pela sexta vez, Lula se apresentará como candidato preferencial de uma ampla coligação de partidos. O PT será apenas mais um.
É por isso que o partido esboça uma reação às cobranças de Lula. Por ora ainda tímida, é verdade.
Tome-se o caso de Sarney, abandonado pelo PSDB, DEM, PDT, PSB e por senadores do próprio PMDB. Sarney mentiu a seus pares quando negou qualquer ingerência na Fundação José Sarney.
E mentiu novamente ao dizer que jamais houve atos secretos. Gravação o liga a ato secreto que empregou no Senado o namoradinho da neta.
Oito dos 12 senadores do PT são candidatos à reeleição. Que tal serem apontados durante a campanha como aqueles que salvaram Sarney da degola?
Quanto a abrir espaço para o PMDB nos Estados, o PT rumina em silêncio: e se Dilma perder? E se parte do PMDB largá-la de mão no meio da campanha ou mesmo antes? Que vantagem teria levado Maria? É a eleição de governador que costuma puxar a eleição de senadores e deputados. E então?
Lula tem gordura suficiente para perder se insistir em bancar Sarney. E não perderá nenhuma se Dilma perder ou se o PT sair enfraquecido das eleições estaduais.
O PT não poderá se dar a esse luxo.

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