Eu faço parte da imprensa
burguesa. É legal. Todo dia 5 recebo meu salário direitinho e não dependo de
financiamento oficial. Quer dizer: não preciso ficar elogiando o governo. Já
pensou ter de elogiar, por exemplo, a nomeação de Aldo Rebelo como ministro da
Ciência, Tecnologia e Inovação?
Seria dureza.
Não que ache Aldo Rebelo má pessoa, não o
conheço o suficiente para dizer se ele é boa ou má pessoa, mas, por sua atuação
como homem público, posso, sim, dizer que o homem é uma espécie de inimigo exatamente
da ciência, da tecnologia e da inovação.
Aldo Rebelo, imagine, foi autor de um projeto
que propunha proibir a adoção de inovações tecnológicas nos órgãos públicos,
com a justificativa de preservar empregos. Não é uma ideia nova. Alguns já a
tiveram no começo da Revolução Industrial. Mas, de lá para cá, caiu em desuso,
como a sangria como método terapêutico.
O raciocínio do ministro é o seguinte: para
assegurar o trabalho das datilógrafas e dos operários das fábricas de máquinas
de escrever, não haveria computadores no serviço público brasileiro. Sério! O
ministro da Inovação Tecnológica apresentou um projeto contra a inovação
tecnológica!
Outro projeto, digamos, original de Aldo Rebelo
foi aquele famoso que queria proibir o uso de palavras de raiz estrangeira no
Brasil. O YouTube, por exemplo, seria chamado de “Tutubo”.
Nessa linha nacionalista há outra proposta de
Aldo Rebelo, esta mimosa: a de substituir as festinhas de Halloween pelo Dia
Nacional do Saci-Pererê.
Para evitar que você comece a chorar de rir, vou
citar só mais um projeto do nobre parlamentar comunista (só podia). É o célebre
“Pró-Mandioca”, que obrigaria o acréscimo de 10% de raspa do brasileiríssimo
aipim à farinha de trigo da qual se faz o pão.
Mas vá que você não ache importante esse
ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Certo. Talvez não seja muito
importante mesmo. Mas o da Educação é, não é? Claro que é, inclusive o novo
lema do governo é “Brasil, pátria educadora”. Lindo. Só que o flamante ministro
da Educação, Cid Gomes, diz que os professores não devem trabalhar por
dinheiro. Segundo ele, o presidente, os ministros, os senadores, os
governadores, os deputados, os vereadores, os policiais e os professores devem
trabalhar só por amor; se quiserem dinheiro, devem procurar a iniciativa
privada. Parece que os professores e os policiais concordam com o ministro,
eles só trabalham por amor. Agora falta convencer os senadores, governadores,
deputados, ministros, vereadores...
Isso ainda é pouco, acredite, porque o novo
ministro dos Esportes, um pastor com apropriado nome de lateral-direito, George
Hilton, foi expulso do PFL sob acusação de corrupção.
Vou repetir: ele foi expulso do PFL por ser
acusado de corrupção.
Você entende o que isso significa? O homem foi
expulso DO PFL! Do PFL, entendeu? Pê Efe Ele! Por corrupção!
Credo.
Aliás, outros dois novíssimos ministros,
Gilberto Kassab e Kátia Abreu, também vieram do PFL, e o Garotinho vai para uma
vice-presidência do Banco do Brasil, e o ministro dos Transportes enfrenta
processos na Justiça e já foi condenado a devolver R$ 70 milhões aos cofres
públicos, e a Petrobras...
Deixa assim.
É o que basta para me solidarizar com os
jornalistas sustentados pelo governo e que têm de achar meios de elogiá-lo. Vou
continuar aqui, na trincheira segura da imprensa burguesa, criticando o governo
de vez em quando. Pelo menos até o PT conseguir aprovar seu famoso projeto
português de censura. Aí, bom, sempre posso contar para vocês como o marido da
Gisele Bündchen se saiu no jogo dos Patriots.
*Por David Coimbra, no Zero Hora (david.coimbra@zerohora.com.br)
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