sábado, 6 de setembro de 2014

Ex-diretor da Petrobras entrega partidos e políticos em delação premiada.

(Foto: Helia Scheppa/Jc Imagem/Ae)

O ex-diretor Paulo Roberto Costa. Ele fez um acordo e confirmou o esquema da Petrobras 

Quando os policiais federais chegaram ao apartamento do investigado Paulo Roberto Costa, no bonito condomínio Riomar IX, na Barra da Tijuca, no final de março, tinham a missão de prender um dos clientes do doleiro Alberto Youssef, alvo de uma operação por lavagem de dinheiro. Não sabiam quem ele realmente era. Sem saber também que era monitorado pelos policiais, assim que soube que estava para ser preso, Paulo Roberto correu para o telefone e ordenou que familiares fossem a seu escritório e destruíssem computadores e documentos. Os federais não sabiam que Paulo Roberto não era um mero cliente de doleiro. Não sabiam que ele fora um poderoso ex-diretor de Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012, bancado por um consórcio formado por PT, PMDB e PP.

Ao rastrear os telefonemas dados por ele no momento de desespero, uma equipe da PF foi ao escritório e encontrou tudo vazio. As imagens feitas por câmeras internas identificaram que duas filhas e genros de Paulo Roberto saíram do local carregando um vasto material. Na semana passada, cinco meses depois, entendese o desespero de Paulo Roberto naquele momento para esconder seus arquivos. Todos foram recuperados pela polícia e esmiuçados. Após enfrentar meses na cadeia, ele começou a contar o que sabe.

Numa série de depoimentos prestados ao Ministério Público Federal no Paraná, Paulo Roberto já deu os nomes de ao menos 49 deputados federais, 12 senadores e pelo menos um governador, todos beneficiados por desvios de recursos da Petrobras. De acordo com os depoimentos de Paulo Roberto, a turma ficava com uma comissão de 3% dos contratos celebrados pela área sob sua batuta na Petrobras com empreiteiras. Entre os beneficiários citados está o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). De acordo com o jornalO Estado de S. Paulo, Paulo Roberto afirmou que o doleiro Alberto Youssef esteve em Brasília para combinar com Renan o aporte de R$ 50 milhões do Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, numa empresa de viagens ligada a Youssef. Renan exerce forte influência no Postalis. Youssef foi acusado de pagar propina ao PMDB em troca dos investimentos do Postalis em sua empresa. O negócio não foi adiante porque Youssef e Paulo Roberto Costa foram presos durante a negociação do acordo. Procurado por ÉPOCA, Renan não respondeu até o fechamento desta edição.

As denúncias de Paulo Roberto tumultuarão várias corridas eleitorais – e a campanha de Dilma Rouseff
Paulo Roberto decidiu falar porque ficou sem saída. Caiu nas mãos do juiz Sérgio Moro, a maior autoridade brasileira em lavagem de dinheiro, conhecido por seu rigor. A pena pelos crimes dele pode passar dos 50 anos de prisão. A Justiça tem provas fartas para condenálo. Suas agendas e contabilidade foram apreendidas. A Justiça da Suíça informou que ele e seus familiares tinham US$ 23 milhões em contas bancárias no país. Depois que a polícia apreendeu documentos nas empresas de suas filhas, genros e um amigo, Paulo Roberto entregou os pontos. Pelo acordo de delação premiada, é obrigado a contar tudo o que sabe e a colaborar nas investigações. A depender de seu desempenho, poderá ser beneficiado por uma pena menor, que poderia até ser cumprida em casa.


Paulo Roberto tinha a simpatia de três partidos e do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável por sua condução ao cargo. Lula o chamava de “Paulinho”. Paulo Roberto teve sob seu comando a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, orçada em R$ 20 bilhões. De acordo as investigações da Polícia Federal, o principal cliente de Paulo Roberto era a empreiteira Camargo Corrêa, que liderava um dos consórcios que faziam as obras. Como ÉPOCA revelou em junho, quando deixou a Petrobras, Paulo Roberto tornouse um ativo consultor, com 81 contratos com empresas clientes da estatal. Grande parte desses clientes que repassaram dinheiro à empresa dele, a Costa Global, trabalhava nas obras de Abreu e Lima. Há provas de que Paulo Roberto recebeu milhões de 23 empreiteiras, em contas no Brasil e na Suíça, na maior parte das vezes sem prestar qualquer serviço, segundo sugerem os documentos em poder da Polícia Federal. A papelada descoberta pela PF cita nomes das empresas Andrade Gutierez, Queiroz Galvão, Engevix, Sanko-Sider, Iesa e GDK como clientes de Paulo Roberto. Todas as empreiteiras sempre negaram irregularidades na contratação dos serviços de Paulo Roberto.

Faltava, até agora, relacionar o dinheiro recebido dessas empreiteiras a políticos. É essa ponta do enredo que o depoimento de Paulo Roberto poderá ajudar a esclarecer. Nos próximos dias, a campanha eleitoral será fatalmente contaminada pelo conteúdo de suas denúncias. Pela extensão e gravidade delas, é provável que interfiram em várias corridas locais e regionais – além de, obviamente, atingir em cheio a campanha da presidente Dilma Rousseff. O processo está agora no Supremo Tribunal Federal, nas mãos do ministro Teori Zavacki, a quem cabe, primeiro, homologar o acordo e, em seguida, tomar as providências necessárias para que as denúncias tenham consequências. Como o processo do mensalão já demonstrou, dá trabalho – mas é perfeitamente possível levar os corruptos para a cadeia. 

* Da redação da revista ÉPOCA

*Enviado por: José Paulo de Resende

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