sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A dupla militância do marido de Marina.

Filiado à Rede, Fábio Vaz é secretário de governo petista mas diz que pediu exoneração.
BRASÍLIA — A independência política e de militante verde do biólogo Fábio Vaz de Lima tem custado algumas saias-justas a sua mulher, a ex-senadora e fundadora da Rede Solidariedade, Marina Silva. Egresso da chamada “turma de Chico Mendes”, junto com Marina e os irmãos Tião e Jorge Viana (PT-AC), ele segue, sem constrangimentos, instalado no governo petista do Acre. Não o abalou do cargo o tom do evento de formalização da coligação PSB/Rede, quando Marina e o pré-candidato à Presidência e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, adotaram o discurso do contraponto “à velha política das oligarquias” e ao “chavismo do PT”.
Cobrado por setores do partido da presidente Dilma Rousseff, inclusive do PT acriano, Fábio manteve a ligação umbilical com os Viana no Acre, e o cargo de secretário Adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis do governo Tião Viana. Fábio tenta se manter distante dos movimentos políticos da esposa, até para manter a independência que tanto preza. É também avesso a falar com a imprensa. Procurado pelo GLOBO, não respondeu aos pedidos de entrevistas. Marina também não quis falar.
Paulista de Santos, ele foi para o Acre como técnico agropecuário em busca de ajuda de um tio que morava no estado. Na faculdade, onde Marina cursava História, começaram a militar no movimento estudantil, com os irmãos Viana. Para a política partidária foi um pulo: primeiro PT, depois PV e, agora, Rede. Porém, sempre integrado aos governos petistas de Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana. No Congresso, foi assessor do ex-senador e agora deputado acriano Sibá Machado.Companheiro de Marina na criação da Rede e hoje filiado ao PSB, o deputado Alfredo Sirkis (RJ) diz que a ex-ministra e Fábio integram um tipo de “família”, com os egressos da turma de Chico Mendes, um grupo que transcende a questão partidária. Fábio fica mais à margem das decisões partidárias, e assim ganha certa independência para continuar nos governos.
— O Fábio hesita em ter muita influência desde o PV. Nunca o vi envolvido nas questões partidárias da Rede também. Isso lhe deixa com mais liberdade para trabalhar. Ele e Marina encontraram uma fórmula de contornar essa situação — diz Sirkis. Como secretário-adjunto de Desenvolvimento Florestal e engajado com ONGs internacionais de meio ambiente, Fábio comandou a implantação da agência que cuida da venda de créditos de carbono no Acre. Enquanto ele mantém sua vida profissional no Acre, Marina e os filhos têm residência fixa em Brasília. Em 2012, o marido da ex-senadora foi personagem de outra saia-justa na tensa votação do Código Florestal na Câmara. Pressionado pelos verdes e por Marina, o então relator da proposta na Câmara, o hoje ministro do Esporte, Aldo Rebelo, fez uma inconfidência para mostrar que discurso e prática nem sempre caminham juntos para Marina.
Aldo revelou na ocasião que, quando era ministro de Relações Institucionais, no governo Lula, foi procurado pela ainda petista ministra do Meio Ambiente. Ela teria lhe pedido ajuda para evitar que Fábio fosse convocado a dar explicações no Congresso sobre seu suposto envolvimento na doação irregular de seis mil toras de mogno à ONG Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase). Segundo o Tribunal de Contas da União, a carga milionária de madeira clandestina apreendida pelo Ibama teria sido repassada pela ONG à madeireira Cikel. A empresa teria pago R$ 3,5 milhões à Fase e faturado cerca de R$ 8 milhões. Fábio foi ligado ao caso por ser, a época, um dos coordenadores do Grupo de Trabalho Amazônico e integrante da ONG Fase. Teria influenciado o Ibama a doar e apurar o preço real da madeira clandestina de forma irregular. A carga valeria 36 milhões, e não R$ 8 milhões. Mas não precisou ir ao Congresso: os governistas rejeitaram o pedido de convocação.
* POR MARIA LIMA

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