sexta-feira, 25 de abril de 2014

Alexandre Padilha indicou diretor de laboratório fantasma.

Ex-ministro da Saúde é citado nas mensagens trocadas entre o doleiro Alberto Youssef e o deputado petista André Vargas.

Rodrigo Rangel, na Veja.com
O Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, divulga os novos resultados da pesquisa Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) 
(Elza Fiuza/ABr)

Outras figuras estreladas do PT, o Partido dos Trabalhadores, aparecem em documentos inéditos da investigação que levou para a prisão o doleiro Alberto Youssef, acusado pela Polícia Federal de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou 10 bilhões de reais. Mensagens interceptadas durante a Operação Lava Jato e obtidas por VEJA arrastam para o escândalo o deputado Candido Vaccarezza (PT-SP) e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato petista ao governo de São Paulo. Os nomes de Vaccarezza e Padilha aparecem em um relatório enviado à Justiça pela Polícia Federal, detalhando a ligação do deputado André Vargas (PT-PR) com o doleiro Youssef. 
Mensagens interceptadas pelos policiais mostram que Youssef participou, junto com André Vargas, de uma reunião no apartamento de Vaccarezza, em Brasília, para tratar de interesses do doleiro. Também esteve no encontro o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo Collor que já havia aparecido na investigação como sócio oculto de Alberto Youssef no laboratório Labogen. Graças à ajuda dos políticos amigos do doleiro, a Labogen, uma empresa de fachada controlada por Youssef, conseguiu fechar um contrato para fornecer remédios ao Ministério da Saúde. 
Na troca de mensagens, datada de 25 de setembro do ano passado, Youssef avisa André Vargas que acabou de chegar a Brasília e que precisa falar com ele. Diz que viajou junto com PP, como é conhecido Pedro Paulo Leoni Ramos. “Achei que você estivesse aqui na casa do Vacareza (sic)”, escreve o doleiro. “Tô indo”, responde André Vargas. Diz a Polícia Federal no relatório: “Os indícios apontam que o alvo Alberto Youssef mantinha relações com o deputado federal Candido Vaccarezza, inclusive indicando que houve uma reunião na casa do deputado federal Vaccarezza, reunião esta entre Alberto Youssef, deputado federal André Vargas e Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos”. 

Reprodução 
Trecho de relatório da Polícia Federal sobre a Operação Lava-Jato

O telefone do deputado Candido Vaccareza aparece destacado entre os contatos da agenda de um dos aparelhos usados pelo doleiro. No mesmo dia do encontro no apartamento de Vaccarezza, Youssef volta a falar com André Vargas. E diz que o deputado deve “cobrar e ficar em cima”. “Senão não sai”, diz ele. Cinco minutos depois, Vargas escreve: “(Em) 30 dias estará resolvido”. Para a polícia, eles estavam articulando o contrato da Labogen com o Ministério da Saúde, assinado três meses depois. 
Telefone do deputado Cândido Vaccarezza aparece na agende de doleiro

É justamente em torno dos negócios que o grupo buscava para ganhar dinheiro com o Labogen, um laboratório fantasma, que aparecem as referências diretas ao então ministro Alexandre Padilha, agora pré-candidato ao governo paulista. Em 26 de novembro de 2013, André Vargas diz que falou com “Pad”, que a PF relaciona a Padilha. “Falei com Pad agora e ele vai marcar uma agenda comigo”, escreveu o deputado ao doleiro. 
As referências a Padilha aparecem novamente em mensagens trocadas dois dias depois pela dupla. André Vargas conversava com o doleiro sobre a contratação de um executivo para a Labogen. O deputado avisa que o executivo escolhido encontraria Youssef dias depois. E avisa que quem indicou o executivo para a Labogen foi Padilha. Ele passa o número do tal executivo, um celular registrado em Brasília, e na sequência arremata: “Foi Padilha que indicou”. Pelo número de telefone, os investigadores identificaram o “indicado” como Marcus Cezar Ferreira da Silva. “O executivo indicado por Alexandre Padilha”, como os investigadores se referam a Marcus no relatório, trabalhou como assessor parlamentar de um fundo de pensão controlado pelo PT. 
Em 3 de dezembro de 2013, Youssef pergunta se André Vargas tem acesso a um superintendente da Caixa Econômica Federal. Logo depois, o doleiro lembra o deputado da necessidade de marcar uma reunião na Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa, dono de uma carteira de ativos de 52 bilhões de reais. No dia 11 de março deste ano, o doleiro e o deputado combinam de participar, juntos, de um encontro em Brasília com um representante Funcef. De última hora, Vargas avisa que não poderá ir mais e dá as coordenadas para que Youssef se dirigisse para o lugar combinado – a sede da Funcef. Youssef pergunta então se pode usar o nome de Vargas. O deputado prontamente diz que sim. Pelas mensagens, a reunião teria sido com um dos diretores do fundo. Ao final, Youssef dá satisfação a Vargas: “Acabei de ser atendido. Falo com você como foi”.

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