segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Chile e o Brasil

No blog do Reinaldo Azevedo:
O colunismo da imprensa brasileira é tão divertido que, às vezes, chega a dar vontade de chorar… Michelle Bachelet, presidente do Chile, tem o apoio de 85% da população — mais do que Lula. A economia do país está arrumada e crescendo. Não há reeleição por lá. Ela governa sustentada pela chamada “Concetação”, uma aliança de socialistas e democrata-cristãos, que se intitula de centro-esquerda e está no poder há 20 anos.
Os chilenos foram às urnas ontem. Com tudo a favor, o candidato do governo, Eduardo Frei, obteve apenas 29,62% dos votos. O conservador Sebastián Piñera, chamado gostosamente de “direitista” pela imprensa brasileira, ficou em primeiro, com 44,03%. Ele lidera a Coalizão pela Mudança. Dois dissidentes da Concertação também concorreram: Marco Enríquez-Ominami, 36, ficou com 20,12%, e o comunista Jorge Arrate, 6,21%.
Haverá segundo turno. Todos os outros somados poderiam bater Piñera? Poderiam, mas se sabe que as coisas não funcionam bem assim. Nas simulações de segundo turno, ele vence.
As fadas Sininho já correram para fazer a bomba explodir longe do pirata…Ora, é evidente que se está diante de um caso que evidencia que um governo popular pode não fazer seu sucessor. A campanha do Chile merece ser estudada. Piñera também não tinha nenhuma grande revolução a oferecer à população. Disse apenas que era possível fazer melhor e criou, vamos dizer, um espírito em favor da mudança.
É claro, fadinhas, que sei haver diferenças grandes entre Brasil e Chile — que não tem partes do país vivendo na idade da pedra lascada. Frei já foi presidente (não muito popular); a Concertação está no poder há 20 anos; dois candidatos da esquerda resolveram concorrer fora do bloco etc. Mas nada disso nega o fato óbvio: um governo com ampla aceitação não fez seu sucessor.
Uma eleição é mais do que a economia e a popularidade do mandatário, estúpido!
Sim, Bachelet não é Lula: não abusa da retórica populista; não está construindo um altar para si mesma; não sataniza as oposições; respeita as regras do jogo e não se meteu em proselitismo eleitoral… Mas quem disse que essas coisas contam necessariamente a favor do PT no Brasil? Mais: Frei já era conhecido dos chilenos; mas quem disse que ser feita candidata do nada é necessariamente melhor?
Caso Liñera vença mesmo a disputa, as oposições no Brasil têm menos razão para se animar do que tem para se preocupar o PT.

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