segunda-feira, 27 de março de 2017

Uma resposta na medida certa.

Ante a decisão da Segunda Turma de STF, que aceitou denúncia contra o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a reação de todos os partidos foi imediata, inclusive do PT, que tem como relator da reforma política na Câmara dos Deputados, Vicente Cândido (PT-SP), que defende que o Congresso enfrente a desgaste para discutir anistia aos alvos da Operação lava Jato como forma de “distensionar o país”.
“Temos de ter pensamento estratégico. O que é melhor para a sociedade nesse momento? Até aprovar uma anistia, seja criminal, financeira, tudo é possível, não é novidade no mundo”, afirmou o indefectível deputado em suas sábias palavras. Só que o nobre deputado Vicente Cândido não combinou com a sociedade brasileira e não perguntou o que ela acha desse grande (?) pensamento estratégico. Se a turma do PT não tivesse envolvido até o pescoço neste lamaçal de corrupção o nobre deputado não estaria defendendo esta reforma. Certamente ele não sabe o que é melhor para a sociedade, mas sabe com certeza o que é melhor para salvar o pescoço dos denunciados na Operação Lava Jato.
A segunda notícia que deixou os políticos em polvorosa foi o anuncio da segunda lista de Janot (Rodrigo Janot, procurador-geral da República-PGR), que poderá expor algumas dezenas de políticos e coloca-los na berlinda perante a Operação Lava Jato.
Diante destes fatos, formou-se uma confusão no Congresso Nacional, um corre-corre danado entre políticos que queriam saber o que fazer caso seus nomes aparecessem na lista e o STF aceitasse denúncia contra eles. Eles, os políticos, não contavam com tal decisão e agora estão na iminência de serem pegos com a boca na botija. 
Preocupados o presidente da República, Michel Temer; presidente do Supremo Tribunal Eleitoral, Gilmar Mendes; presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE); presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), todos com nomes citados na Lava Jato, reuniram-se no Palácio do Planalto para deliberarem sobre o assunto e tentarem se proteger da ameaça que paira sobre eles e seus pupilos.
Estranhamente o único que não deveria estar nesse encontro era o ministro Gilmar Mendes, que além de ter participado desta famigerada reunião e de participar de outras com sua turma do PSDB, foi falar na imprensa (êta ministro pra gostar de palanque e de microfone), da possibilidade de que o Ministério Público Federal teria vazado alguns nomes que seriam alvos dos 83 pedidos de inquéritos feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
“Eu mesmo me manifestei publicamente sobre esse lamentável fenômeno em mais de uma oportunidade. Cheguei a propor no final do ano passado o descarte do material vazado, numa espécie de contaminação de provas colhidas licitamente”, afirmou ele.
Mendes ainda pediu que a PGR explicasse o caso ao STF: “a Procuradoria-Geral da República tem que prestar a este tribunal explicação sobre esses fatos. Quem quiser cavalgar escândalo porque está investido de poder de investigação está abusando de seu poder, e isso precisa ser dito em bom tom (...) Quando praticado por funcionário público, vazamento é eufemismo para um crime. E os procuradores certamente não desconhecem”.
Diante de tais afirmações, Rodrigo Janot reagiu num tom duro e direto, nesta quarta feira(22/03/2017), às acusações feitas por Gilmar Mendes, em evento da Escola Superior do Ministério Público da União, em comemoração aos três anos da Lava Jato, quando classificou de mentira que beira a irresponsabilidade a informação reproduzida por Gilmar Mendes.
Embora não tenha citado o nome de Gilmar, Janot mandou recado para ele dizendo que ideias como estas só poderiam vir de “mentes ociosas e dadas a devaneios e servilismo”. “Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder político e repudiamos a relação promiscua com a imprensa”, declarou Janot.
 “Ainda assim, meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos à sua decrepitude moral, e para isso  acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se não raras vezes da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no Estado”, acrescentou.
“Infelizmente, precisamos reconhecer que sempre houve, na história da humanidade, homens dispostos a sacrificar seus compromissos éticos no altar da vaidade desmedida e da ambição sem freios”, discursou.
“Esses não hesitam em violar o dever de imparcialidade ou em macular o decoro do cargo  que exercem; na sofreguidão por reconhecimento e afago dos poderosos de plantão, perdem o referencial de decência e de retidão”, emendou.
Janot destacou a diferença moral entre os integrantes do Ministério Público, para os quais discursava, e quem acusa a PGR de cometer crimes, a exemplo de Gilmar. “Não se impressionem com a importância que parecemtransitoriamente ostentar. No fundo, são apenas difamadores e para eles, ouvidos moucos é o que cabe e, no limite, a lei. Não somos um deles, e isso já nos basta”.
Para encerrar, compartilho com os senhores a advertência do mestre Montesquieu que sempre tive presente comigo: “O homem público deve buscar sempre a aprovação, mas nunca o aplauso. E, se o busca, espera-se, ao menos, que seja pelo cumprimento do seu dever para com as leisjamais pelo servilismo ou compadrio”.
Com as estabanadas declarações do ministro Gilmar Mendes, fica claro para muita gente o seguinte: quando denuncias comprovados contra corruptos e ladrões como Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e outros citados na Operação Lava Jato forem divulgadas na imprensa, as provas devem ser descartadas e eles tornam-se inocentes. Ministro sem noção.
Com essa manifestação que beira a irresponsabilidade, como disse Janot, o ministro Gilmar Mendes deliberou que todos os ladrões, corruptos, estupradores, assassinos, sequestradores, pedófilos, enfim, todos os criminosos de plantões de nosso Brasil varonil, que tenham material do processo vazado na imprensa sobre suas ilicitudes, seus processos devem ser descartados, anulados e desta forma abre-se à porteira para suas liberdades. Simples assim.
A resposta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ministro Gilmar Mendes, é uma resposta (corajosa) dada no momento e na medida certa, para aqueles que são contra a Lava Jato e os que defendem anistiar políticos envolvidos no uso de dinheiro de caixa 2 e defendem reforma política com a implantação do sistema de lista fechada já para as próximas eleições. Do jeito que está na proposta da reforma política à lista visa somente proteger os políticos corruptos e indiciados na Operação Lava Jato.
Diante do exposto fica aqui minha indagação: porque que um ministro do STE entra nesta briga quando deveria estar fazendo valer seus conhecimentos jurídicos na aplicação das leis contra os desmandos dos políticos e empresários desonestos que infestam o país, isto é que não dá para entender? (ou dá?). 
Como disse Montesquieu, “o homem público não deve buscar sua aprovação defendendo compadrios”. Se não ele corre o risco de se tornar um deles (sic).
Juarez Cruz - Escritor e colunista - Salvador-BA (juarez.cruz@uol.com.br)

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