quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O jeca ameaçou: vou sobreviver. Que sobreviva morto como está, discursando para quem vê gente morta.

A celebração acabrunhada do aniversário de 70 anos de Lula foi tão disfórica que Chico Buarque trocou os parabéns por um sinto muito. O verniz do mito cuja ascensão se traduziu em retrocesso para o Brasil só reluz aos olhos de quem prefere ver o brilho da chave do cofre ou dos devotos incuráveis. Ao tentar reverter o fluxo irreversível do perecimento, o jeca não se importa em tentar arruinar o que ainda resta do país exaurido. 
Chocante?

Somente porque confirma as expectativas. Pois, o jeca faz da verdade, a cada instante, um desacontecimento: culpa a realidade pelas mentiras da Dilma candidata; debocha das investigações da Lava Jato; e açula as franjas radicais do espectro lulopetista numa resposta ao que chamam de “conservadorismo da direita raivosa” contra o “mandato popular” de Dilma e a candidatura dele em 2018. O jeca ameaçou: vou sobreviver. E daí? Que sobreviva morto como está, discursando para quem vê gente morta. 

Há outro Brasil renascido que sobrevive apesar do jeca e da súcia, do assalto que não cessa, do futuro desfalcado, da perplexidade cansada na contemplação do absurdo cotidiano e da cotidiana naturalização forçada dele. Um Brasil que, nos gramados do Congresso, resistiu com inteligência e bravura ao ataque da pátria diminuta de um caudilho parido da mística chulé do líder popular oriundo da truculência do sindicalismo pelego que, já na origem, via o tal povo como meio e jamais fim. 

O ataque recrutou até gestantes e crianças para dar cara de povo à horda alugada para ser fascista. A súcia não sabe nem quer saber quem é o povo, onde mora, as necessidades e os desejos dele. Para garantir o controle, prefere mistificar e contratar um povo de aluguel. Na dissimulação, abusa do adjetivo “popular” em sintagmas com “governo”, “democracia” ou “líder” para a sintaxe vigarista da discurseira dos patronos e esbirros de um Brasil caquético que perdeu no confronto com aquele que é só frescor e que mostrou o desejo de mais da metade dos brasileiros: não quer mais ver gente morta sobrevivente. 

Parece pouco quando tudo em volta é uma nação em ruínas com ilhas de civilidade mal unidas por pontes escassas, mas também o jeca milionário de hoje começou com discursos que juntavam uma dezena de pessoas. A figura, cuja ascensão moral não acompanhou a política, tomba indigna sonhando apenas em sobreviver e, morrendo de medo da cadeia, desinventa a verdade apontando inexistente sabotagem à candidatura de 2018. Apesar de tudo ou por causa de tudo, não sei, há o fluxo e uma nação que não morreu e, renascida, deixa um cheiro de feriado na alma dos indignados que precisarão fazê-la vingar. 
*Por Valentina de Botas - Augusto Nunes

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