quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sobra sujeira e falta comida nos hospitais do Rio.

Sala de atendimento do Hospital estadual Rocha Faria tomada de lixo, na manhã de segunda-feira
Sala de atendimento do Hospital estadual Rocha Faria tomada de lixo, na manhã de segunda-feira Foto: Leitor via WhatsApp / Divulgação.
A crise financeira que atinge o governo estadual deixou pacientes de hospitais públicos na sujeira e com comida improvisada. No Rocha Faria, em Campo Grande, montanhas de lixo estão espalhadas por corredores e salas de atendimento. Médicos recolhem materiais infectados, e parentes de pacientes precisam limpar as enfermarias. Já no Albert Schweitzer, em Realengo, desde sábado as refeições dos pacientes se restringem a um copo de 300 mililitros de sopa. No Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac), no Humaitá, o problema atinge tanto a limpeza quanto a alimentação. Funcionários das duas áreas estão em greve. O problema nas três unidades é causado pela falta de pagamento aos terceirizados, que interromperam as atividades.
— Os funcionários e os pacientes estão há um mês comendo só ovo. Frito, mexido, cozido, de todos os jeitos. Mas agora não tem nem isso. Não está trabalhando ninguém na cozinha nem na limpeza. A gente é que não deixou isso aqui ficar mais sujo — contou uma funcionária do Iecac, que pediu para não ser identificada.
Lixo acumulado ao lado da porta do centro cirúrgico do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá, na tarde de segunda-feira

Lixo acumulado ao lado da porta do centro cirúrgico do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá, na tarde de segunda-feira Foto: Flávia Junqueira / Extra.
Na última segunda-feira, o almoço que deveria ser servido às 11h só saiu às 13h — arroz, feijão e frango. Assim como as quentinhas, a limpeza também chegou, nesta segunda-feira, ao instituto de forma emergencial. A unidade, que passou o fim de semana com lixeiras transbordando, recebeu equipes da Comlurb durante a tarde. Ainda assim, às 16h, a lixeira que fica na porta do centro cirúrgico estava abarrotada. Para os pacientes, nem sinal do lanche.
— Atrasaram em uma hora a visita na unidade coronariana intensiva porque estavam tirando o lixo acumulado — contou um familiar de um paciente internado.
Banheiro de uma enfermaria do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá, onde os funcionários da limpeza pararam de trabalhar por falta de pagamento
Banheiro de uma enfermaria do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá, onde os funcionários da limpeza pararam de trabalhar por falta de pagamento Foto: Flávia Junqueira / Extra.
No Albert Schweitzer, a alimentação também é improvisada. Segundo a família de uma jovem que acabou de dar à luz , ela só está recebendo um copo de 300 mililitros de sopa:
— Compramos uma quentinha para minha prima não passar fome. A sopa é rala e horrorosa.
Felipe da Silva Marques, de 33 anos, está com a mulher, Andréa, internada no Rocha Faria e precisou comprar até saco de lixo para manter a enfermaria limpa. Ela acabou de ter o segundo filho do casal e pegou uma infecção. Por isso, ele tem se desdobrado para manter o quarto da enfermaria limpo:
— À noite, o cheiro é insuportável. Eu e o rapaz de outro quarto nos ajudamos na limpeza. Comprei álcool 70, saco de lixo e até lençol para trocar.
Funcionários da Comlurb foram chamados para limpar o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá, na tarde de segunda-feira
 
Funcionários da Comlurb foram chamados para limpar o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá, na tarde de segunda-feira Foto: Flávia Junqueira / Extra.
Cardápio adaptado e ajuda da Comlurb
No Albert Schweitzer, desde o mês passado, funcionários de Organizações Sociais (OS) que prestam serviços para a unidade relatam que recebem o salário com atraso. Segundo uma enfermeira que preferiu não se identificar, o pagamento — que deveria ter sido efetuado no quinto dia útil — foi feito no dia 20. Este mês, no entanto, ainda não receberam. A direção do hospital informou que foram providenciadas adaptações no cardápio dos pacientes da unidade, em decorrência de faltas de funcionários da equipe de cozinha. Foram servidas porções de sopa, em quantidade suficiente para atender cada paciente.
Sujeira espalhada pelo chão da sala de pacientes graves do Hospital estadual Rocha Faria: entre as camas, piso sujo de sangue
 
Sujeira espalhada pelo chão da sala de pacientes graves do Hospital estadual Rocha Faria: entre as camas, piso sujo de sangue Foto: Leitor via WhatsApp / Divulgação.
A direção do Rocha Faria informou que, desde o fim de semana, mobilizou funcionários de limpeza de outras unidades para limpar a unidade. E, desde a manhã desta segunda, essas equipes atuam com o reforço da Comlurb.
Sobre o Iecac, a direção do instituto nega que somente tenha sido servido ovo nas refeições. “Os cardápios continham proteína e acompanhamentos em quantidade necessária e indicada para cada paciente”, afirmou, em nota.
Sobre repasses e pagamentos em atraso, a Secretaria estadual de Saúde afirmou que está atuando, junto à Secretaria de Fazenda, no sentido de regularizá-los.
Lixo se acumula ao lado de pacientes internados no Hospital estadual Rocha Faria

Lixo se acumula ao lado de pacientes internados no Hospital estadual Rocha Faria Foto: Leitor via WhatsApp / Divulgação
Leia a nota da Secretaria estadual de Saúde na íntegra:
A direção do Hospital estadual Rocha Faria informa que, desde o fim de semana, mobilizou funcionários de limpeza de outras unidades de saúde, visando a normalizar o recolhimento do lixo e a limpeza da unidade. Desde a manhã desta segunda-feira, equipes de desinfecção atuam para dar suporte às ações de limpeza, assim como a Comlurb, que também foi chamada para atuar e está recolhendo o lixo. Cabe informar ainda que o vencimento do pagamento da empresa que presta o serviço de limpeza ocorreu na sexta-feira (8/5) e, ainda na sexta-feira (8/5), foi feita a programação de desembolso para que a situação seja regularizada nos próximos dias.
A direção do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro nega a informação de que somente tenha sido servido ovo nas refeições. Os cardápios continham proteína e acompanhamentos em quantidade necessária e indicada para cada paciente.
A direção do Hospital Estadual Albert Schweitzer informa que foram providenciadas adaptações no cardápio dos pacientes da unidade, em decorrência de faltas de funcionários da equipe de cozinha. Foram servidas porções de sopa em quantidade suficiente para atender cada paciente.

Sobre repasses e pagamentos em atraso, a Secretaria de Estado de Saúde acrescente que está atuando, junto à Secretaria de Fazenda, no sentido de regularizá-los. Cabe informar que o vencimento do pagamento das empresas que prestam o serviço de limpeza dos hospitais Rocha Faria e Albert Schweitzer ocorreram na sexta-feira (08/05). Ainda na semana passada, foi feita a programação de desembolso e a situação estará regularizada nos próximos dias.

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