quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Tesoureiro do PT fez troca-troca de ‘crédito’ de propina.

O ex-gerente executivo de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco Filho disse em delação premiada à força-tarefa da Operação Lava Jato que fez uma “troca de propinas” com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto.
Barusco afirmou que possuía um “crédito” da empreiteira Schahin Engenharia, gigante que atua também nas áreas de petróleo e gás, mas estava encontrando dificuldades em receber o dinheiro, segundo ele, relativo ao empreendimento de reforma e ampliação do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), no Rio de Janeiro, complexo de laboratórios na Ilha do Fundão.
O ex-gerente disse que procurou Vaccari porque, conforme diz, o petista “tem uma boa relação com a Schahin”. A diretoria de Serviços da Petrobrás, unidade estratégica da estatal, era cota do PT. Por ela passam todos os procedimentos de licitações e contratação da estatal.
Vaccari, segundo afirmou Barusco, também era credor de uma propina de uma outra empresa, que atua no ramo de óleo e gás , de módulos para o Pré- Sal. e que participou da montagem de Angra I e Angra II. O delator não citou valores.
Barusco e o tesoureiro do partido teriam feito, então, uma permuta. Segundo o ex-gerente, Vaccari também era credor de uma outra empresa. No cruzamento de propinas, o “crédito” do petista ficou para Barusco e Vaccari “herdou” a propina da Schahin.
VAI DEVOLVER US$ 100 MILHÕES
A delação de Barusco foi homologada pela Justiça Federal no Paraná há uma semana. Em uma cláusula do contrato que firmou com a força tarefa do Ministério Público Federal, o ex-gerente comprometeu-se a devolver ao Tesouro US$ 97 milhões que mantêm no exterior e mais R$ 6 milhões no Brasil. Ele confessou que essa fortuna teve origem em atos “ilícitos”.
O grau de colaboração do ex-gerente impressiona os investigadores. Ele demonstrou grande senso de organização e disciplina ao fazer uma metódica contabilidade dos repasses de propinas, apontando todos os negócios onde correu dinheiro por fora. Tudo registrava em um arquivo pessoal.
Barusco passou números de contas bancárias e nomes de beneficiários de comissões. Afirmou que ele e Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal petrolífera, dividiram propinas em “mais de 70 contratos” da Petrobrás entre 2005 e 201o.
Ele declarou que fornecedores e empreiteiros não desembolsavam recursos por “exigência”, mas porque o pagamento de propinas na Petrobrás era “algo endêmico, institucionalizado”.
Antes de atuar na gerência, subordinado a Duque, ele ocupou os cargos de gerente de tecnologia na Diretoria de Exploração e Produção e de diretor de Operações da empresa Sete Brasil, que tem na Petrobrás um de seus investidores.
DUQUE TINHA A MAIOR PARTE
Pedro Barusco afirmou que “na divisão de propinas” Duque ficava “com a maior parte”, na margem de 60% para o ex-diretor de Serviços e de 40% para ele.
Entregou uma planilha de contratos onde teria corrido suborno e os valores que o esquema girou. Os contratos são de praticamente todas as áreas estratégicas da Petrobrás. Ele citou Gás e Energia, Exploração e Produção e Serviços. Revelou outros operadores da trama de corrupção na Petrobrás. Além do doleiro Alberto Youssef e do lobista do PMDB, Fernando Soares, o Fernando Baiano, Barusco apontou outros nomes.
Falou sobre o suposto pagamento de propinas envolvendo a Schahin no âmbito do Cenps/RJ e a troca que teria realizado com o tesoureiro do PT.
A Schahin não está entre as empreiteiras acusadas no primeiro lote de denúncias que o Ministério Público Federal apresentou à Justiça Federal na semana passada.
Mas a Schahin já havia sido citada em interceptações telefônicas da Polícia Federal. A máquina de grampos da Operação Lava Jato interceptou telefonemas do doleiro Youssef em que ele e um empresário que fornece materiais para a Petrobrás conversam sobre quem “pagou em dia” e “quem estava atrasado” no repasse de dinheiro.
*Ricardo Brandt e Fausto Macedo, no Estadão

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