domingo, 15 de junho de 2014

Os lucrativos negócios da filha do ex-diretor da Petrobras.

SEGREDO Paulo Roberto Costa (de capuz) no momento de sua prisão. Ele tinha contas  secretas em paraísos fiscais (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo)
Paulo Roberto Costa (de capuz) no momento de sua prisão. Ele tinha contas secretas em paraísos fiscais(Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo).
Na terça-feira, no depoimento que deu à CPI da Petrobras, Paulo Roberto Costa o executivo acusado de liderar um dos maiores esquemas de corrupção já descobertos na estatal debochou do país. Sorria. Dizia-se indignado. Negou qualquer ilegalidade e disse que guardava R$ 700 mil em casa para pagar impostos . Perto dali, o Supremo Tribunal Federal resolveu devolver os autos da Operação Lava Jato à Justiça do Paraná. No dia seguinte, o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso, mandou prender Paulo Roberto novamente. Ele parou de sorrir. Ao ser preso, tentou esconder o rosto com um capuz preto. Como revelam novas provas obtidas por ÉPOCA, ainda há muito a descobrir sobre ele.
As provas estão num HD apreendido pela Polícia Federal (PF) num dos endereços de Paulo Roberto. O HD contém um vasto backup de um dos computadores de Marici Costa, mulher de Paulo Roberto. Os documentos guardados compreendem dois anos (2007 a 2009) em que Paulo Roberto ainda era diretor da Petrobras. Revelam, entre outros negócios ainda sob investigação da PF, os lucrativos contratos fechados por Arianna Bachmann, uma das filhas de Paulo Roberto, com as empreiteiras que ganhavam licitações na Petrobras, precisamente na área comandada por ele. Arianna representava empresas de mobiliário, que vendiam milhões a consórcios formados pelas empreiteiras favoritas de Paulo Roberto. Segundo os documentos apreendidos, ela ganhava gordas comissões nesses negócios.

Os papéis sugerem que Paulo Roberto apresentava aos empreiteiros a filha e os projetos dela. Os contratos negociados por Arianna, em nome de empresas como Flexiv e Italma, variavam entre centenas de milhares de reais e vendas individuais de R$ 6 milhões. A correspondência de Arianna com diretores das empreiteiras mostra como ela era orientada a preparar as propostas e continha até informações confidenciais da Petrobras. Dois consórcios, formados por sete empreiteiras que negociaram com Arianna, haviam fechado, em 2008, R$ 1,3 bilhão em contratos para reformar centros de pesquisa da Petrobras. A PF suspeita que Arianna fosse a verdadeira dona das empresas que dizia apenas representar.

Os negócios de Arianna serviram como estágio para que ela subisse na hierarquia do negócio familiar montado por Paulo Roberto. O esquema, como ÉPOCA revelou, envolvia todos os integrantes de sua família. Havia hierarquia e funções bem definidas. Arianna tocava o dia a dia dos negócios. Márcio Lewkowicz, marido de Arianna, organizava as finanças. Humberto Mesquita, o Beto, era rival de Márcio na tarefa de administrar, no Brasil e no exterior, o dinheiro da corrupção na Petrobras. Shanni, a outra filha de Paulo Roberto, casada com Beto, tentava influenciar o patriarca para que o marido assumisse o controle financeiro das operações. Marici, a mulher de Paulo Roberto, era laranja em empresas e contas secretas em paraísos fiscais.

Ao obter acesso exclusivo às provas apreendidas pela PF e entrevistar integrantes do esquema, ÉPOCA revelou, nos últimos meses, as evidências que desenhavam a estrutura financeira e política das operações lideradas por Paulo Roberto. Na semana passada, as autoridades suíças confirmaram a existência de numerosas contas secretas controladas, oficialmente, por familiares de Paulo Roberto. A maior parte do dinheiro está, contudo, em nome do homem de capuz preto: ao menos US$ 23 milhões. O dinheiro foi bloqueado. Há evidências de contas controladas por ele em outros paraísos fiscais. ÉPOCA procurou, mas não obteve retorno das empresas Flexiv e Italma, nem do advogado de Paulo Roberto.
*DIEGO ESCOSTEGUY, na Revista Época

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