sexta-feira, 23 de maio de 2014

Uma síntese da concepção militante sobre democracia.

Uma pessoa fez um comentário a um post meu aqui no Facebook (com a entrevista de José Miguel Vivanco, diretor do Human Rights Watch, sobre a Venezuela). Leiam o comentário:
"Pois é, essa oposição na Venezuela está do lado do grande capital, é contra os interesses do povo. O governo democrático tem mais é que descer o cacete mesmo, pra esse povo aprender de uma vez qual é o sentido da história. Estamos fadados ao socialismo democrático".
Perguntei a ele se foi uma ironia. Ele respondeu que "foi sim uma ironia. Ou melhor, um exercício de alteridade" (?). De qualquer modo o comentário define com perfeição o que hoje chamamos de esquerda autocrática. É uma síntese da concepção militante sobre democracia Vejam os conceitos:
a) "povo" (uma palavra estranha usada pelos populistas para designar os rebanhos que querem conduzir: populus, como se sabe, foi um termo empregado originalmente para designar contingente de tropas),
b) "governo democrático" (confusão de democracia com eleição: o governo é democrático porque foi eleito, então não precisa governar democraticamente),
c) "o governo tem que descer o cacete" (repressão à oposição é legítima, a oposição é ilegítima e não peça fundamental do processo democrático e só deve haver liberdade para os que são da esquerda, nunca para seus inimigos),
d) "sentido da história" (uma imanência: a história não é feita pelas pessoas concretas, mas já vem com um sentido embutido),
e) "estamos fadados ao socialismo" (fadário, sina, fatalidade, destino - todos conceitos autocráticos).
Isso é tudo que alguém poderia imaginar de desumanizante. Mas eles não estão só imaginando: estão praticando. Não acuso o autor do comentário, que disse ter feito um "exercício de alteridade" e sim os militantes que têm esta concepção (que está por trás do que fazem).
Estão entendendo agora por que digo que esses caras não são players do processo democrático?
*Augusto Franco

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