Seu Manoel Firmino é uma daquelas figuras que nos impõe admiração pela postura à moda antiga, e pela sutil gentileza comum às pessoas respeitosas.
Traz em seu curriculum-vitae uma vida de trabalho e sacrifícios, ostentando o diploma do Grupo Modelo, antiga escola pública nos idos dos anos quarenta, cuja característica era oferecer um ensino básico de excelente qualidade, o que o poder público não mais nos oferece.
Foi com este diploma que, na década de cinqüenta, seu Manoel foi nomeado no Cargo de Guarda-fios, do antigo Departamento dos Correios e Telégrafos.
Conheço-o desde os anos setenta quando seu filho mais jovem, hoje Funcionário da Petrobrás, serviu o exército comigo em Alagoas.
Falante, mas respeitoso, com concepções próprias no limite de sua bagagem cultural, seu Manoel me ofereceu, nesta semana, uma rara oportunidade de ouvir a verdade, justo num momento que eu mais precisava, mas não o sabia.
Encontramo-nos no centro da cidade, ele vindo da Casal – onde fora apresentar uma reclamação sobre sua fatura de consumo - e eu, ao sair do prédio do antigo Produban, onde hoje funciona a Diretoria de Fiscalização da Sefaz.
Perguntou-me se ainda estava trabalhando, o que respondi, de pronto, que estava em processo de aposentadoria.
Disse-me que aposentar-se na minha idade é bom, mas ele , aos “setenta e tantos” preenchia o seu tempo passeando pelo comércio e revendo amigos, ainda vivos, acrescentou.
Nosso diálogo foi curto, porém proveitoso. Em um dos momentos ele me indagou:
-O que pensa em fazer aposentado? Vai advogar?
Disse-lhe que sim, mas que já estava buscando uma atividade que me ocupava e que me satisfazia: Estava com um blog na internet.
-Brógui? Que é isso? Perguntou.
-É uma espécie de jornal que a gente faz no computador. A gente escreve o que quer e ainda pode publicar fotos, reportagens, artigos, de nossa autoria ou de terceiros, desde que seja citada a fonte.
- Que bom! Exclamou. Tai uma coisa boa! Pelo menos você vai escrever sem receber ordens de ninguém!
-É verdade! Concordei.
-Olhe! Você pensa que Jornalista ou Radialista diz o que quer? Eles só dizem ou escrevem aquilo que os patrões querem! E você deve saber: Os patrões mandam falar bem ou mal. Depende do que recebem. Em dinheiro ou em favores.
Fiquei pasmo diante da afirmativa daquele senhor. Mesmo sabendo que há homens independentes na imprensa do país, me senti feliz em saber, que mesmo não sendo jornalista, eu poderia escrever, no meu blog, com independência e responsabilidade.
Ri e me despedi de seu Manoel, desejando-lhe um ano de paz e saúde.
Ele olhou-me nos olhos e disse:
-É o que precisamos, filho!
Esbocei um sorriso e segui adiante. Seu Manoel tinha me proporcionado mais uma razão, além do hobby, de ocupar este espaço.
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