sábado, 9 de abril de 2016

O jogo de quem já perdeu.

Editorial Estadão

Sem ter como negar o que é inegável – que Dilma Rousseff “pedalou” as contas públicas, razão pela qual está sendo acusada de ter cometido crime de responsabilidade –, a defesa da presidente sabe que não lhe resta alternativa senão recorrer a chicanas para dificultar o impeachment. É por isso que o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, mandou avisar que pode ir à Justiça para anular o processo em curso na Câmara. Eis o desespero dos que, já derrotados no campo moral, apelam à rabulice. 

Na quarta-feira passada, o relator da Comissão Especial do Impeachment na Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO), fez a leitura de suas conclusões e votou pela admissibilidade “jurídica e política” da acusação contra Dilma. A ênfase a esses dois aspectos é necessária, pois não se trata somente de um caso jurídico – a Câmara não é um tribunal, mas sim a Casa onde os representantes do povo tomam decisões eminentemente políticas. 

O relatório deixa claro que os delitos saltam do terreno jurídico para o político ao dizer que “o comportamento do Executivo, ao afrouxar, por conta própria, os procedimentos de gestão fiscal, permitiu postergar a conscientização da sociedade sobre a real situação das finanças públicas e adiou a discussão política de medidas estruturantes urgentes e necessárias ao País”. 

Em outras palavras, as “pedaladas” prestaram-se para maquiar as contas públicas e esconder do País a verdadeira situação fiscal, permitindo que Dilma mentisse na campanha eleitoral, apresentando-se como dedicada zeladora dos fundamentos da economia. Houve, diz o relatório, “grave desvio” dos deveres da Presidência e “quebra da grande confiança que lhe foi depositada”, justificando o impeachment. 

O relatório desconsiderou as alegações da defesa de Dilma, a começar pelo esdrúxulo argumento de que o impeachment só está em andamento graças a um desejo de “vingança” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para Cardozo, só isso explicaria a deflagração do processo, pois, afinal, segundo pensa o Palácio do Planalto, Dilma não fez nada que outros presidentes já não tivessem feito. 

No entanto, estudo do Banco Central, feito a pedido do Tribunal de Contas da União, mostra claramente como o saldo da dívida do Tesouro com os bancos federais – as “pedaladas” – disparou a partir da gestão Dilma, atingindo R$ 60 bilhões no final de 2015, contra R$ 948 milhões ao fim do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002. Como sempre, Dilma mandou dizer que o espantoso aumento não quer dizer nada, pois tudo se resume a uma prática “adotada em gestões anteriores”. 

É com base nesse tipo de raciocínio que José Eduardo Cardozo disse que o relatório da comissão do impeachment está repleto de “vícios” e “nulidades”. Prepara-se assim o terreno da judicialização do processo, anunciada pelo próprio advogado-geral da União. “Seguramente iremos à Justiça”, disse Cardozo, sobre as providências que pretende tomar caso o processo siga adiante. 

Numa democracia saudável, em que cada instituição trabalha dentro dos limites constitucionais, a bravata do governo não teria como prosperar. Afinal, a soberania do Congresso nesse caso é clara. Mas a atual barafunda política e moral do País parece estimular intervenções excêntricas. 

Tome-se, por exemplo, o caso do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, que já sinalizou que Dilma tem o direito de recorrer à Justiça caso sofra impeachment. “O Judiciário é a última trincheira da cidadania”, disse Marco Aurélio, esquecendo-se do fato de que, se Dilma for julgada no Senado, quem presidirá o julgamento será o presidente do próprio Supremo. Ou seja: caso Dilma seja condenada, terá sido graças a uma decisão da qual o Supremo não pode se arvorar de árbitro. Trata-se de prerrogativa exclusiva do Legislativo e é evidente que não cabe nenhum recurso aí. 

Mas vivemos tempos estranhos, em que um ministro do Supremo – o mesmo Marco Aurélio – manda a Câmara aceitar um processo de impeachment contra o vice-presidente Michel Temer, imiscuindo-se claramente em atribuições exclusivas do Congresso. Talvez seja por isso que o advogado de Dilma esteja tão confiante; afinal, nunca foi tão fácil criar confusão no Brasil.

"Gentalha" diz nora de Bumlai sobre versão de Lula para atuação do sogro.



Foto apreendida na casa de José Carlos Bumlai mostra o pecuarista ao lado de Lula. (Polícia Federal/Divulgação)
Em diálogo grampeado pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, Cristiane Bumlai reclama com o marido de que "Lula declarou que nunca autorizou JCB usar o nome dele" 
Uma das conversas de Maurício Bumlai, um dos filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, interceptadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato mostra o quão insólita é a versão apresentada pelo ex-presidente Lula de que o amigo Bumlai, homem que tinha acesso direto ao Palácio do Planalto, não tinha autorização para falar em seu nome e possivelmente se valeu da amizade com o petista para conseguir vantagens financeiras. 

Em diálogo com uma exasperada Cristiane Bumlai, sua esposa, em um aplicativo de mensagens por celular em 16 de outubro de 2015, Maurício é informado: "Viu que é cada um pra si né? Lula declarou que nunca autorizou JCB usar o nome dele. É pra acabar, viu. Gentalha". 

Lula deu a explicação, via nota do Instituto Lula, no mesmo dia da conversa entre o casal. O ex-presidente buscava se desvencilhar de uma revelação feita pelo operador de propinas do petrolão e lobista Fernando Baiano em sua delação premiada. 

No capítulo 11 de seu acordo de delação, o lobista disse que, em 2012, ele e José Carlos Bumlai estavam negociando a aprovação de um projeto junto à empresa Sete Brasil, fornecedora da Petrobras criada para construir navios-sonda. Na ocasião, o pecuarista teria pedido ajuda "para pagar dívida referente a imóvel do filho de Lula". 

Baiano contou que o amigo do petista lhe confidenciou que "estava sendo pressionado para resolver um problema". Bumlai "estava sendo cobrado por uma nora do ex-presidente Lula para pagar uma dívida ou uma parcela de um imóvel". Precisava de 3 milhões de reais para resolver o problema. O pagamento, segundo o delator, acabou ficando em 2 milhões de reais.
                    *Por João Pedroso de Campos - Veja.com 

Lula e o veneno golpista.

Lula deu uma monumental e venenosa cusparada na cara do povo. Atingiu não só os milhões que foram às ruas, mas, os mais de 70% que o repudiaram nas pesquisas de opinião. Uma cusparada perigosa porque jararaca é bicho peçonhento. Estamos de luto e precisando urgentemente de um antídoto.
Os fatos têm se precipitado no Brasil de modo espantoso. A cada dia acontece um episódio contundente na esfera política, como se as páginas da história fossem escritas aceleradamente, enquanto a economia esboroa infelicitando a vida da população.
No dia 13, desse agitado mês de março, um protesto espontâneo e gigantesco encheu as ruas brasileiras. Milhões de pessoas clamaram de forma pacífica contra a corrupção, centrando foco nos responsáveis que roubam da população uma vida digna para encher os próprios bolsos.
Fora Dilma; Fora Lula; e Fora PT. Foram esses os brados que ecoaram Brasil afora no maior movimento de massa já havido no País. Impressionou São Paulo, onde um mar de gente tomou conta da Avenida Paulista entupindo também as ruas laterais. No Rio de Janeiro a orla de Copacabana foi ocupada de ponta a ponta por cidadãos indignados com as falcatruas governamentais. E não só nas capitais, mas nas cidades de porte médio ou do interior, a mesma manifestação apartidária, composta por pessoas de todas as classes sociais e não só pela “elite branca de olhos azuis” como querem fazer crer inutilmente os petistas fanáticos ou temerosos de perde a boa vida que a corte lhes proporciona, tingiu as ruas de verde e amarelo.
Foram às ruas homens, mulheres, crianças, idosos, pessoas em cadeiras de rodas, todos coesos, todos centrados no mesmo objetivo: livrar-se de uma governanta incompetente que não governa, assim como do seu partido, o mais corrupto de nossa história, e do presidente de fato, Lula da Silva. Este, além das acusações de grossa corrupção que surgem nas delações premiadas, chegou ao ponto de assaltar o acervo governamental dizendo que era presente do povo brasileiro.
O verdadeiro tesouro, composto por objetos valiosos ofertados por governantes estrangeiros ao governo brasileiro, Lula escondeu em um cofre do Banco do Brasil convertido em caverna do Ali-Babá. Naturalmente, ele desconhece que a Constituição reza que um presidente da República só pode considerar como seus presentes algo até R$ 100,00. Será que Lula roubou também cinzeiros dos hotéis de luxo por onde tantas vezes passou?
Em contraste com a esbórnia da corrupção avulta a figura de Sérgio Moro, juiz competente, íntegro, corajoso que tem posto na cadeia ricos e poderosos demonstrando que a lei é para todos. Por isso, multidões em todos os recantos pátrios o aclamaram provocando a fúria, o despeito, a inveja petista.
Inclusive, como o ministro Joaquim Barbosa, o juiz Moro tem sido ameaçado de morte. Ele que se cuide porque os membros do “exército de Stédile” que Lula convocou ou suas milícias, os camisas-vermelhas, são violentos, boçais, truculentos e capazes de tudo para servir à jararaca de ovos de ouro que os sustenta. Isto foi demonstrado, por exemplo, quando as milícias lulistas atacaram senhoras de idade para arrancar-lhes das mãos a bandeira do Brasil.
Os fatos acontecem como turbilhões diários. Não me deterei nos acontecimentos de ontem ou de dias atrás. Mas se 13 de março foi marcante como nosso maior ato de civismo, dia 16 o País sofreu o golpe dado por Lula da Silva. Ironicamente, os petistas e a governanta se referiam ao pedido de impeachment como golpe, mas foram eles, a mando do chefe, que perpetraram um golpe ao por em pratica o plano B arquitetado desde o ano passado: a nomeação de Lula como ministro.
Alguém duvida de que agora seja ele o presidente de fato, melhor, o ditador? Aliás, nunca deixou de mandar na criatura, uma espécie de marionete em suas mãos. Porém, aboletado no Palácio, ao mesmo tempo em que foge vergonhosamente do Juiz Moro passa a comandar o país usando novamente sua errática e populista política econômica. Enquanto isso, ele se prepara para envergar a faixa presidencial em 2018. Não que precise dela como agora, mas porque gosta de ostentá-la como uma caricia ao seu ego descomunal. Ele conta com políticos venais, um Supremo que deu a entender é camarada e com instituições que se calam.
Lula deu uma monumental e venenosa cusparada na cara do povo. Atingiu não só os milhões que foram às ruas, mas, os mais de 70% que o repudiaram nas pesquisas de opinião. Uma cusparada perigosa porque jararaca é bicho peçonhento. Estamos de luto, Estamos precisando urgentemente de um antídoto.
* Por Maria Lúcia V. Barbosa, Graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela UFMG e especialista em Ciência Política pela UnB, professora da Universidade Estadual de Londrina/PR e membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e autora dos trabalhos “Breve Ensaio sobre o Poder” e “A Favor de Nicolau Machiavel Florentino”.

Porque hoje é Sábado, uma bela mulher.

A bela baianinha Michelle Mota, a charmosa e feliz  aniversariante de hoje.

Marco Aurélio Melo: O invencível polêmico.

Marco Aurélio Mello ministro do STF (Foto: Dorivan Marinho/SCO/STF )
Perto das 8h30 da terça-feira, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, embarcou num voo de Congonhas, em São Paulo, para Brasília. Estava bem-disposto. Deparou com o ex-deputado federal tucano José Aníbal, sentado algumas fileiras à frente da sua. Tempos antes, em outro encontro casual, eles haviam trocado dicas de leitura. Marco Aurélio recomendara Tudo ou nada, biografia de Eike Batista escrita pela jornalista Malu Gaspar. Desta vez, Aníbal carregava a mais recente obra do moçambicano Mia Couto, Mulheres de cinzas. Marco Aurélio pediu que sua mulher anotasse o nome do livro. O ministro cruzou com mais um tucano, o deputado Ricardo Tripoli. Os dois, apaixonados por motos, papearam brevemente sobre uma relíquia que Tripoli está adicionando a sua coleção. Marco Aurélio seguiu para seu assento. Acomodou-se na poltrona. Precisava repor as energias depois do duro interrogatório a que fora submetido na véspera, no programa Roda viva, da TV Cultura. E para aguentar a pressão que viria naquela tarde, quando sua decisão sobre um pedido de impeachment do vice-presidente, Michel Temer, fosse publicada. Marco Aurélio cochilou.
Marco Aurélio é ministro desde 1990. Nos 26 anos de Corte, a notoriedade não veio pela sua dicção inusual, de quem está constantemente exalando. Tampouco por seu parentesco com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, seu primo e responsável por sua indicação ao Supremo. Veio, em grande parte, por sua disposição para a inconsonância. Marco Aurélio adota com frequência posições absolutamente discordantes dos seus pares. Por isso, o apelido de“senhor voto vencido”. Na noite da segunda-feira, o ministro foi questionado sobre por que decidiria que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem obrigação de levar adiante um pedido de impeachment do vice-presidente da República, Michel Temer. Os entrevistadores sabiam qual seria a decisão de Marco Aurélio porque seu despacho vazara na sexta-feira anterior. O ministro admitiu um “pequeno pecado do gabinete” no vazamento. Ironizou o conteúdo da decisão, indicando que ele não era definitivo: “Sou um juiz muito sugestionável. Posso evoluir ou involuir”. Marco Aurélio não evoluiu. Manteve a posição de obrigar Cunha a analisar o pedido de impeachment de Temer. No despacho, argumentou que cabe a Cunha somente avaliar se o pedido atende aos pré-requisitos formais, não seu mérito. Ao arquivar o pedido, diz Marco Aurélio, Cunha “queimou etapas”, apreciando a procedência do pedido. Assim, Cunha deveria seguir com a instalação de uma comissão especial para, essa sim, analisar o mérito das acusações contra Temer. Marco Aurélio foi severamente acusado de interferir no Poder Legislativo.
Com sua decisão, o ministro Marco Aurélio fincou o Supremo no meio da arena política. Envolveu a Corte na celeuma da qual boa parte dos ministros esquivava-se: o processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O Congresso não gosta de ser desafiado. Os deputados reagiram, a começar pelo próprio Cunha. O presidente da Câmara chamou a decisão do ministro de “absurda” e “teratológica”. Cunha chegou a sugerir que desrespeitaria a ordem do Supremo. Foi repreendido. “Quando se inobserva (uma decisão judicial) é porque as coisas não vão bem, e eu não posso fechar o Brasil para balanço”, disse o ministro. Marco Aurélio ainda reconheceu condescendentemente o “direito de espernear” de Cunha. E garantiu que, assim que o recurso da Câmara chegar a seu gabinete, ele o encaminhará ao pleno do Supremo, que, então, julgará se sua decisão fora equivocada. Um indício de que Marco Aurélio pode ser “voto vencido” mais uma vez é a reação de seus colegas ministros. Primeiro, Gilmar Mendes, o mais afeito a se embrenhar na política, satirizou Marco Aurélio, dizendo que ele “está sempre nos ensinando” algo.
http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/04/marco-aurelio-mello-invencivel-polemico.html

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Dilma obstruiu a Justiça, diz Procurador Geral da República.



Dilma Rousseff está ferrada. No parecer pela anulação da posse de Lula na Casa Civil, Rodrigo Janot deixou pistas de que pedirá investigação contra a petista por crime de responsabilidade e também por obstrução da Justiça. Janot citou iniciativas do Executivo para prejudicar a Lava Jato "em distintas frentes" e a "intenção oculta de causar tumulto processual".

Além de citar a "inesperada antecipação da posse e a circunstância muito incomum de remessa de um termo de posse não havida" para Lula, Janot citou os grampos de Lula e a colaboração premiada de Delcídio do Amaral, além da denúncia do MP de São Paulo com pedido de prisão. "A evolução do caso Lava Jato e as medidas processuais penais dele decorrentes, requeridas pelo Ministério Público Federal, provocaram forte apreensão no núcleo do Poder Executivo federal e geraram variadas iniciativas com a finalidade de prejudicá-las, em distintas frentes". 

"Nesse cenário, a nomeação e a posse do ex-presidente foram mais uma dessas iniciativas, praticadas com a intenção, sem prejuízo de outras potencialmente legítimas, de afetar a competência do juízo de primeiro grau e tumultuar o andamento das investigações criminais no caso Lava Jato." A "nomeação e a posse apressadas" de Lula tiveram, "como efeitos concretos e imediatos", a interrupção das investigações conduzidas pelo Ministério Público Federal no primeiro grau de jurisdição e a remessa das respectivas peças de informação ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República, por força do foro por prerrogativa."

"Considerando, ainda, que o ex-presidente conta 70 anos de idade, todos esses atrasos podem, hipoteticamente, beneficiá- lo no caso de vir a ser acusado em processo penal, diante da contagem pela metade dos prazos de prescrição. Mesmo considerando que o processo de ministros de Estado ocorre em instância única, na Suprema Corte, a complexidade desse procedimento pode gerar lentidão muito maior do que a do primeiro grau de jurisdição."

Confira aqui íntegra do parecer de Janot.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Estamos torcendo Ministro Teori!

Esperamos que Teori Zavascki homologue o acordo com os delatores da Andrade Gutierrez RÁPIDO.
Os deputados que planejam vender seus votos ao coronel Lula e ao coronel Dilma precisam saber que o PT acabou.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Dilma e PT quebrando o país.


Troca-troca patrocinado?

O plenário da Câmara dos Deputados promoveu nesta terça-feira duas trocas na Comissão Especial do Impeachment que analisa denúncia por crime de responsabilidade contra a presidente da República, Dilma Rousseff. Assumiram vagas o deputado Vicentinho Júnior (PR-TO), como titular, e a deputada Eliziane Gama (PPS-MA), como suplente. Vicentinho substituiu a deputada Zenaide Maia (PR-RN), que renunciou alegando problemas de saúde e cujo irmão, João Maia, assumiu recentemente uma das vice-presidências do Banco do Brasil; Eliziane entrou na vaga de Sandro Alex (PR), que trocou o PPS pelo PSD. (Felipe Frazão, de Brasília)

Dilma deve ser acusada de tudo.

O Globo, sobre o relator do impeachment:
"Jovair Arantes reiterou que na parte expositiva do seu voto vai abordar questões como a corrupção na Petrobras e as pedaladas de 2014, mas disse não ter decidido se estes temas estarão no voto. Ressaltou que seu direito de abordar os temas não deve ser 'tolhido'. O ministro José Eduardo Cardozo afirmou que, caso a comissão avançasse para além das pedaladas de 2015 e os decretos suplementares de 2015, haveria nulidade no processo."
Como publicamos, depois que Marco Aurélio mandou abrir processo de impeachment contra o vice Michel Temer por causa das pedaladas de 2014, Dilma pode ser acusada de tudo. Aliás, deve. Mesmo que só na exposição do relator.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Ato " incomum e isolado".

Decisão sobre nomeação de Lula influenciará voto de Teori sobre obstrução da Justiça. A permissão para que Lula assuma a Casa Civil da Presidência pode até sair, mas dificilmente nesta semana, como Lula anunciou em um palanque no Ceará. O relator no Supremo Tribunal Federal ( STF) dos mandados de segurança que impedem o ex- presidente de assumir o cargo, ministro Gilmar Mendes, aguarda parecer da Procuradoria-Geral da República sobre o tema, e ainda ouvirá a defesa de Lula.
O mais provável é que na próxima semana o assunto entre na pauta, às vésperas do início da votação do impeachment na Câmara, que pelo calendário oficial começará na sexta- feira dia 15.
Lula anunciou que assumiria o ministério nesta quinta-feira porque eventual vitória no Supremo dará a ele uma força institucional que ele hoje não tem, pois foi contestada sua nomeação como se fosse um homem comum. E certamente sua afirmativa no palanque não deve ter agradado ao STF, que mais uma vez se vê emparedado por ações políticas.
Quando, para salvar a pele, aceitou ser nomeado ministro de Dilma, Lula mostrou-se vulnerável, e seu cacife político reduziu-se. Ao ser impedido de assumir, perdeu ainda mais substância, e hoje ele não passa de um vendedor de ilusões, cujas promessas podem ser colocadas em dúvida por qualquer membro do baixo clero que ele tente atrair.
Somente vencendo o Supremo, que ele chamou de "acovardado" numa das conversas gravadas, Lula terá de volta a aura de invencível que faz dele uma arma potente na tentativa de resgatar Dilma. O jurista Joaquim Falcão, diretor da Faculdade de Direito da FGV, lembra Shakespeare para dizer que, se a diferença entre o homem comum e o rei é a coroa, para Lula a diferença hoje é o ministério.
Ontem, Teori Zavascki, relator da Lava- Jato no STF, ao negar duas ações contra a posse de Lula no ministério por considerar que estavam inadequadas formalmente, faz pequenos comentários que remetem à questão criminal que também está sendo analisada no Supremo.
Para retirar o caráter de urgência da questão, pois já há mandado de segurança em vigor contra a posse, ele considera a nomeação de Lula "um incomum e inédito ato isolado da Presidência, pelo qual se designou Lula para ocupar cargo de ministro. Não se tem notícia de outro caso análogo, nem da probabilidade, a não ser teórica, de sua reiteração".
Além disso, ele acentua que "eventual embaraço ao exercício da jurisdição penal, com a alteração da competência para os atos de investigação e da ação penal, poderia ser suscitado nos próprios procedimentos criminais alçados ao Supremo, forma pela qual controvérsias semelhantes vêm sendo historicamente decididas pelo Tribunal".
O resultado do exame dos mandados de segurança pelo STF terá também, portanto, influência numa futura decisão de Zavascki sobre existência ou não de obstrução da Justiça na decisão de nomear Lula.
O procurador-geral Rodrigo Janot já afirmou em parecer enviado ao STF que a nomeação de Lula para a Casa Civil teve o objetivo de influenciar as investigações sobre o ex-presidente na primeira instância da Justiça Federal, mais especificamente na 13 ª Vara Federal em Curitiba, onde o juiz Sérgio Moro conduz os processos da Operação Lava- Jato.
Janot classificou de "inegavelmente inusual" e "circunstância anormal" a decisão de Dilma de apressar a posse de Lula. Ele atribui ao ato um "desvio de finalidade". Mesmo que o Supremo venha a anular a prova do áudio com a conversa da presidente Dilma com Lula sobre o ato de posse, outras medidas tomadas, como a publicação antecipada no Diário Oficial e diálogos sobre a necessidade de nomear o ex- presidente, mostram essa situação inusual que tanto Janot quanto Zavascki identificam nessa nomeação.

* Por  MERVAL PEREIRA, em O GLOBO - 05/04

Ministro critica delações premiadas da lava jato.

Pelo que senti na entrevista do Ministro Marco Aurélio e tendo em vista a crítica que fez ao fato de os delatores estarem presos no momento em que propuseram a delação, o Ministro vai votar contra as prisões se chegar algum recurso no STF.
Talvez na ótica do Ministro o preso deveria ser solto e resolver, em casa ou no conluio com seus comparsas ou co autores do crime, decidir delatar...
É, não consigo entender o Ministro.
Mas consigo entender o MPF e Sergio Moro.
Aliás, o Brasil todo entende o MPF e Moro..

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O esconde-esconde de milhões em paraisos fiscais.

Como a elite mundial se divorcia: o esconde-esconde de milhões em paraísos fiscais
Documentos mostram que empresas offshore são usadas até para esconder bens e dinheiro de cônjuges quando os casamentos dos super-ricos acabam
Will Fitzgibbon*

Christopher Williams havia aguardado durante 90 minutos no interior do escritório de uma empresa de helicópteros turísticos da ilha havaiana de Kauai, mantendo o olhar atento no estacionamento logo abaixo. Em suas mãos ele tinha um mandado de intimação, pronto para ser entregues a um bilionário russo envolvido num intrincado divórcio. Ele tinha uma pequena câmera de vídeo presa à roupa para registrar o momento.

Repentinamente, Williams viu sua chance. Ele descruzou as pernas e soltou o ar, abriu a porta e desceu um pequeno lance de escadas, cruzando o asfalto até o comboio de SUVs brancos. Dentro de um dos veículos estava Dmitri Rybolovlev, magnata da mineração cuja mulher, Elena, afirmava que ele estava escondendo dinheiro que ela queria que constasse do processo de divórcio.
“Para Dmitri”, disse William, enquanto arremessava os documentos judiciais pela janela aberta do motorista até o colo de um dos choferes do bilionário. Ele fixou os olhos em Rybolovlev enquanto o motorista pisava no acelerador ia embora. 

“Intimado”, gritou Williams, sem ar. 

A perseguição de Williams foi apenas um episódio numa caçada global por ativos em um dos mais rancorosos divórcios do mundo. Ela ilustra a distância que cônjuges, seus advogados e investigadores profissionais têm de percorrer em busca das riquezas escondidas em complexas redes de companhias e trusts offshore. 

Os detalhes da luta que foi o divórcio de Rybolovlev e de muitas outras pessoas estão nos arquivos secretos obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), pelo o jornal alemão Süddeutsche Zeitung e por outros parceiros. 

Os mais de 11 milhões de documentos, datados de 1977 a dezembro de 2015, mostram o trabalho interno do Mossack Fonseca, um escritório de advocacia de atuação global que ajuda seus clientes a criar abrigos offshore – empresas abertas em paraísos fiscais. Eles fornecem informações absolutamente detalhadas – transferência de dinheiro, datas de abertura das empresas, ligações entre as companhias e pessoas físicas – que iluminam o obscuro universo alternativo onde as pessoas vão para jogar com regras diferentes, e de uma empresa que permite tal comportamento.

* Repórter do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos

Todos os homens de Putin: registros secretos revelam rede de fundos ligada a líder russo
Documentos da Mossack Fonseca expõem os mecanismos pelos quais amigos íntimos do presidente conduzem negócios relacionados ao poder

Jake Bernstein, Petra Blum, Oliver Zihlmann e David Thompson *

Vladimir Putin e Sergey Roldugin forjaram um vínculo quando jovens. Amigos de longa data, quase como irmãos, eles vagavam pelas ruas de Leningrado cantando e, no caso de Putin, ocasionalmente entrando em brigas

Na medida em que Putin subia ao poder como líder supremo da Rúsia e Roldugin fazia seu nome como violoncelista clássico e maestro, os dois se mantiveram próximos. Roldugin tocou para Putin e seus importantes convidados na residência oficial do presidente e concedeu entrevistas aos meios de comunicação que abrandaram a temível imagem de Putin.

Agora, documentos secretos trazidos à tona pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos revela um outro lado, escondido, dessa amizade. 

Os documentos mostram que Roldugin atua nos bastidores de uma rede clandestina operada por associados a Putin que movimentou pelo menos US$ 2 bilhões entre bancos e companhias offshore, segundo uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), do jornal alemão Süddeutsche Zeitung e outros parceiros.


Nos registros, Roldugin aparece como o proprietário de companhias offshore que obtiveram pagamentos de outras empresas avaliados em dezenas de milhares de dólares. Uma companhia ligada ao violoncelista também obteve influência secreta sobre a maior fabricante de caminhões da Rússia; outra amealhou uma porção grande da indústria da publicidade na televisão russa.

É possível que Roldugin, que afirma publicamente não ser um homem de negócios, não seja o verdadeiro beneficiário desses bens. Em vez disso, os arquivos indicam que Roldugin age como testa de ferro para a rede de pessoas leais a Putin e, talvez, para o próprio primeiro-ministro Russo. 

Não há dúvidas quanto a amizade entre os dois. No começo da década de 1980, Roldugin arranjou um encontro duplo no qual Putin conheceu sua futura esposa, Lyudmila. Depois disso, Putin escolheu Roldugin para ser padrinho de sua primeira filha, Maria. 

Cerca de 100 acordos financeiros relacionados à rede são descritos nos documentos trazidos à tona. Eles são complexos. Pagamentos são mascarados de várias formas. No papel, ações de companhias são trocadas e destrocadas num mesmo dia. Documentos têm suas datas retroagidas. Sanções financeiras questionáveis são avaliadas. Os direitos para empréstimos multimilionários são vendidos entre as companhias offshore por US$ 1,00.

Em quase todos os exemplos, o resultado é o mesmo: dinheiro e poder se movem na direção da rede, para companhias e pessoas aliadas a Putin. Os acordos dissimulados da rede permitem que ela receba dinheiro de uma série de maneiras, o que inclui centenas de milhões de dólares em empréstimos “de pai para filho” de um banco controlado pelo governo russo. 

A origem dos documentos revelados são os arquivos da Mossack Fonseca, um escritório de advocacia do Panamá que registrou algumas das companhias de Roldugin e ajudou a administrar a rede de holdings nas Ilhas Virgens Britânicas e em outros paraísos fiscais.

Há anos, reportagens – a maioria de pessoas que fazem denúncias (os chamados “whistleblowers”) – falam sobre a suposta fortuna secreta de Putin. Afirma-se que algumas companhias offshore, um palácio e um mega iate pertenceriam ao líder russo. Vários meios de comunicação também indicaram como as pessoas ao redor de Putin tornaram-se ricas. Ainda assim, formular um quadro detalhado dos assuntos financeiros secretos do círculo do premiê é algo difícil de fazer.

Os registros revelam o que até agora era material de rumores: como os amigos íntimos de Putin conduzem secretamente seus próprios negócios. Os documentos incluem correspondência por e-mail, formulários para conta bancária, acordos de empréstimo, transações compartilhadas e cópias de passaportes. Datas, volumes em dinheiro e termos de contratos são detalhados.


Caminhões de guerra. Uma das movimentações suspeitas da rede de Putin envolve a empresa Kamaz, responsável por produzir caminhões para, dentre outros clientes, o exército russo. 

Em agosto de 2008, tropas russas invadiram a Georgia em um conflito que durou cinco dias. Na ocasião o exército utilizou caminhões da Kamaz. Cinco meses antes, segundo os documentos agora revelados da Mossack, o violoncelista Sergey Roldugin fez movimentos para, secretamente, conseguir algum controle sobre a Kamaz. 

Os documentos mostram que uma das empresas offshore de Roldugin teve a opção secreta de adquirir uma participação minoritária na Kamaz por meio da empresa Avtoinvest.

O conselheiro de Putin, Ruben Vardanyan, era o presidente do conselho e principal proprietário do banco que geria a Avtoinvest, uma grande acionista da Kamaz. 

Em 2008 ele queria consolidar seu controle majoritário na Kamaz, segundo a imprensa divulgou na época, mas precisava de ajuda. O governo do Tataristão, uma república da Federação Russa, adquiriu uma grande quantidade de ações, e depois foi persuadido a vendê-las. 

Como parte do negócio, se a Avtoninvest adquirisse a maior parte das ações, a empresa de Roldugin ia poder ditar todos os aspectos operacionais da Kamaz, como a “aprovação do plano de negócios e o orçamento” e a aprovação sobre qual corporação seria capaz de investir na companhia. 

Com isso, a empresa de Roldugin pagou US$ 1,5 milhão para ter a opção e o direito de ditar os rumos da empresa. Em contrapartida, segundo o acordo encontrado na Mossack, a empresa do violoncelista russo deveria fazer lobby para o “projeto”, que estava descrito como conseguir que a Avtoinvest se tornasse acionista majoritária da empresa.


Banco. Muitos dos homens ligados à rede, dentre eles o próprio Putin, têm algo a mais em comum, além da história. Eles são conectados ao banco Rossiya, sediado em São Petersburgo, que o governo norte-americano aponta como sendo o “cofre pessoal” de Putin.

Os arquivos deixam claro que o banco Rossiya construiu a rede. Seus funcionários cuidam dela, trabalham para criar companhias offshore, atribuindo propriedade a Roldugin e a outras pessoas, além de proteger as transações por meio de bancos na Rússia, Chipre e Suíça.

Em nenhum lugar dos arquivos da Mossack Fonseca o nome do presidente russo, ex-chefe da KGB, aparece de verdade. A vasta movimentação e o histórico do premiê, contudo, indicam ser improvável que Putin não tivesse conhecimento de nada.

Após receber perguntas detalhadas do ICIJ e de seus parceiros, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, criticou matérias que seriam escrita sobre o assunto, durante uma coletiva de imprensa, como “um ataque” e “uma série de lorotas”, segundo o serviço de imprensa russo.

Peskov declarou que as questões são referentes a companhias offshore e a “uma grande quantidade de empresários que Putin nunca viu na vida”. 

Leia mais sobre os arquivos da Mossack Fonseca no site panamapapers.icij.org(em inglês). 

*Repórteres do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos

Vazamento revela conflito de interesses do primeiro-ministro da Islândia
Sigmundur David Gunnlaugsson chegou ao poder após o colapso financeiro do país, ao mesmo tempo em que escondia ligações com uma companhia offshore que detém milhões em títulos de bancos islandeses

Ryan Chittum, Jóhannes Kr. Kristjánsson, Bastian Obermayer e Frederik Obermaier *

Em 15 de maio de 2014, o primeiro-ministro da Islândia apresentou-se perante o Parlamento para responder perguntas sobre com que vigor seu governo iria combater sonegadores e fraudadores que usam empresas offshore, criadas em paraísos fiscais, para ocultar suas riquezas. Iria a Islândia seguir o exemplo da Alemanha e comprar dados de offshores revelados por delatores?

O primeiro-ministro Sigmundur David Gunnlaugsson evitou uma resposta direta. Disse que seria “extremamente importante" que as pessoas trabalhassem "juntas nesse sentido”. Mas, para o premiê, não estava claro se obter as informações sobre as offshores seria algo “prático e útil”. O que não era sabido é que os dados sobre empresas abertas em paraísos fiscais que a Islândia considerava comprar incluíam informações sobre companhias offshore ligadas a ele e a pelo menos dois outros membros de seu partido, que continua no poder.

Estes fatos surgiram da análise dos milhões de arquivos secretos obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e por outros parceiros. Mais de 11 milhões de documentos – e-mails, transferências de dinheiro e detalhes sobre a abertura de empresas em um período que vai de 1977 a dezembro de 2015 – mostram a movimentação interna do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, um dos maiores agentes de registro de empresas de fachada do mundo.

Os arquivos revelam informações confidenciais sobre 214.488 entidades registradas por pessoas físicas e jurídicas em mais de 200 países e territórios, incluindo uma empresa criada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2007 chamada Wintris Inc.

Sigmundur David Gunnlaugsson subiu ao poder em meio a uma onda de rancor contra os bancos, no rescaldo da crise financeira islandesa que viu os três maiores bancos do país ruírem em apenas alguns dias de outubro de 2008, após anos de especulação e self-dealing (operações entre as companhias e seus controladores ou administradores fora das condições de mercado, que têm como efeito prático a expropriação do patrimônio de outros acionistas). 

Jornalista de televisão e personalidade do rádio – ele ficou na terceira colocação do ranking dos homens mais sexy numa competição de 2004 –, Gunnlaugsson liderou um grupo chamado InDefence (EmDefesa) após a falência do sistema financeiro. O grupo fazia campanha para que a Islândia rejeitasse o socorro aos credores internacionais que haviam depositado bilhões de dólares nos bancos islandeses. Em dois referendos nacionais, os eleitores apoiaram o InDefence e o sucesso da campanha ajudou a levar Gunnlaugsson e seu partido ao poder.

Em janeiro de 2009, o Partido Progressista elegeu Gunnlaugsson. Quatro anos depois, em 2013 ele se tornou o mais jovem primeiro-ministro da história do país, com 38 anos, prometendo jogar duro com os credores estrangeiros, oferecer um alívio na dívida dos mutuários da casa própria e encerrar o programa de austeridade. Como primeiro-ministro, Gunnlaugsson chegou a um acordo com os credores, em 2015, que seu antigo grupo, o InDefence, criticou como sendo muito generoso.

Os documentos da Mossack Fonseca mostram que a família de Gunnlaugsson – sem o conhecimento dos islandeses – tinha grande interesse no resultado da negociação.

Em dezembro de 2007, Gunnlaugsson e sua mulher, Anna Sigurlaug Pálsdóttir, compraram a Wintris Inc. da Mossack Fonseca por meio de uma filial em Luxemburgo do Landsbanki, um dos três bancos islandeses que quebraram. O casal usou a empresa de fachada para investir milhões de dólares em recursos herdados, segundo documento assinado em 2015 pela mulher do primeiro-ministro. Ela é filha de um rico revendedor da Toyota na Islândia, e deu a justificativa no documento após ter sido questionada pela Mossack Fonseca de onde vinha o dinheiro.

“Os bancos islandeses abriram filiais, por exemplo, em Luxemburgo e no Reino Unido, e o que eles fizeram nesses locais foi criar companhias offshore para seus clientes investirem todo tipo de ativos”, disse Rob Jonatansson, advogado que trabalha em Reykjavik e coordenou o processo para um banco menor que também faliu, sem falar especificamente sobre a Wintris. “As companhias offshore proporcionaram a oportunidade de evasão fiscal, que provavelmente foi aproveitada por alguns.”

Os arquivos da Mossack Fonseca não revelam onde a Wintris investiu seu dinheiro, mas documentos judiciais mostram que a empresa tinha aplicações significativas em títulos de cada um dos três principais bancos islandeses. Esses registros mostram a companhia como credora, em milhões de dólares, de créditos dos bancos falidos.

O conselho de liquidação do Landsbanki apresentava a Wintris como credora em novembro de 2009, com uma reivindicação de 174 milhões de coroas islandesas (US$ 1,4 milhão), aparentemente em títulos do próprio Landsbanki. A Wintris também apareceu três vezes na lista de reivindicações do banco Kaupthing, em janeiro de 2010, como detentora de títulos com valor de face de 221 milhões de coroas islandesas, o que equivale a cerca de US$ 1,8 milhão. Ela também é detentora de títulos do banco Glitnir avaliados em 114 milhões de coroas islandesas (US$ 926 mil), títulos que a Wintris vendeu a um investidor islandês após a quebra do sistema bancário, segundo uma pessoa familiarizada com a situação dos credores. (Gunnlaugsson qualifica fundos estrangeiros que compram tais títulos como “abutres”)

No total, a Wintris reivindica cerca de US$ 4 milhões em ativos dos bancos no câmbio atual e US$ 8 milhões de acordo com a cotação anterior à crise. A Wintris pode ter outros ativos, como ações, que não aparecem nos pedidos de falência dos bancos.

Gunnlaugsson era sócio da Wintris com sua mulher quando entrou para o Parlamento em abril de 2009 e continuou a esconder a empresa enquanto ascendia ao cargo de primeiro-ministro, segundo os arquivos obtidos pelo ICIJ. A não revelação desses ativos pode ter violado as regras éticas da Islândia, embora o primeiro-ministro negue isso. Os títulos em posse da Wintris ainda têm valor considerável, variando de cerca de 15% a 30% do valor de face.

No último dia de 2009, Gunnlaugsson vendeu sua metade na empresa para sua mulher por US$ 1,00, segundo documentos da Mossack Fonseca.

Em 15 de março de 2016, Anna Pálsdóttir escreveu um post no Facebook no qual revelava a existência da companhia offshore pela primeira vez. “A existência da companhia nunca foi um segredo”, afirmou ela. Pálsdóttir escreveu que abriu a Wintris em 2007, quando não estava certo se o casal iria ou não viver no exterior, e que este era um veículo de investimento para os recursos que ela havia recebido quando um negócio da família foi vendido.

O post no Facebook foi escrito quatro dias depois de a Reykjavik Media e a SVT (televisão pública da Suécia), parceiras do ICIJ, terem perguntado ao primeiro-ministro a respeito da Wintris, em entrevista gravada em vídeo. Na entrevista, a SVT pergunta a

Gunnlaugsson se alguma vez ele foi proprietário de uma companhia offshore. "Eu? Não. Bem, as empresas islandesas para as quais eu trabalhei tinham conexão com companhias offshore, até mesmo com a... qual o nome? Os sindicatos de trabalhadores. Então teria sido por meio de tais acordos, mas eu sempre declarei todos os meus ativos e os da minha família para as autoridades tributárias. Então nunca houve qualquer, qualquer ativo meu escondido em qualquer lugar. Esta é uma pergunta incomum para um político islandês. É quase como ser acusado de algo, mas eu posso confirmar que nunca escondi nenhum dos meus ativos.”

Quando indagado se sabia sobre a Wintris, Gunnlaugson disse: “Bem, é uma companhia, se me lembro corretamente, que é associada a uma das empresas das quais eu fazia parte do conselho, e ela tinha uma conta, que como eu mencionei, está na declaração de imposto de renda desde que foi aberta. Agora estou começando a me sentir um pouco estranho a respeito dessas perguntas, porque é como se você estivesse me acusando de algo quando me questiona sobre uma empresa que está na minha declaração de imposto de renda.”

Pouco depois, Gunnlaugsson levantou-se e saiu do local da entrevista.

No post de Anna Palsdottir no Facebook, quatro dias mais tarde, ela disse que os ativos da Wintris Inc. pertenciam somente a ela e que foi um erro do banco que levou Gunnlaugsson a ser considerado sócio. Quando o erro foi descoberto, em 2009, ela se tornou a única proprietária da empresa, afirmou. Os documentos da Mossack Fonseca mostram que Gunnlaugsson assinou o documento vendendo sua parte na Wintris para Palsdottir.


* Repórteres do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos

Leia mais sobre os arquivos da Mossack Fonseca no site panamapapers.icij.org 

*Repórteres do Süddeutsche Zeitung obtiveram milhões de registros de uma fonte confidencial e os compartilharam com o ICIJ e outros parceiros.

Sobre os Panama Papers no Brasil.


No fim de janeiro de 2016, a Polícia Federal deflagrou a 22ª fase da Operação Lava Jato, cujo alvo foi o escritório de advocacia e consultoria panamenho Mossack Fonseca. Os investigadores suspeitavam que a empresa teria ajudado a esconder a identidade dos verdadeiros donos de um apartamento tríplex no balneário do Guarujá (SP).
Agora, a investigação jornalística internacional Panama Papers revela que a relação da Mossack Fonseca com a Lava Jato transcende, e muito, o apartamento no litoral paulista.
A mais ampla reportagem global sobre empresas em paraísos fiscais, conduzida por 376 jornalistas de 109 veículos jornalísticos em 76 países, indica que a Mossack Fonseca criou offshores para pelo menos 57 indivíduos já publicamente relacionados ao esquema de corrupção originado na Petrobras.
Os nomes dessas pessoas são citados em uma fração do acervo de mais de 11,5 milhões de documentos relacionados à Mossack. A força-tarefa da Lava Jato só teve acesso, até agora, aos papeis do escritório brasileiro da firma panamenha. Esta reportagem do UOL fez a análise do material global, em dezenas de países.
A série Panama Papers, que começa a ser publicada neste domingo (3.abr.2016) é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. O material está sendo investigado há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.
As informações são originais, da base de dados da Mossack Fonseca. Os dados foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e compartilhados com o ICIJ. Saiba como foi feita a série Panama Papers.
Os documentos mostram a existência de, pelo menos, 107 empresas offshoreligadas a personagens da Lava Jato –firmas até agora não mencionadas pelos investigadores brasileiros que cuidam da Operação Lava Jato.
A Mossack operou para pelo menos 6 grandes empresas e famílias citadas na Lava Jato, abrindo 16 empresas offshores. Nove delas são novas para a força-tarefa das autoridades brasileiras. As offshores são ligadas à empreiteira Odebrecht e às famílias Mendes Júnior, Schahin, Queiroz Galvão, Feffer (controladora do grupo Suzano) e a Walter Faria, do Grupo Petrópolis.
Entre os políticos brasileiros citados direta ou indiretamente estão o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o usineiro e ex-deputado federal João Lyra (PTB-AL). Todos terão suas histórias detalhadas ao longo dos próximos dias nas reportagens da série Panama Papers.
Blog procurou todos os mencionados na reportagem. Parte preferiu não se manifestar. Outros negaram irregularidades. Leia aqui as respostas de cada um deles.
Ter uma empresa offshore não é ilegal, desde que a empresa seja devidamente declarada no Imposto de Renda. Leia aqui sobre as condições para um brasileiro abrir uma empresa num paraíso fiscal.
A seguir, algumas das revelações dos Panama Papers a respeito de personagens da Lava Jato:
NESTOR CERVERÓ E EDISON LOBÃO
Alguns papeis da Mossack Fonseca corroboram informações já dadas por delatores da Lava Jato, com desdobramentos sobre o mundo político. Ajudam a compreender de maneira mais ampla os tentáculos da rede de propina e dinheiro ilegal que circulou por empresas em paraísos fiscais e contas secretas no exterior.

Em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse ter recebido ordens do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para não “atrapalhar” um investimento do Petros, fundo de pensão da estatal petroleira, no banco BVA.
O BVA pertence a José Augusto Ferreira dos Santos, um “amigo” de Lobão, segundo Cerveró. Agora, os Panama Papers mostram que Ferreira é sócio de João Henriques, uma pessoa tida como operador do PMDB, em uma offshore e em uma conta na Suíça. Essa é uma informação que ainda não era de conhecimento da força-tarefa que atua a partir de Curitiba (PR).
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Documento de abertura de conta da Stingdale, de João Henriques
EDUARDO CUNHA
Os documentos revelam personagens como o banqueiro suíço David Muino, gestor de contas que pertenceriam ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e a João Henriques. Cunha nega ter contas no exterior.

Uma das contas atribuídas a Cunha foi aberta por meio da offshore Penbur Holdings, que era administrada pela Mossack Fonseca. Os registros da empresa correspondem exatamente à descrição feita na delação premiada do empresário Ricardo Pernambuco. Segundo ele, Cunha teria usado a conta em nome da Penburpara receber propina no exterior.
IDALÉCIO DE OLIVEIRA
Além de Cunha e Henriques, a empresa panamenha era responsável pelasempresas offshores de Idalécio de Oliveira, o empresário português que em 2011 vendeu áreas no Benin que resultaram em prejuízo para a Petrobras. As offshores de Idalécio foram abertas meses antes de ele fechar o acordo com a estatal.

QUEIROZ GALVÃO
Os Panama Papers mostram que pessoas mencionadas na Lava Jato agiram com grande ousadia até recentemente. Pelo menos um dos clientes da Mossack Fonseca ligado à investigação sobre propinas na Petrobras continuou recorrendo à empresa panamenha mesmo depois de a operação ter sido deflagrada no Brasil.

Carlos de Queiroz Galvão usou uma offshore da Mossack com o objetivo de abrir uma conta no exterior em junho de 2014, meses após a prisão do doleiro Alberto Yousseff, que foi o marco zero da Lava Jato. Na época, já haviam menções à empreiteira da família no âmbito da operação.
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Assinatura de Carlos de Queiroz Galvão na abertura de uma offshore
OPERADOR DE BRASÍLIA
Os documentos da série Panama Papers mostram o empresário Milton de Oliveira Lyra Filho como beneficiário da offshore Venilson Corp, aberta em 2013 no Panamá.

A empresa não foi declarada à Receita Federal do Brasil. Milton Lyra usou a offshore para abrir uma conta numa agência do UBS da Alemanha. O banco finalizou sua relação com o brasileiro alguns meses depois. Por quê? A conta de Milton estava para servir de passagem para algumas dezenas de milhões de dólares sem explicar adequadamente a origem do dinheiro.
Conhecido por suas boas relações com políticos de Brasília, Milton Lyra confirma não ter declarado a offshore ao Fisco. Mas diz desconhecer a suposta operação milionária que teria provocado o fechamento de sua conta no UBS alemão.
3% NO EXTERIOR
Os papéis da Mossack Fonseca ajudam a entender a forma como empresas e agentes brasileiros reproduzem, lá fora, o comportamento adotado dentro do país.

Um dos documentos obtidos na série Panama Papers é a minuta de um contratoentre a Queiroz Galvão, uma das empreiteiras investigadas na Lava Jato, e uma empresa offshore de um cidadão venezuelano.
Na peça, a Queiroz compromete-se a repassar ao dono da offshore 3% de tudo que receber do governo daquele país por uma obra de irrigação a título de “consultoria”. Não está claro se o contrato acabou mesmo assinado, mas seus termos são didáticos a respeito de como se davam as negociações. Eis um extrato da minuta (clique na imagem para ampliar):
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Minuta de contrato da Queiroz Galvão
ODEBRECHT: NOVAS CONTAS SECRETAS 
Segundo os investigadores da Lava Jato, o ex-executivo da Odebrecht Luiz Eduardo da Rocha Soares era responsável pelo controle de empresas offshores usadas pela multinacional de origem baiana. Ele teria utilizado os serviços da Mossack para abrir as offshores Davos Holdings Group SA, que operou de 2006 a 2012, e Crystal Research Services Pesquisa.

A mesma negociação da Davos também resultou na criação de outra offshore, aSalmet Trade Corp, controlada por Olívio Rodrigues Júnior. Ele é dono da Graco Assessoria e Consultoria Financeira e também foi alvo da fase Acarajé da Lava Jato. As 3 empresas são desconhecidas dos investigadores da força-tarefa brasileira.
Para o Ministério Público Federal, Olivio e Luiz Eduardo atuavam em conjunto na operação das contas secretas da Odebrecht. Os documentos da Mossack mostram que as empresas foram usadas para abrir contas na Suíça, no banco PKB. Registros da Lava Jato indicam que Luiz Eduardo foi pelo menos 23 vezes ao Panamá e outras 10 vezes ao Uruguai. Ele está foragido da justiça brasileira.
SCHAHIN, MENDES JÚNIOR E SUZANO

Carlos Eduardo Schahin foi diretor do antigo Banco Schahin, vendido em 2011 ao BMG. Ele é sobrinho de Milton Schahin, presidente do grupo empresarial que leva o nome da família.

Em 2014, Carlos foi condenado em 1ª instância a 4 anos de prisão por ter mantido uma offshore não declarada, chamada Hodge Hall Investments. Os documentos da Mossack mostram que Cadu, como é conhecido, teve ainda outra offshore, aLardner Investments Ltd, adquirida em set.1996.
A compra foi intermediada por um escritório de advocacia do Uruguai, o CHT Auditores y Consultores. A Lardner também tinha como sócios outros ex-executivos do Banco Schahin: Eugênio Bergamo, Robert Van Dijk e Teruo Hyai.
No caso da Mendes Júnior, a Mossack Fonseca abriu a Lanite Development em jan.1997, nas Bahamas. A empresa passou 1 ano nas gavetas da Mossack até ser adquirida por Jésus Murilo Vale Mendes, Ângelo Marcus de Lima Cota e Jefferson Eustáquio. Eles são, respectivamente, diretor-presidente, diretor financeiro e superintendente da empreiteira Mendes Júnior.
A família Feffer é controladora do grupo Suzano. Manteve pelo menos 4 empresas abertas pela Mossack Fonseca. Duas são citadas em balanços do grupo. Outras duas eram desconhecidas do público porque, segundo o grupo Suzano, estavam apenas declaradas ao Brasil. Ambas foram abertas na Bahamas: a Infonet Incorporated (jan.2000) e a Calcorp Inc (ago.2000).
Infonet era controlada por Max Feffer, então presidente do grupo, e seus filhos Daniel, David, Jorge e Ruben. Max era o sócio majoritário.
Já a Calcorp Inc pertence somente a David Feffer. Em 2009, o capital autorizado da empresa multiplicou-se. Saiu de US$ 50 mil para US$ 11 milhões. A companhia segue ativa, segundo registros da Mossack.
Integrantes da família Feffer não enfrentam acusações formais na Lava Jato, mas a força-tarefa investiga a compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras em 2007. O braço petroquímico do grupo foi vendido à estatal por um valor 3 vezes maior que o avaliado na Bovespa. A suspeita foi lançada em depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal preso pela Lava Jato.
Participaram da série Panama Papers os repórteres Fernando RodriguesAndré ShaldersMateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de ToledoDaniel BramattiRodrigo BurgarelliGuilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).


*Via Blog do Fernando Rorigues