"A Morte Prometida" - manchete do Jornal Página 12 de Buenos Aires, em 4/1/2009.
A triste manchete do Página 12, faz alusão trágica à Terra Prometida,e é desoladora. Para mim, é muito difícil criticar Israel. Eu poderia viver e trabalhar em Israel e, no entanto, não poderia viver e trabalhar na Palestina, no Irã, na Síria, na Arábia Saudita ou no Egito, por exemplo.
É difícil criticar a posição de alguém que tem de negociar com quem quer eliminá-lo da face da terra. Como entrar em um acordo com que só pensa em matá-lo, em trucidá-lo, em traí-lo, em apunhalá-lo pelas costas na primeira oportunidade?
É difícil. Eu sei que a resposta de Israel não é só para o Hamas. Nunca uma ação de Israel é contra um único alvo. Não pode ser. Não é só o Hamas que atacou Israel nos últimos meses. A hidra tem várias cabeças. Porém, o problema com as hidras é que cortada uma cabeça, outra nasce no lugar. Então, aqui surge o grande problema: como responder a um terrorista sem plantar sementes de novos terroristas? Seja qual for a resposta, a única certeza é que não é fazendo isso que Israel está fazendo agora.
Sobre isso, há um artigo excelente de Demétrio Magnoli escrito no Estado de São Paulo. Ele conclui assim sua análise:
"Israel nasceu em estado de negação - e o reproduz, sem cessar, até hoje. No início do século 20, os sionistas prometeram "uma terra sem povo a um povo sem terra". Quando, nas revoltas dos anos 30 e, novamente, na guerra de 1948-49, os árabes da Palestina se revelaram uma realidade incontornável, Israel decidiu que havia um povo, mas não uma nação, na Terra Santa. Os livros didáticos israelenses elaboraram o mito dos "beduínos do deserto", figuras efêmeras que se deslocam sem imprimir sua existência à paisagem, enquanto os líderes do Estado rotularam como "jordanianos" aqueles árabes que insistiam em existir. A presença da nação palestina se tornou inegável depois da Guerra dos Seis Dias, de 1967. Sob a ocupação israelense de Jerusalém Leste, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, os palestinos deflagraram as intifadas, oferecendo a prova política irrefutável de sua existência. Nos Acordos de Oslo, de 1993, finalmente o governo de Israel reconheceu os direitos nacionais palestinos e avançou até o estabelecimento de um governo autônomo palestino nos territórios ocupados. Mas a negação nunca terminou. Ao longo dos muitos anos do "processo de Oslo", incansavelmente, o governo e a burocracia de Israel continuaram a autorizar a implantação de novas colônias e a expansão das colônias existentes nos territórios palestinos. Mais tarde, o governo de Yasser Arafat foi declarado ilegítimo sob o argumento de que estimulava e protegia o terrorismo. Depois, o governo do Hamas, oriundo da vitória eleitoral sobre o Fatah, foi declarado ilegítimo, sob o argumento de que não admite reconhecer o Estado de Israel sem a conclusão de um tratado de paz. Hoje, Israel negocia com um governo que considera legítimo, mas que só existe por meio da negação da vontade dos palestinos, expressa nas urnas. O Hamas certamente não é um parceiro ideal para a paz. Seus "mártires" explodiram inocentes em cafés de Jerusalém e pontos de ônibus de Tel-Aviv e seu programa acalenta até hoje a utopia sanguinária da destruição do Estado de Israel. Mas esse partido fundamentalista é um componente da nação palestina - tanto quanto os partidos religiosos extremistas são componentes da nação israelense. Enquanto essa realidade não for reconhecida, o nome do jogo não será paz, mas negação."
Fonte: Demétrio Magnoli:Artigo O Jogo da Negação, O Estado de São Paulo.
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