quarta-feira, 11 de março de 2009

Efeitos da crise e a culpa de Lula.

Lula e Dilma, sem saída.E agora, Lula? Não dá mais para esconder a realidade.
Quando Lula afirmou que o tsunami financeiro chegaria no Brasil como uma marolinha, o que vimos? Uma marolinha de indignação para um tsunami de tolice.Alguns se calaram por interesse. Outros por burrice. E um terceiro grupo se deixou mover por uma espécie particular de estupidez: o pensamento mágico. Como economistas erram aqui e ali — a exemplo de meteorologistas (menos os do aquecimento global, que acertam sempre, especialmente quando erram), médicos e videntes —, houve certo receio de admitir que o Brasil está inserido na economia global. E se Lula estivesse certo? “Afinal, ele é um homem que costuma contrariar o óbvio e as estatísticas”.Isto mesmo: o mundo estava sendo sacudida pela maior crise desde 1929-1930, mas o Brasil resistiria intacto. Convinha não contrariar Lula. Afinal, quem tem 80% de popularidade pode decretar: “A crise não existe”. E, no entanto, a crise está aí.
Lula passou alguns bons anos chamando para si a responsabilidade pelo crescimento da economia mundial. Em um dos seus muitos arroubos de vulgaridade acintosa, que passam por descontração à brasileira, chegou a dizer que Deus tinha mesmo privilegiado “esse baianinho”. Ressentido porque apontassem que, afinal, apenas surfava na onda do crescimento mundial, aceitou abrir mão do mérito de ser a causa das virtudes desde que o considerassem um instrumento de Deus. Lula é assim: se não é o primeiro entre os homens, reivindica ser ao menos ser a segunda pessoa da Trindade.“Se Lula, e não a economia mundial, é a causa do crescimento, então continuaremos a crescer, certo?, já que Ele continuará no meio de nós”. Não houve uma só vez em que tenha feito aqui tal ironia que não fosse perseguido por um tsunami de estupidez adesista. Que conseguia se agigantar ainda mais a cada rodada de pesquisas que indicavam recordes sucessivos de popularidade. Arrogante, Lula se oferecia para dar conselhos ao então presidente dos EUA, George W. Bush. A propósito: há certo desconsolo no mundo, agora que o diabo se aposentou... Depois que Obama assumiu e que mais um demiurgo se viu confrontado com a realidade, o mago nativo baixo um pouco o farol da prepotência. Agora, ele não dá mais conselhos; apenas reza pelo Mago do Norte...Não! Lula não era “a” causa do crescimento, o que implica que também não é “o” responsável pela crise. Esse negócio de culpar o presidente por crises internacionais é coisa de petista, de vigarice política que manda às favas o interesse do país e mira apenas nas estratégias de tomada do poder e de ocupação do aparelho de estado. As oposições não caíram nessa — o que não quer dizer que não tenham sido, também, omissas na crítica. Omissão devidamente compartilhada com boa parte da imprensa. Que não puxou as orelhas de Lula nem mesmo quando saiu proclamando: “Compre, compre muito; se você comprar, a crise ficará longe de nós”. Acabará sendo um dos responsáveis, aí sim, por muito desempregado endividado.LULA NÃO É O RESPONSÁVEL PELA CRISE, MAS É O RESPONSÁVEL POR TER ENGANADO O PAÍS. Há dois meses, ele e Guido Mantega, ministro da Fazenda, ainda insistiam no crescimento de 4% em 2009, o que todo o mercado considerava um delírio. Mas sem alarido. Afinal, como é mesmo?, “Lula sempre contraria as estatísticas e as previsões”... QUEM NÃO ENTENDE A CRISE, OU MENTE A RESPEITO, NÃO SE PREPARA PARA ELA. Eis o ponto.O tsunami chegou, sim, ao Brasil, e Lula não pode nos deixar a herança do crescimento. Ele se foi, tragado por fatores que estão fora do alcance do Brasil. Mas há uma herança que ele nos deixa. E ela tem a sua assinatura, a sua marca inequívoca, as suas digitais. LULA NOS DEIXA A HERANÇA DO DESCONTROLE DE GASTOS. E PROMETE GASTAR AINDA MAIS. Entre 2003 e 2008, o dispêndio com pessoal e encargos sociais no Brasil saltou de R$ 98,9 bilhões para R$ 130,8 bilhões; os benefícios previdenciários pularam de R$ 139,7 bilhões para R$ 199,5 bilhões; o desembolso com custeio foi de R$ 94,5 bilhões para R$ 164,1 bilhões. Parcela considerável dessa gastança foi decidida quando o mundo já dava claros sinais de desequilíbrio. O mérito de Lula é ter atrapalhado pouco o crescimento quando o mundo crescia. E seu grande demérito é ter elevado brutalmente os gastos do governo mesmo depois de a crise ter mostrado as fuças.
A POLÍTICA MONETÁRIA É A MAIOR EVIDÊNCIA DE QUE GOVERNO E BANCO CENTRAL ESTAVAM COM UMA LEITURA ERRADA SOBRE OS EFEITOS DA CRISE FINANCEIRA NO BRASIL. Não se trata de crucificar ninguém, mas de admitir o erro. É um passo importante para que não se erre de novo. Durante alguns meses, o Brasil foi tomado por várias loucuras diferentes, algumas opostas, mas combinadas:- Lula e Mantega diziam que a crise seria amena no Brasil, que cresceria 4%;.- ao mesmo tempo, a Fazenda pressionava o BC a baixar juros;- o BC dizia que o problema não eram os juros, mas os gastos (o que também é verdade) e decidiu demonstrar que ninguém dava pitaco no Copom: "Aqui quem manda é nóis";- temerosos de que a independência do BC fosse maculada pela Fazenda, certos setores passaram a usar o acerto para justificar o erro: até que o governo não cortasse gastos, não dava para ser mais agressivo no corte dos juros. Os gastos tinham e têm de ser controlados, o que não quer dizer que os juros não tivessem num patamar irrealista.Em suma, a leitura macroeconômica estava errada. Os vários agentes do governo não entenderam a natureza da crise. E quem poderia fazer a crítica ou se ausentou (setores da oposição) com receio da popularidade de Lula ou preferiu adotar como conselheiro o clichê do avestruz: “se eu esconder a cabeça, o perigo passa”.

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