Às vésperas de divulgar o novo plano americano para o Afeganistão, o presidente Barack Obama disse ontem que o uso da força não é suficiente para acabar com a insurgência Taleban no país da Ásia Central, oito anos após a invasão liderada pelos Estados Unidos e seus aliados da Otan (aliança militar ocidental).Os esforços no Afeganistão, segundo Obama, devem ser norteados pelo objetivo de saída das tropas estrangeiras."O que não podemos fazer é pensar que só uma abordagem militar resolverá os nossos problemas. O que buscamos é uma estratégia abrangente. E é preciso que ela seja uma estratégia para a retirada. Todos sabemos que essa situação não pode durar para sempre", disse Obama ao canal de TV CBS.O presidente qualificou o Afeganistão de problema mais complexo do que o Iraque onde, segundo ele, há "uma população com muito mais acesso a educação e uma melhor infraestrutura".O tom alarmista de Obama reflete a preocupação com as múltiplas dificuldades que as forças ocidentais enfrentam no país da Ásia Central.Depois de ser varrido do poder, o Taleban retomou o controle de áreas inteiras e goza de crescente apoio popular, devido às numerosas vítimas civis de ataques da Otan.Além disso, os rebeldes se fortaleceram economicamente graças à produção e exportação de ópio, atividade que escapa do controle do incipiente governo pró-ocidental de Cabul.Alguns aspectos da nova estratégia americana para enfrentar esse cenário foram delineados na entrevista à TV CBS -o plano integral deve ser formalmente anunciado antes da cúpula sobre o Afeganistão em Haia (Holanda), no dia 31.Obama, que acusa o governo do antecessor George W. Bush (2001-09) de ter fracassado no planejamento do cenário posterior à derrubada do Taleban, prometeu ontem enfatizar o desenvolvimento social e econômico do Afeganistão.O presidente deixou claro que reforçará as parcerias de cooperação com outros países e organismos internacionais como a ONU, em sintonia com os aliados americanos que resistem em aumentar seus contingentes e pressionam por uma saída política e negociada.Ele enfatizou ainda a necessidade de intensificar o combate aos rebeldes na porosa fronteira entre Afeganistão e Paquistão, considerada um "santuário" para grupos terroristas.O presidente americano disse que buscará cooperação do aliado Paquistão na luta contra o Taleban, mas deu a entender que prosseguirá a controversa tática de atacar alvos rebeldes em território paquistanês, o que pode acirrar a irritação do governo de Islamabad.Os EUA acreditam que alguns setores das forças de segurança paquistanesas são coniventes com o Taleban.O plano americano para o Afeganistão começou a ser revelado nas últimas semanas.Em fevereiro, a Casa Branca anunciou o envio de 17 mil soldados adicionais, elevando para 55 mil o contingente americano. Com o reforço, o total de militares ocidentais no Afeganistão chegará a 72 mil.A imprensa também antecipou alguns aspectos do plano. Recente reportagem do "New York Times" disse que a Casa Branca apostará no aumento das forças de segurança afegãs. Mas, segundo o jornal, a situação é tão grave que os EUA reduziram drasticamente as expectativas em relação ao país. A criação de "um grande Estado democrático", antes prioritária, foi substituída pela meta de estabilidade, mais vaga.Outra reportagem, divulgada ontem pelo jornal britânico "The Guardian", diz que o novo plano dos EUA e seus aliados europeus para o Afeganistão inclui esvaziar o poder do presidente Hamid Karzai. Para isso, pretendem criar um cargo de primeiro-ministro e repassar dinheiro diretamente para as Províncias, em vez de para o governo central em Cabul.Em outubro, um jornal francês divulgou um telegrama do embaixador britânico no Afeganistão no qual ele defendia a instalação de um "ditador aceitável" naquele país.
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