Fernanda Montenegro chega às portas dos 80 anos (que completa em 16 de outubro) com um título irrevogável: a de grande dama do teatro, TV e cinema brasileiros, uma das maiores atrizes do País de todos os tempos, para muitos a maior. Num balanço sobre sua vida, ela diz que foi melhor do que jamais imaginou.“Nunca pensei em chegar a esse reconhecimento. Quando comecei, nos meus 16 anos, queria apenas ter um ofício, ser uma mulher independente. Não pensei que fosse deslanchar, nem em todas as coisas especiais que aconteceram na minha vida. A realidade ultrapassou qualquer fantasia”, avalia Fernanda. “Não imaginei que aos 70 anos fosse concorrer ao Oscar e ganhar o prêmio em Berlim (ambos por ‘Central do Brasil’)”, analisa. Fernanda comemora a data em um de seus lugares preferidos: o palco, onde volta a encarnar Simone de Beauvoir no monólogo ‘Viver Sem Tempos Mortos’, dirigido por Felipe Hirsch, que marca a inauguração da sala 2 do Teatro Fashion Mall, dia 10.“Nós fomos na Baixada, nos Sescs (Nova Iguaçu e São João de Meriti, além de Friburgo, Teresópolis e Anchieta, em São Paulo) e no Oi Futuro com as pessoas desesperadas querendo ingressos, debates nos quais ninguém ia embora... Foi muito especial”, lembra. “Isso mostra que não tem tema para quem mora no Primeiro Mundo, Baixada ou Paris”.Além da peça, vem aí um livro com fotos de diversos momentos da carreira de Fernanda, compiladas por sua produtora, Carmen Mello. Mas as oito décadas fecham sem grande festa. “Não vai ser sigilo porque não é um crime, mas não terá fanfarras, porque não é para isso”, garante Fernanda, que ainda se surpreende com a idade. “Penso: ‘Como é que eu cheguei até aqui? Por onde eu passei?”, conta. “É a idade depois da qual você não diz mais a idade que tem, diz: ‘Estou nos oitenta’. Não é uma festa, é um ganho. Como diria a Tônia Carrero, o contrário é morrer, então está ótimo”, diverte-se. Um dos lados ruins da passagem do tempo é a perda dos amigos. “Tem sido uma debandada. São testemunhas da sua vida que se vão. Quando você vai vivendo muito, começa a ter que contar um fato a uma pessoa para poder comentá-lo. Isso é doloroso, porque quando você conversa com alguém da sua geração, o cara já sabe onde você quer chegar”, diz.
Publicação de O Dia:http://odia.terra.com.br/
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