segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quem está dizendo a verdade?

Há séculos, filósofos debatem se é possível fazer política sem mentira. Otto von Bismarck, primeiro-ministro da Prússia no fim do século XIX, unificador da Alemanha, chegou a chanceler por meio de uma mentira. Em 1870, ele recebeu um telegrama escrito pelo embaixador da França propondo uma negociação entre as duas nações. Bismarck, defensor da guerra, alterou o texto, cortou frases inteiras e transformou o aceno de paz em uma declaração de hostilidade. Vieram a guerra, a vitória da Prússia e a unificação dos estados alemães. A revelação da farsa tempos depois maculou a imagem do herói que passou à história por defender abertamente a ideia de que um estadista precisa ter a mentira como arma legítima. Felizmente, com o triunfo das sociedades democráticas veio a intolerância com a mentira, mas nem isso tirou dela o papel central que exerce na prática política. Pergunte, por exemplo, ao presidente Lula o que ele pensa sobre o presidente do Congresso, senador José Sarney. Pergunte a alguns petistas de alto coturno o que eles realmente acham da candidatura da ministra Dilma Rousseff. As respostas serão políticas ou técnicas, mas elas mais esconderão do que revelarão. Isso é mentira? No mundo real, sim. Na política de todos os tempos, é apenas esperteza, inteligência ou habilidade. O pecado não está propriamente em mentir, mas em ser pego na mentira. Será? No Brasil de hoje, nem isso. O senador José Sarney, por exemplo, disse em plenário que nunca usou o poder para beneficiar amigos e parentes – e segue tranquilamente no comando do Senado. Alguns senadores de oposição juram de pés juntos que não existe o chamado "acordão" para esconder as irregularidades no Congresso debaixo do tapete – e seguem fazendo de conta que lutam pela moralidade. A ministra Dilma Rousseff tem como regra negar peremptoriamente qualquer fato que a envolva de forma negativa – mesmo quando as evidências se voltam totalmente contra ela. Por essa razão, talvez, mesmo quando o ônus da prova é de quem a acusa, a ministra parece estar, se não mentindo, pelo menos omitindo alguma coisa. Isso é o que se vê agora, com sua negativa de que tenha se reunido com a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira para tentar interferir em uma investigação do órgão contra a família Sarney. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, na semana passada, a ex-secretária contou que, no fim do ano passado, foi chamada ao gabinete da ministra, no Palácio do Planalto, e ela pediu que a investigação sobre as empresas da família Sarney fosse concluída rapidamente. Lina disse ter interpretado o pedido como uma ordem para encerrar o trabalho. Por ter se recusado a cumpri-la, foi demitida. Cabe a Lina provar o que afirmou e reafirmou. Esse é o ponto de vista não apenas legal, mas também ético da questão. Entretanto, do ponto de vista político, infelizmente o que vale mesmo são as aparências.
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