A greve de fome de Evo Morales, presidente da Bolívia, apenas contribui para elevar a temperatura política do país — mas é difícil enxergar alguma consequencia positiva em sua atitude.Evo é um presidente popularíssimo, com uma oposição que não ousa exibir sequer um candidato a candidato nas eleições marcadas para 6 de dezembro.Greves de fome são um recurso extremo da luta política. Por tradição, costumam ser utilizadas pela parte mais fraca de um confronto. Com frequencia, são prisioneiros que tem uma reivindicação a fazer — e não encontram outro meio de pressionar as autoridades.O problema das greves de fome é seu caráter extremo. Trata-se de uma opção duríssima. Ou a pessoa consegue o que quer ou vai em frente — colocando a própria vida em risco.Mas há um problema funcional, aqui. Evo é o presidente da República e, nesta condição, a mais alta autoridade do país. Não faz reivindicações, mas atende.Como um dos poderes constituídos, tem todas as condições de negociar e encaminhar o que considera melhor para o país.Quando um presidente resolve assumir uma atitude desse tipo — confesso que não me recordo de já ter visto coisa igual no passado — o efeito prático é produzir um ambiente de novas incertezas e confrontos. Seus eleitores e aliados ficam mobilizados em solidariedade.Os adversários também se mobilizam — pela razão oposta.
Imagine: o presidente se dispõe — ao menos em teoria — a morrer para forçar a oposição a fazer concessões que julga do interesse do país. Como seus eleitores vão reagir? Quem vão culpar?
Até onde poderão ir, em seu apoio? É imprevisível.Como observa o jornalista Jorge Gonzáles, de La Paz, que em geral exibe uma visão favorável do governo Evo, “o presidente se equivocou, porque mesmo sabendo que não tem oposição políica, continuou agindo com o mesmo roteiro oposicionista, de enfrentamento sem sentido.”Na fase atual, a greve é uma pequena festa. Fidel Castro e Hugo Chávez já fizeram declarações em apoio. Em vários pontos do país, 1400 militantes e aliados de Evo também deixaram de comer.Tenho certeza de que, quando a saúde do presidente começar a se agravar, vamos assistir a um coro de apelos pedindo que volte a alimentar-se, mesmo que nem tudo tenha sido resolvido.O resultado é que o país estará um pouco mais tenso. Os impasses políticos terão ficado mais graves e difíceis — e as portas para um confronto entre governo e oposição estarão mais abertas.Esta é a função da greve de fome de um presidente.
Imagine: o presidente se dispõe — ao menos em teoria — a morrer para forçar a oposição a fazer concessões que julga do interesse do país. Como seus eleitores vão reagir? Quem vão culpar?
Até onde poderão ir, em seu apoio? É imprevisível.Como observa o jornalista Jorge Gonzáles, de La Paz, que em geral exibe uma visão favorável do governo Evo, “o presidente se equivocou, porque mesmo sabendo que não tem oposição políica, continuou agindo com o mesmo roteiro oposicionista, de enfrentamento sem sentido.”Na fase atual, a greve é uma pequena festa. Fidel Castro e Hugo Chávez já fizeram declarações em apoio. Em vários pontos do país, 1400 militantes e aliados de Evo também deixaram de comer.Tenho certeza de que, quando a saúde do presidente começar a se agravar, vamos assistir a um coro de apelos pedindo que volte a alimentar-se, mesmo que nem tudo tenha sido resolvido.O resultado é que o país estará um pouco mais tenso. Os impasses políticos terão ficado mais graves e difíceis — e as portas para um confronto entre governo e oposição estarão mais abertas.Esta é a função da greve de fome de um presidente.
*Texto de Paulo Moreira Leite - http://colunas.epoca.globo.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário