sexta-feira, 19 de junho de 2009

Collor quer ser relator da CPI da Petrobrás

Desenrola-se nos subterrâneos do Senado uma articulação inusitada. No centro da costura está o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL).Em privado, Collor manifestou o desejo de assumir a função de relator da CPI da Petrobras, cuja instalação vem sendo adiada há três semanas. Obteve o apoio instantâneo das cúpulas do PSDB e do DEM. E tenta atrair o suporte de Renan Calheiros (AL), líder do PMDB. Collor tateia uma brecha que se abriu graças às rusgas que envenenam as relações de Renan com Aloizio Mercadante (SP), líder do PT. Guiados pelo Planalto, Renan e Mercadante puseram-se de acordo quanto à conveniência de o governo controlar os dois postos de comando da CPI. Acertou-se que o PT ficaria com a presidência e o PMDB com a relatoria. A desavença aflorou na hora de definir os nomes. Mercadante sugeriu Romero Jucá (PMDB-RR), líder de Lula no Senado, para a cadeira de relator. O Planalto comprou a idéia. Renan torceu o nariz. Governista como Jucá e aliado de Renan, Collor enxergou no impasse a oportunidade para apresentar-se como alternativa. Uma opção que, levada aos ouvidos dos operadores do PSDB e do DEM, despertou interesse inaudito. Na oposição, Collor é visto como um governista “diferenciado”. Avalia-se que o ex-presidente do impeachment deseja restaurar a biografia. Imagina-se que, a despeito do apoio que dá a Lula, não vai à CPI com o ânimo de abafar as investigações a qualquer preço. Ao menos da boca pra fora, as manifestações de Collor tonificam a crença da oposição. No final do mês passado, em entrevista ao blog, o senador dissera: “Eu não farei parte de nenhuma tropa de choque na CPI”.
A oposição dispõe de três votos na CPI. Com o de Collor, quatro. O PMDB tem três –o de Jucá e outros dois, integralmente alinhados com Renan. Na hipótese de o líder do PMDB se acertar com Collor, o ex-presidente amealharia pelo menos seis dos 11 votos disponíveis na CPI. Resta saber como vai se comportar Renan. Nos últimos dias, o mandachuva do PMDB passou a raciocinar com a balança. Num prato, acomodou a CPI da Petrobras. Noutro, a fogueira moral em que ardem o aliado Sarney, a estrutura burocrática do Senado e ele próprio.Em tese, conviria a Renan apressar a instalação da CPI da Petrobras. As mazelas do Senado deixariam de monopolizar as atenções. Receia, porém, desagradar Lula, que hipotecou apoio irrestrito a Sarney, um personagem que “não pode ser tratado como pessoa comum”.Em conversa com Renan, o ministro José Múcio (Articulação Política) reiterou: ao governo interessa empurrar a CPI com a barriga. A oposição já recuou na CPI das ONGs. Arthur Virgílio (PSDB-AM) topou devolver a relatoria da investigação ongueira ao relator-destituído Ignácio Arruda (PCdoB-CE). A bola voltou aos pés dos líderes do consórcio governista. Que permanecem embolados no meio do campo. Jucá sugeriu a data de 30 de junho para o início da investigação da Petrobras. A oposição gostaria que fosse antes. Mas não tem votos para se impor. Renan ainda não se comprometeu com a data. Por ora, a única novidade levada à panela em que a CPI é cozinhada em banho-maria é o nome de Collor.

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