Reinaldo Azevedo
O governador de Minas, Aécio Neves, está de novo em todos os sites noticiosos e deve estar amanhã nos jornais defendendo a realização de prévias no PSDB para definir o candidato do partido à Presidência. É um direito seu, claro. Certamente considera que o processo lhe seria mais favorável do que o que chama decisão da cúpula. Cumpre fazer apenas uma pequena correção. Se um partido escolhe como candidato aquele que as pesquisas indicam ser mais viável, não é a “cacicaria” que decidiu, mas um colégio bastante apreciável na democracia: os eleitores. Pode-se é fazer outra pergunta: um colégio eleitoral, qualquer que fosse ele, que não representasse a vontade da maioria seria mais democrático?Reitero: Aécio reúne certamente as condições para lutar pelas prévias. Não precisamos é concordar com maus argumentos. Segundo ele, nas duas vezes em que o PSDB decidiu sem prévias, o partido perdeu. E eu lembraria que, nas duas outras, ganhou. Eu poderia propor uma análise nova: nas duas vezes em que disputou a eleição unido, ganhou; nas duas vezes em que se dividiu, perdeu. Que tal? Em 2002, muito já se escreveu sobre isso, nem o Espírito Santo tiraria a eleição de Lula. Na disputa seguinte, depois de todos os erros cometidos pelos tucanos ao longo de 2005 e 2006 — a começar pela leniência do partido com o valerioduto mineiro, que o PT, de modo impróprio, chamou de “mensalão mineiro”; abestalhado, o partido engoliu a mentira —, o que era vantagem virou desvantagem. Não foram os caciques que escolheram Alckmin candidato, governador Aécio. Foi a ameaça de racha. E não custa lembrar: preferiu-se o candidato que tinha metade dos votos.Não parece que vicioso pode ser o método que indique quem não é favorito? Ou esse não é um modo legítimo de ver as coisas?A essa altura, considero que Aécio já foi longe demais para recuar. Se não houver prévias, não há como não se sentir derrotado. E aí se torna verossímil, embora não necessariamente verdadeira, a história de que foi vítima de algum rolo compressor. Teria uma licença para, permanecendo no PSDB, não se engajar na disputa. Pois que se façam as prévias então. O vencedor fica com as batatas — em Machado de Assis, sempre tomei a frase por sua, vou brincar, "literalidade metafórica": o vencedor realmente leva o benefício. Só que o benefício de ser candidato não se confunde com o benefício da vitória. Contra as pesquisas, Alckmin ficou com as batatas em 2006. Mas Lula levou o batatal todo.Na liderança da Câmara ou na disputa presidencial, a imprensa já tem farto material para se divertir e se distrair com as divisões tucanas. Se houver prévias, será, então, um mar de notícias e acusações de pequenos golpes e deslealdades. Mais um pouco, isso se torna uma tradição de... quem não chega lá. No campo oposto, o PT conseguiu a fantástica magia de fazer o PAC superar a soma estratosférica de R$ 1 trilhão. E Lula ainda ironiza: "Quem tem pressa na sucessão são meus adversários".E o que diz a respeito da magia do PAC os líderes do maior partido de oposição? Ora, nada! Estão muito ocupados em brigar entre si. Machado não estava preparado para o PSDB: ao vencedor, a derrota!
Nenhum comentário:
Postar um comentário