quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A marolinha atinge empregos no Brasil



Vinicius Torres

Na coluna de hoje, na Folha, escrevo sobre a redução do número de novos empregos formais, que começou de maneira generalizada já em outubro, atingindo especialmente indústrias como a de alimentos e a de vestuário (mais ainda que a metalúrgica e de transporte). Os dados de dezembro mostraram que aquela parada brusca não foi acidental. Afetou tanto setores que dependem mais de crédito e de exportações como os que vendem bens de menos valor no mercado doméstico; afetou indústria, comércio e serviços.
Trechos:
"De setembro para outubro, no início do grande massacre de vagas, os setores que mais acusaram o golpe foram o de alimentos e de calçados. A indústria mecânica vinha logo a seguir e, os demais setores, material de transporte inclusive, reduziram a criação de postos de trabalho mais ou menos no mesmo ritmo (medida tomada em relação ao estoque total de empregados formais).
Decerto no caso do grupo "tecidos, vestuários e calçados", da pesquisa de comércio do IBGE, a queda na vendas já era forte em outubro, de 5,7%. Mas bem inferior ao desastre nos bens duráveis. Foi nessas indústrias que o contágio externo chegou quase sem baldeações. Ou melhor, a seca de crédito global e a barbeiragem cambial de algumas megaempresas brasileiras bateu nos bancos daqui, que cortaram empréstimos e elevaram os juros.
Mas alimentos, calçados e roupas não são os setores que mais dependem de crédito, para dizer o menos.
Em setembro, o mercado formal de trabalho ainda não acusava efeitos da crise externa. Os dados sobre emprego do IBGE ainda eram positivos. Havia especulações sobre o esgotamento da capacidade das famílias de se endividar, mas a massa salarial crescia e a inadimplência estava mais do que comportada.
Mas, de setembro para outubro, a baixa na oferta de emprego formal foi brusca e generalizada, na indústria, no comércio e nos serviços. A redução na criação de vagas nessa virada de trimestre, típica e que flutuara em torno de 29% desde 2004, foi a 78% em 2008. O que houve?
A taxa real de juros subira, sim. Mas tal fator não tem o poder de arrasar o ânimo empresarial de hora para outra. A catástrofe de setembro na economia dos países ricos pode ter apagado a esperança restante de "descolamento" da crise mundial. O "choque de confiança" foi bruto, mas ainda espanta que tenha ocorrido de maneira tão imediata, na acepção precisa do termo. Fabricantes de alimentos, por exemplo, pararam de contratar de maneira brusca antes que sentissem a deterioração da renda das famílias e do crédito. Os dados de novembro sobre a indústria (CNI, IBGE) e comércio, e os dados do Caged de dezembro apenas reproduzem de modo ampliado o que ficara evidente em outubro."
Escrito por Vinicius Torres Freire às 15h42
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