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domingo, 18 de janeiro de 2009
E se... Obama fosse brasileiro
Isolda Herculano
Estive pensando aqui comigo: se acaso Barack Hussein Obama tivesse nascido no Brasil, sua possível condição de negro à frente da presidência da República poderia ser amplamente contestada. Primeiro porque o garoto Obama, filho de mãe branca, teria a opção de se autodenominar entre as subdivisões raciais brasileiras: mulato, pardo, mestiço etc. Explico melhor, para não parecer racista.
Um dos grandes defeitos do povo brasileiro é o medo da própria negritude. E não que seja infundada a razão para o tanto temor: ser negro no nosso país é enfrentar o preconceito a uma distância bem mais curta do que julgamos que ela possa chegar. Já escutei (no ônibus, pra variar) um menino negro dizer “eu sou o mais branco lá de casa”, como se aquilo lhe rendesse um status inalcançável pelos irmãos de sangue e raça. As variações “negão” e “neguinho”, usualmente, também aludem à intensidade da cor da pele – para que se perpetue a diferença entre ser mais e menos negro.
Nos Estados Unidos não há esse tipo de diferenciação: negros são negros, jamais mulatos (palavra derivada de “mula”, inclusive). É claro que o preconceito por lá também existe, e explícito quando bairros inteiros são reservados à raça negra e aos latino-americanos, para dar dois exemplos bem comuns. Já no Brasil, a ascensão social é capaz de embranquecer a descendência negra de qualquer um; alguns negros se casam com brancas (geralmente louras) para dar início ao processo de clareamento da própria família; e além disso tudo, o Censo 2004, mostrou uma realidade de 93 milhões de brasileiros se considerando brancos, enquanto apenas 11 milhões se diziam negros. Uma ilusão de pernas curtíssimas.
Como se pode perceber, um Obama nascido no Brasil teria todas as chances de ser descaracterizado da raça negra sob a égide do cidadão pardo ou coisa que o valha. A não ser que precisasse entrar na universidade usando o discutível sistema de cotas. Mas aí já é outra história.
Isolda Herculano, 24 anos, é jornalista baiana radicada em Maceió. Escreve desde sempre, mas foi quando conheceu os blogs, em 2004, que pôde se aventurar pelo mundo das crônicas, sob a influência direta dos Rubens - Braga e Fonseca. Ela tem dois blogs: www.malajornalistica.blogger.com.br e www.isolda.blogger.com.br
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