O senador Antonio Carlos Magalhães inaugurou a Lavanderia Lula.
Em 2003, acusado de grampear telefones de adversários políticos na Bahia, correu o risco de ser julgado pelo Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro. Apoiara a eleição de Lula um ano antes.
Lula retribuiu salvando-lhe o mandato. Desde então a lavandeira é um sucesso.
O que Lula fez por ACM não impediu que os dois quase saíssem no tapa anos mais tarde.
ACM sentiu seu império baiano ameaçado pelo PT de Jacques Wagner. Soltou os cachorros em cima de Lula. Que respondeu chamando-o de rato e suando a camisa para eleger Wagner.
Os dois só voltaram a se encontrar quando ACM estava em um hospital de São Paulo a poucos dias de morrer. Lula fez questão de visitá-lo.
Entre ACM e José Sarney (PMDB-AP), o mais recente freguês da lavanderia, Lula meteu as mãos em muito pano sujo.
O êxito dele não consiste em transformar pano sujo em pano imaculado. Por ora, ainda não opera milagres. Amanhã, nunca se sabe.
Mas Lula sempre tenta dar um jeito de impedir que pano encardido acabe jogado no lixo por imprestável. Na maioria das vezes é bem-sucedido.
Lula não discrimina entre aliados fiéis, aliados nem tão confiáveis assim, adversários moderados e adversários históricos.
Se vir alguma vantagem em enxaguá-los até que recuperem parte da pureza perdida ou se livrem de nódoas comprometedoras, ele se entrega à tarefa com gosto.
Do controverso Roberto Jefferson, na época presidente do PTB, Lula disse que se tratava de um homem a quem daria um cheque em branco.
O homem merecedor de tamanha prova de confiança deflagrou o escândalo que quase derrubou o governo.
Em meio ao escândalo, informado sobre a disposição do publicitário Marcos Valério de contar tudo o que sabia, um Lula alterado por algumas doses a mais de bebida chegou a falar em renúncia.
Foi um Deus nos acuda. Lula só sossegou quando lhe garantiram que Valério estava sob controle. Está até hoje.
Procurem algo de duro dito depois por Lula a respeito de Jefferson. É possível que encontrem um elogio.
Nada encontrarão contra José Dirceu, apontado pelo Procurador Geral da República como o chefe da “sofisticada organização criminosa” que quis se apoderar de parte do aparelho do Estado.
Lula escalou Dirceu para pagar a conta do mensalão. Para compensar, lava a biografia do amigo toda vez que julga necessário.
Foi quase pedindo desculpas públicas a Antonio Palocci que Lula o demitiu do Ministério da Fazenda forçado pelo caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira.
Palocci jurou diante de uma CPI que jamais frequentara certa mansão suspeita de Brasília.
O caseiro jurou tê-lo visto por lá uma dezena de vezes. Lula chamou Palocci de “meu irmão”. E sonha com o dia de tê-lo de volta no governo.
E o “nosso Delúbio”, hein?
E Romero Jucá que ofereceu fazendas inexistentes como garantia de um empréstimo tomado em banco oficial? Lula saiu em defesa dos dois.
Ficou rouco de repetir: “Ninguém é culpado até ser condenado pela Justiça”.
Ao pé da letra, de acordo. Mas o que se espera de um presidente não é o mesmo que se espera de um juiz. Presidente deve satisfações à sociedade. Juiz, somente à sua consciência.
Um mau exemplo dado por um juiz nem de longe equivale a um mau exemplo dado pela pessoa mais observada e admirada pelos brasileiros.
Foi um bom exemplo o empenho de Lula em manter Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado? Quase conseguiu.
Lula dá um bom exemplo quando chama Sarney de “pessoa incomum” e obriga o PT a sustentá-lo no cargo?
A Lavanderia Lula presta inestimáveis serviços ao seu fundador e único dono, e também aos que dela precisam.
Mas bem não faz – pelo contrário - ao avanço entre nós de uma prática política decente e justa, capaz de atrair gente interessada em servir à coisa pública, e não em se servir dela.
Essa será a herança maldita de Lula.
Em 2003, acusado de grampear telefones de adversários políticos na Bahia, correu o risco de ser julgado pelo Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro. Apoiara a eleição de Lula um ano antes.
Lula retribuiu salvando-lhe o mandato. Desde então a lavandeira é um sucesso.
O que Lula fez por ACM não impediu que os dois quase saíssem no tapa anos mais tarde.
ACM sentiu seu império baiano ameaçado pelo PT de Jacques Wagner. Soltou os cachorros em cima de Lula. Que respondeu chamando-o de rato e suando a camisa para eleger Wagner.
Os dois só voltaram a se encontrar quando ACM estava em um hospital de São Paulo a poucos dias de morrer. Lula fez questão de visitá-lo.
Entre ACM e José Sarney (PMDB-AP), o mais recente freguês da lavanderia, Lula meteu as mãos em muito pano sujo.
O êxito dele não consiste em transformar pano sujo em pano imaculado. Por ora, ainda não opera milagres. Amanhã, nunca se sabe.
Mas Lula sempre tenta dar um jeito de impedir que pano encardido acabe jogado no lixo por imprestável. Na maioria das vezes é bem-sucedido.
Lula não discrimina entre aliados fiéis, aliados nem tão confiáveis assim, adversários moderados e adversários históricos.
Se vir alguma vantagem em enxaguá-los até que recuperem parte da pureza perdida ou se livrem de nódoas comprometedoras, ele se entrega à tarefa com gosto.
Do controverso Roberto Jefferson, na época presidente do PTB, Lula disse que se tratava de um homem a quem daria um cheque em branco.
O homem merecedor de tamanha prova de confiança deflagrou o escândalo que quase derrubou o governo.
Em meio ao escândalo, informado sobre a disposição do publicitário Marcos Valério de contar tudo o que sabia, um Lula alterado por algumas doses a mais de bebida chegou a falar em renúncia.
Foi um Deus nos acuda. Lula só sossegou quando lhe garantiram que Valério estava sob controle. Está até hoje.
Procurem algo de duro dito depois por Lula a respeito de Jefferson. É possível que encontrem um elogio.
Nada encontrarão contra José Dirceu, apontado pelo Procurador Geral da República como o chefe da “sofisticada organização criminosa” que quis se apoderar de parte do aparelho do Estado.
Lula escalou Dirceu para pagar a conta do mensalão. Para compensar, lava a biografia do amigo toda vez que julga necessário.
Foi quase pedindo desculpas públicas a Antonio Palocci que Lula o demitiu do Ministério da Fazenda forçado pelo caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira.
Palocci jurou diante de uma CPI que jamais frequentara certa mansão suspeita de Brasília.
O caseiro jurou tê-lo visto por lá uma dezena de vezes. Lula chamou Palocci de “meu irmão”. E sonha com o dia de tê-lo de volta no governo.
E o “nosso Delúbio”, hein?
E Romero Jucá que ofereceu fazendas inexistentes como garantia de um empréstimo tomado em banco oficial? Lula saiu em defesa dos dois.
Ficou rouco de repetir: “Ninguém é culpado até ser condenado pela Justiça”.
Ao pé da letra, de acordo. Mas o que se espera de um presidente não é o mesmo que se espera de um juiz. Presidente deve satisfações à sociedade. Juiz, somente à sua consciência.
Um mau exemplo dado por um juiz nem de longe equivale a um mau exemplo dado pela pessoa mais observada e admirada pelos brasileiros.
Foi um bom exemplo o empenho de Lula em manter Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado? Quase conseguiu.
Lula dá um bom exemplo quando chama Sarney de “pessoa incomum” e obriga o PT a sustentá-lo no cargo?
A Lavanderia Lula presta inestimáveis serviços ao seu fundador e único dono, e também aos que dela precisam.
Mas bem não faz – pelo contrário - ao avanço entre nós de uma prática política decente e justa, capaz de atrair gente interessada em servir à coisa pública, e não em se servir dela.
Essa será a herança maldita de Lula.
*Texto de Ricardo Noblat em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
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