quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A omissão dos professores.

A cada vez que vejo a baderna promovida no Rio pelo sindicato dos professores, com o apoio dos black blocs, chego a sentir vergonha. Nem é tanto a tal vergonha alheia (no caso, das lideranças do sindicato). A imprensa, com as exceções de praxe, está fazendo um trabalho lastimável nesse caso, ainda contaminada pelo espírito bronco das ruas, que não nos deu nada e ainda nos tirou o que restava de civilidade no trato de questões, vá lá, sociais. E isso é muito constrangedor. Quando penso que aquela gente arruaceira, truculenta e ignorante responde pela educação de crianças e jovens, sou tomado por certo desalento, por certa melancolia. Dou-me, então, conta de como estamos longe, como sociedade, de dar uma resposta para um problema que todos, à direita, à esquerda e ao centro, consideram definidor de nosso futuro: a educação.
A VEJA.com publica uma entrevista de Claudia Costin, secretária municipal de Educação. Trata-se de uma profissional séria, compenetrada, que não se entrega a chicanas. Ali estão sintetizados os pontos principais do plano de carreira enviado à Câmara Municipal pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), já aprovado. É um bom plano — dos melhores que há no país.
O sindicato, tomado por extremistas de esquerda, notadamente o PSOL (do santinho do pau oco Marcelo Freixo, o queridinho de intelectuais da envergadura de Caetano Veloso, Chico Buarque e Wagner Moura), com o apoio indisfarçado do PT, partiu para a guerra. Mantém uma greve (parcial, é bom deixar claro) irresponsável, promove manifestações que incitam a violência e se associa, como evidenciam os cartazes, aos bandidos mascarados dos black blocs (aqueles que “fazem parte”, como diz Caetano). A Polícia Militar do Rio de Janeiro, sob o comando do antes santificado (JAMAIS POR MIM!!!) José Mariano Beltrame, dá o seu show particular de incompetência e truculência. Eu sei: é só uma minoria dos professores que protagoniza aquelas baixarias; da mesma sorte, é uma minoria da PM que envergonha a farda. Mas são eles a conduzir a narrativa, a dar o tom do conflito. E o bom senso que dane!
A cobertura da imprensa, especialmente das TVs, chega a ser asquerosa. Patrulhada por todos os lados, boa parte do jornalismo brasileiro está, literalmente, fora do eixo, tomada pela estética Ninja e pelo padrão moral de Capilé. Se o outro-ladismo, na forma como era exercido, já era perverso, o alinhamento ora em curso com todo mundo que sai gritando na rua expressa um entendimento tosco, demagógico e vigarista do “direito à manifestação”. Direito que é exercido de maneira absoluta, ignorando o conjunto de outras garantias ao qual ele próprio pertence, direito não é. Trata-se, isto sim, de exercício de truculência. Não compreender esse primado básico corresponde a não acatar os próprios fundamentos do regime democrático. “Regime democrático”? Mas do que estou a falar aqui? Os heróis de Freixo, Chico, Caetano e Moura são “socialistas”, ora bolas! Logo, não reconhecem nem mesmo a existência do “outro”. São eles os donos da história.
Tudo se esgota, no fim das contas, em dar a versão de “um lado” (os professores) e dos outros lados (a Prefeitura e, quando há pauleira, a polícia). Até agora, por incrível que possa parecer, por mais escandaloso que se nos afigure, ninguém se interessou pela história dos estudantes, aqueles que estão sem aula, cujas vidas são efetivamente prejudicadas pelo sectarismo desses barnabés da porrada, do confronto, do conflito. Alegam isso e aquilo contra o plano — desculpas escancaradamente ocas, intelectualmente delinquentes —, mas não aceitam mesmo, e este é o ponto central de sua recusa, a premiação por mérito. Exercitam ainda aquela arenga cretina de que políticas que premiam o desempenho violam princípios sagrados da educação.
Reverentes ao espírito truculento das ruas, com medo da gritaria de meia dúzia de celerados que saem por aí a acusar “a mídia” por todos os males da humanidade, esses setores da imprensa de que falo acabam, ao fim e ao cabo, investindo no obscurantismo, na estupidez e na ignorância. Trata-se, antes de mais nada, de um exercício de covardia e também de crueldade de classe. “Crueldade de classe, Reinaldo Azevedo?” Sim! Afinal de contas, os filhos dos socialistas abastados do Leblon, de Copacabana e de Ipanema estão imunes aos malefícios decorrentes dos desatinos desses trogloditas. Estudam em escolas privadas. Os bem-pensantes, munidos de sua má consciência, podem tomar o seu champanhe, sentindo a brisa do mar, cientes de que fizeram a coisa certa ao se alinhar com os supostos “interesses do povo”. Isso é uma caricatura? É, sim! Mas a “militância” que toma conta desse jornalismo também é caricatural.
“Interesses do povo”? Representados por quem? Pelos extremistas do PSOL e grupelhos afins? Não, senhores! O “povo” mesmo está lá nos cafundós do judas, sem aula, entregue a seu próprio destino, sem direito a uma escola que contribua para que se livre da pobreza, do atraso e dos dissabores de uma vida acanhada. O Brasil tem um crescimento mixuruca, políticas públicas mixurucas e um governo mixuruca. Também o jornalismo dá exemplos, com frequência espantosa, de mixuruquice. Está abrindo mão de pensar. Está abrindo mão de fundamentos básicos do estado democrático e de direito, os mesmos que, diga-se, o legitimam. Está se deixando pautar por aqueles que a detestam e que não o reconhecem como apanágio das sociedades livres.
Tudo isso poderia ser irrelevante, mas não é. Os sindicatos de professores são hoje um dos principais entraves a impedir uma reforma da educação que possa tornar o Brasil (e olhem que não seria para já…) ao menos… contemporâneo. País afora, a categoria é assombrada por corporativistas violentos, por partidários de ideologias mortas, por militantes de teses estapafúrdias, que não vigoram em país nenhum do mundo.
E que se note: o salário-base por 40 horas semanais dos professores do Rio passa a ser de R$ 4.147,00. Segundo dados do IBGE de maio deste ano, o salário médio do brasileiro é de R$ 1.792,61. O dos profissionais com ensino superior (17,1% dos trabalhadores) é de R$ 4.135,06. O dos sem-diploma (82,9%), R$ 1.294,70. Não se pode, pois, nem mesmo condescender com a hipótese de que os greveiros ganhem um salário de fome. Basta olhar à volta. De resto, as pessoas sempre são livres para concluir que a carreira que abraçaram não está mais adequada às suas ambições. Uma coisa é certa: os alunos não podem pagar por isso.
Chegou a hora de o jornalismo descobrir que o conflito que envolve professores extremistas, policiais despreparados e banditismo de arruaceiros esconde as verdadeiras vítimas dos desatinos: os estudantes. Há anos escrevo o que agora reitero: o patrão do servidor público é o povo, e a mercadoria que ele produz é o serviço essencial que presta. Quando decide fazer greve, quem está do outro lado não é o “capitalista, que vai deixar de ter lucro”, MAS O CIDADÃO, QUE VAI DEIXAR DE EXERCER UM DIREITO.
Chega dessa pantomima! Esses sindicalistas precisam de um pouco de vergonha na cara. E os setores da imprensa que fazem uma cobertura demagógica e covarde também!
*Texto por Reinaldo Azevedo

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