O governo Dilma Rousseff nem começou e a briga por espaço já desencadeou a primeira crise entre PT e PMDB. Ontem, um grupo de cinco dos dez principais partidos da base de Dilma, capitaneados pelo PMDB, anunciou a formação de um bloco parlamentar em 2011. Desde já, no entanto, avisou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), o bloco também atuará em conjunto para defender o espaço e os interesses das legendas na composição ministerial. O PT reagiu ao megabloco, com seus líderes classificando a iniciativa de "gesto hostil" e criticando qualquer tentativa de pressionar a presidente Dilma na formação do Ministério.
Segundo Henrique Alves, o megabloco será formado pelo PMDB, PP, PR, PTB e PSC, e terá 202 deputados na próxima legislatura. No fim da noite, porém, o líder do PP na Câmara, João Pizzolatti (SC), negou ter negociado com o PMDB. Mas, como os demais partidos, defendeu a manutenção e o respeito ao espaço atual ocupado pelas legendas no governo Dilma. Se o PP, de fato, não fizer parte do acordo, o bloco perderá 42 deputados e terá apenas 160.
Apesar de insistir que o objetivo não é criar problemas para o governo Dilma, Henrique Alves explica que o compromisso é mostrar à presidente eleita "um jogo arrumado", evitando que interesses individuais se sobreponham aos partidários.
Ele confirmou que a premissa do grupo é manter os espaços que os cinco partidos têm hoje no governo Lula e não aceitar atitudes de aliados que querem tomar ministérios "que estão sob comando de outras legendas". - Esse bloco é para ajudar a organização do tabuleiro (ministerial) e evitar xeque-mate. A premissa é ninguém tomar nada de ninguém. Pedimos apenas respeito para que a presidente possa discutir a formação do Ministério com tranquilidade - disse Henrique Alves.
O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), reagiu com surpresa à formação do bloco, dizendo que só soube pela imprensa. Ele defendeu o fato de a presidente Dilma montar seu Ministério sem pressões.
- Vamos nos colocar contra pressões da seguinte natureza: quem está fica onde está. É deselegante com quem ganhou o governo. A presidente Dilma não pode ser pressionada a ter um prato pronto, um prato feito - disse Vaccarezza. - Se é um bloco para defender posições, tudo bem, é natural. Se for para burlar resultado eleitoral, aí é hostilidade. Mas não acredito que estejam com este ânimo.
Manifestando-se surpreso com a ação do PMDB e outros aliados, o líder do PT, deputado Fernando Ferro (PE), classificou a iniciativa como um gesto hostil e uma tentativa de tirar do PT a Presidência da Câmara:
- Vou conversar com o líder do PMDB para saber qual o objetivo. Mas isso não combina com uma coalizão. Para quem é aliado, isso é muito estranho!
- Vou conversar com o líder do PMDB para saber qual o objetivo. Mas isso não combina com uma coalizão. Para quem é aliado, isso é muito estranho!
O vice-presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que já sabia da intenção de formar o megabloco, mas condenou o que considerou um movimento brusco por parte de aliados.
Além da ação imediata na defesa dos espaços de governo, o bloco poderá influenciar na ocupação de cargos da Mesa Diretora, como a Presidência, e os comandos das comissões, numa tentativa de isolar o PT. Henrique Alves negou essa intenção:
- Defendemos a eleição de um presidente de consenso.
Entre ospartidos de esquerda ainda não há definição sobre blocos. O líder do PSB, Rodrigo Rollemberg (DF), disse que seu partido, PDT e PCdoB conversam sobre a recriação do bloquinho:
- O PMDB mostrou a que veio. Vai jogar pesado. Se formalizarem, terão o maior bloco da Casa e, para se igualar, o PT teria que ter o apoio da oposição.
Fonte : Isabel Braga e Gerson Camarotti em O Globo - 17/11/2010
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