segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A mala do ano ou a musa do apagão


De Artur Xexéo em O Globo:
Quem disse que Dilma Roussef não é boa de voto? Pois dobre a língua. Depois de uma carreira política inteirinha construída em gabinetes, a ministra participa de sua primeira eleição verdadeiramente democrática e sai vencedora. Este ano não teve para mais ninguém. Deu Dilma na cabeça.Ela é a minha, a sua, a nossa Mala do Ano. Justiça seja feita: Dilma fez uma campanha impecável. Quando o concurso mal tinha começado, quando ainda não havia favoritos, Dilma arrumou um apagão,deixou o país quase todo às escuras e ainda deu uma série de declarações minimizando o desastre. Não deu outra. Ficou em primeiro lugar desde a primeira apuração. E, agora, quase no finzinho, quando seu nome já estava praticamente sendo superado por outras malas de destaque, Dilma e o petróleoela foi a Copenhage para dizer que “o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento”. Dilma ganhou o pódio definitivamente. Daqui para a frente, ela pode perder todas as outras eleições a que se candidatar. Já tem um vitória. É a mala do ano, primeira e única. Pesada e sem rodinha.A vitória por maioria absoluta de Dilma só foi ameaçada pela força que Caetano Veloso tem nessa área. Ninguém aguenta mais ouvir Caetano tendo opinião formada sobre tudo. E, nas poucas vezes neste 2009 em que o leitor pensou que passaria uma semana inteira sem ouvir falar em Caetano Veloso, o cantor dava um jeito de levar um tombo no palco, e começava tudo outra vez. O número de votos no baiano, por sinal, foi uma síntese da predileção do eleitorado pelo voto na baianada da música brasileira. Caetano tornou-se vice campeão, mas ele representa Claudia Leytteh (sei que ela não é baiana de nascimento, mas é baiana na alma), Dilma militante da POLOP e da VAR-PalmaresIvete Sangalo, Carlinhos Brown... É o voto-axé. É a mala regional. O terceiro posto ficou com um personagem que ainda não tinha aparecido em nossa lista anual. Ele é empresário, ele é rico, ele cuida da cidade, ele é mala: Eike Batista, o homem dadivoso que Madonna ainda não tinha encontrado em lugar algum do mundo. Vamos combinar que, desde os tempos em que tinha o nome na coleira da Luma, Eike merecia estar no Top Ten. Mas escapou. No entanto, a superexposição — como todo mundo sabe, superexposição é credencial VIP para entrar na lista dos dez mais — dos últimos tempos não permite que ele fique de fora. Eike conquistou um honroso terceiro lugar. É mala de rico. É uma Louis Vuitton legítima.No quarto lugar apareceu uma mala que tinha tudo para ser a mais votada do ano, mas dividiu a preferência do eleitorado com o campeão. É o ministro Edison Lobão, aquele que, quando soube do apagão, achou que nem era com ele, que não tinha nada a ver com aquilo.Como já vimos, o apagão influenciou muito os votos deste ano. Mas, falando sério, é uma mala sem charme. Lobão é uma mala apagada.(...)

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